Parques Estaduais Ilhabela e ilha Anchieta
Antes de terminar as UCs federais do estado de São Paulo decidi visitar algumas estaduais. Entre elas os Parques Estaduais Ilhabela e ilha Anchieta, o Parque da Laje de Santos, além do Mosaico Juréia Itatins. Espantado com a falta de recursos humanos e materiais das UCs federais até agora visitadas, considerei que seria uma boa oportunidade comparar estes dois tipos: as UCs federais e as estaduais.
Semelhanças entre os Parques Estaduais Ilhabela e ilha Anchieta
Os dois Parques têm características parecidas: ficam no litoral Norte de São Paulo, a pouca distância da maior cidade do País (Ilhabela está a 210 km de São Paulo), e são frequentados por turistas.
Ambos têm a Mata Atlântica como atrativo principal, além de outros ecossistemas como costões rochosos, praias, e mata de restinga. Seu interior abriga um grande número de aves, répteis, anfíbios e mamíferos.
Mas há uma diferença fundamental. Ilhabela tem moradores fixos, 28 mil pelo Censo de 2010, distribuídos em nove mil domicílios. E tornou-se um dos pontos preferidos para o turismo de segunda residência de paulistas.
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Quando os europeus aqui chegaram a região de Ubatuba e ilhas ao largo era dominada por Tamoios e os Tupinambá. A região é testemunha de um fato histórico importante do século 16, a Paz de Iperoig, quando os padres Manual da Nóbrega e José de Anchieta foram incumbidos de mediar a paz entre europeus e indígenas.
E foram bem sucedidos. Os portugueses prometeram não mais escravizar os índios, consequentemente estes concordaram em não mais atacá-los. A paz foi assinada em Iperoig, em 1563, hoje conhecida como Ubatuba.
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Em 1803 os portugueses passaram a manter um destacamento na ilha pela necessidade de defender esta parte da costa. Dois anos depois a ilha passou a ser uma estação naval para os navios ingleses que perseguiam os negreiros.
De acordo com placas explicativas, posteriormente foi transformada em Freguesia devido “ao grande número de pessoas que moravam no local.” Corria o ano de 1885, e a ilha passou a ser chamada Freguesia do Senhor Bom Jesus da Ilha dos Porcos.
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Entretanto, em 1908 já conhecida como ilha dos Porcos, foi transformada em Colônia Correcional, desativada em 1914. Em seguida foi ocupada por pescadores seguidos por um grupo de imigrantes russos que lá ficaram até 1928.
A partir daí, Anchieta tornou-se presídio político para abrigar desafetos do ditador Getúlio Vargas. O nome mudou para ilha Anchieta em 1934, como parte das homenagens ao quarto centenário do nascimento de José de Anchieta.
Mais tarde, de presídio político passou a presídio de segurança máxima do Estado. Porém, em 1952 foi parcialmente destruído durante de uma terrível rebelião.