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Pesca do Atum no Brasil. Saiba como acontece

Pesca do Atum no Brasil

A pesca do atum no Brasil não é uma tradição. Este é um tipo de pescaria que acontece em alto mar, cujos pesqueiros normalmente são pequenos navios dotados de alta tecnologia. Mas, antes de falar da pesca no Brasil, que tal saber mais a respeito do peixe?

Os tipos de Atum

O Atum é bastante singular. Existem oito tipos de atum. O mais procurado é o atum azul. Isso acontece porque sua carne é mais gordurosa, e assim, é a mais apreciada para se fazer sushi.  Trata-se de um ‘monstro’ marinho que pode atingir até 3 metros de comprimento, pesar cerca de uma tonelada, atingir até 70 km por hora quando arranca atrás de sua presa. Ele vive entre 20 e 30 anos.

Ao contrário dos outros peixes, o atum tem sangue quente

Outra peculiaridade destes incríveis predadores é que os atuns são peixes de sangue quente, o que permite que procurem suas presas até em áreas subpolares. E muitas vezes em profundidades maiores que 200 metros. Eles podem mergulhar até 900 metros.

Foto: igualdad animal

Atum: mais que um peixe, um mito, um símbolo vivo dos oceanos

Seus cardumes normalmente acompanham as correntes marinhas, sendo encontrados em todos os oceanos. O atum é mais que um peixe qualquer. É um símbolo vivo dos oceanos. Quando se pesquisa  sobre ele, percebe-se  a admiração que desperta em todo o mundo.

Não há nos mares deste planeta nenhum peixe mais magnífico que o atum-azul. Ele pode atingir 3,65 metros de comprimento, pesar até 680 quilos e viver por 30 anos. Apesar de todo esse tamanho, é um primor da hidrodinâmica, capaz de nadar a 40 quilômetros por hora e mergulhar a quase 1 quilômetro de profundidade.

Assim se referiu ao atum matéria da revista Pesca Esportiva, e ela não é exceção.

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O ‘melhor’ sushi causa o desaparecimento da espécie

Ilustração: o Atum em Portugal

Grande problema: a gordura de sua barriga

Mas os atuns, especialmente o azul, têm um grande problema: a gordura de sua barriga. Ela é considerada a melhor carne de peixe para se fazer o sushi e sashimi. Além deste aspecto, há a tecnologia aplicada à pesca que não dá a menor chance: o peixe não tem como escapar. O atum é uma espécie migratória. Não respeita fronteiras políticas, o que prejudica a fiscalização. Japoneses chegam a pagar mais de 1,5 milhão de dólares por um exemplar. Resultado? O atum azul do atlântico, e o atum azul do Pacífico, estão na lista vermelha dos ameaçados de extinção da IUCN (International Union for Conservation of Nature). O pior é que a maioria dos atuns pescados está contaminado por mercúrio.

História do consumo no Japão

Mercado de peixes de Tóquio. (Foto: Better Than Bacon via Flickr cc)
O Japão nunca foi, em termos históricos, um tradicional consumidor de peixe nem de qualquer outro tipo de produto marinho. Todos os alimentos provenientes do mar só se tornaram significativos a partir dos anos 30, do século XX. Hoje, os japoneses consomem 40% da proteína através do peixe. O Japão consome sushi há alguns séculos. Mas sempre de uma forma muito rudimentar. Só depois da Segunda Grande Guerra, e com a introdução da refrigeração moderna, é que o sushi e o sashimi se tornaram realmente populares, com a confecção de peixe cru.

O mercado japonês consome e importa mais atum-rabilho do que qualquer outro no mundo. Em 2005, o Japão importou 55% do total das importações mundiais. Atualmente, o Japão, Espanha, França, Estados Unidos e Itália, representam 95% do mercado global. Os peixes são vendidos a preços exorbitantes.

Tentativa de regular a pesca do atum no Brasil e no mundo

Para minimizar este problema foram criadas associações e cotas para cada país apto a pescar o atum. Uma delas, a mais ‘respeitada’ (entre aspas porque sabe-se que muitos países não respeitam suas cotas) é a ICCAT, The International Commission for the Conservation of Atlantic Tunas. Apesar de sua notoriedade, ecologistas marinhos do porte de Enric Sala garantem que há mais corrupção no órgão que no futebolJá na Europa surgiram as Organizações Regionais de Gestão da Pesca, as ORGP, com o mesmo objetivo.

Rotas migratórias do atum no Hemisfério Norte

A organização reúne seus membros anualmente para tomarem decisões quanto às cotas, locais onde a pesca pode ser feita, época certa para a atividade. E até a criação de figuras como o “observador”, que todo barco deve levar a bordo. Ele é encarregado de fiscalizar se, o que foi decidido na reunião, será cumprido em cada navio pesqueiro.

Histórico da pesca do atum no Brasil: desde 1959

Nas regiões Sudeste e Sul a pesca de atum foi iniciada em 1959. Mais uma vez, arrendando barcos japoneses. Esta primeira fase prosseguiu até 1964 quando a instabilidade política fez com que os estrangeiros procurassem outros portos. Por muito tempo a pesca de alto-mar foi deixada de lado.

pesca do atum no Brasil: navios japoneses arrendados em Natal, RGN

A partir do governo de FHC a prática mudou

Só a partir do governo de FHC a prática mudou. Entre 1998 e 2002, o empresário paraibano, Gabriel Calzavara de Araújo,foi diretor do Departamento de Pesca e Aquicultura do Ministério da Agricultura. Seu maior legado foi criar um novo marco regulatório, mais flexível, para o arrendamento de barcos de pesca, o Decreto nº 2840. Até então o procedimento seguia uma rígida norma de 1950.

O estudo PESCA COM EMBARCAÇÕES ARRENDADAS NO BRASIL: UMA ANÁLISE ECONÔMICA DESTA ATIVIDADE NO PERÍODO DE 1998 A 2002 informa que

De acordo com (MAPA, 1997 p.1), uma segunda etapa de arrendamento de embarcações pesqueiras teve início no final dos anos 70, quando barcos pesqueiros, na maioria Asiáticos, começaram a exercer a pesca de superfície com isca viva dirigida à captura de Bonito-barriga-listrada (espécie de atum), em conjunto com embarcações nacionais compostos de sardinheiras e arrasteiros adaptados.

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Mais de 300 navios pescam em águas brasileiras

O estudo prossegue
Os processos de arrendamento de embarcações pesqueira no Brasil tornaram-se mais evidentes em fins da década de 90, influenciados pelo Decreto n° 2.840 de 10/11/1998. Este decreto revogou os anteriores regularizou a entrada dessas embarcações. Segundo consta, as empresas arrendatárias teriam o direito de permanecer com as embarcações por três anos, com chances de prorrogação por um período máximo equivalente ao do processo. Essa medida proporcionou durante, o período de 1998 a 2002, a entrada de 332 navios estrangeiros de pesca na costa litorânea brasileira…
Mais dois tipos de atum. Note a hidrodinâmica perfeita

Gabriel Calzavara de Araújo sai do governo e funda duas empresas para a pesca do atum no Brasil

O autor do controverso decreto, o ex-secretário da Pesca do período FHC, Gabriel Calzavara de Araújo, ao sair do Governo fundou duas empresas: a Atlântico Tuna, e a Norpeixe. Ele arrendou navios japoneses e ficou milionário.
Em 2010, das 17 licenças para pesca de atum distribuídas naquele ano para embarcações estrangeiras, 16 foram dadas a barcos japoneses arrendados pela Atlântica Tuna, de Calzavara.

Em 2007 novo estudo sobre a pesca do atum no país foi publicado

“A pesca Oceânica No Brasil Do Século XXI“, de autoria do renomado professor Fábio Hazin, e Paulo Henrique Travassos. Ambos da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Pesca de atum movimenta US$ 4 bilhões de dólares por ano só no Atlântico Sul

Algumas considerações do estudo de Hazin:
…o rendimento proporcionado por esta pesca no mundo gira em torno de US$ 4 bilhões/ ano…
Sobre o Brasil:
Com o esgotamento dos recursos pesqueiros costeiros, a principal alternativa para o desenvolvimento do setor pesqueiro nacional, excetuando-se a aqüicultura, reside na pesca oceânica, voltada para a captura de atuns e peixes afins. Porém vários são os entraves para o desenvolvimento da pesca oceânica nacional, com destaque para a falta de mão-de-obra especializada, de tecnologia e de embarcações adequadas…

Mas nem tudo é desvantagem…

Enquanto embarcações operando a partir de portos brasileiros alcançam as áreas de ocorrência dos cardumes com poucas horas de navegação, as frotas de países com grande tradição pesqueira, como o Japão, Taiwan, Coréia, Espanha, Portugal, entre outros, são obrigados, em alguns casos, a viajar mais de 20.000 km para atingir as mesmas áreas de pesca

Hazin defende o arrendamento

A produção nacional de atuns e afins cresceu de pouco mais de 20.000 t, em 1995, para mais de 50.000 t, em 2000, em decorrência, principalmente, da ampliação dos arrendamentos promovidos pelo DPA/ MAPA (Departamento de Pesca e Aqüicultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)

Sobre as embarcações brasileiras, disse Hazin

Neste contexto, registre-se que as embarcações nacionais são obrigadas a competir pelos recursos pelágicos deste oceano, com as frotas estrangeiras, particularmente a espanhola e japonesa, pesadamente subsidiadas e que operam com um custo financeiro que representa uma pequena fração da realidade brasileira

Pesca do atum no Brasil, o que preferimos?

O que claramente se coloca, portanto, é qual futuro o Brasil prefere. Conceder às frotas internacionais o livre acesso aos portos brasileiros, e ficar literalmente a ver os navios estrangeiros pescando em seu quintal, ou enfrentar o desafio de desenvolver a sua pesca oceânica.

E ele mesmo conclui:

A decisão do Estado brasileiro foi, e não poderia ser outra, pelo desenvolvimento do setor pesqueiro nacional.

Pesca do atum no Brasil (foto: igualdad animal)
Resta saber quando, e como isso será feito. Para desenvolver estes navios pesqueiros é preciso investimentos em estaleiros e treinamento de mão de obra especializada. Tanto na construção, como na pesca. Fica difícil adivinhar quando  chegará a vez da pesca industrial de alto mar nas prioridades do governo. Com muita sorte, e vento a favor, quem sabe possamos começar dentro de 10 anos.
Ainda valerá a pena?

Cientistas contrários à pesca

Alguns cientistas criticam a pesca de atum mesmo com as cotas e outras medidas. Sylvia Earle é uma delas. Sylvia garante que 95% do atum azul dos oceanos já se tornou sushi.

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ONGs protestam

O Greenpeace também protestou

O Greenpeace flagrou, em fevereiro de 2001, o navio pirata Wen Shun 606 descarregando atum no Porto de Cabedelo, Paraíba. O Wen Shun 606 é listado na ICCAT como sendo navio que “se acredita engajado na pesca não-relatada e não-regulada”. A embarcação pirata é registrada em São Vicente e Granadinas, foi construída na China e pertence à Continental Handlers Limited, empresa baseada em Trinidad & Tobago.

Outras ONGs dizem que o ICCAT ignorou o conselho de cientistas que queriam o fim da pesca do atum-azul, já em 2009, e criou cotas de pesca da espécie de 13.500 toneladas.

O preço: maior inimigo do Atum

Sendo o atum um produto bastante rentável, as políticas de regulamentação e conservação existentes podem não ser suficientes para a manutenção da sustentabilidade das espécies.

A pesca de atum hoje no Brasil

“A pesca do atum, somente no Oceano Atlântico, movimenta cerca de US$ 4 bilhões por ano.” Segundo o SINDIPI (Sindicato dos Armadores e das Indústrias de Pesca de Itajaí e Região). “O Brasil produz em média 34 mil toneladas, o que envolve cerca de 200 barcos de variados portes e aproximadamente seis mil empregos diretos e indiretos.”

Barcos do Japão e de Taiwan

Katarina Vanderlei, engenheira de pesca, diz que, o Brasil não tem grande contingente de barcos pesqueiros das espécies de atum que habitam nossos mares. Parte do cota destinada ao País é cedida a barcos do Japão e de Taiwan. “Estes povos têm grandes frotas, que se deslocam do extremo oriente para a pesca no mar brasileiro.” Ela fala que esses pescadores-viajantes se deslocam pela nossa costa na companhia de observadores nacionais, para que sejam respeitadas as suas cotas.

A pesca do atum se assemelha a um massacre

A ONG espanhola ‘Igualdad Animal’ produziu um vídeo da matança de atuns que fez furor. A ONG assegura  que os peixes sentem dor.

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Já este vídeo, resume a pesca do atum no Brasil

Fontes: https://oatumjornalismomultimedia.wordpress.com/seccao-ciencia-2/; http://curiosidadesculinariasdadonasinha.blogspot.com.br/2014/02/atum.html; http://www.suapesquisa.com/geografia/clima_subpolar.htm; http://arkeotavira.com/Estudos/MOEDAS-BALSA-R.pdf; http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/9817/1/ulfc103169_tm_lese_costa.pdf; http://new.d24am.com/amazonia/animais/atum-azul-pacifico-esta-ameacado-extincao/124308; http://www.iucnredlist.org/details/21860/0; https://www.iccat.int/en/; http://ec.europa.eu/fisheries/cfp/international/rfmo/index_pt.htm; http://www.sober.org.br/palestra/12/05O298.pdf; http://blogdotarso.com/2012/08/19/decreto-de-fhc-enriqueceu-membro-do-governo-fhc-que-ajudou-a-elabora-lo/; http://dinheirorural.com.br/secao/agronegocios/o-sommelier-do-atum; http://www.igualdadanimal.org/; http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/1138936-barco-japones-domina-pesca-de-atum-em-aguas-do-brasil.shtml.

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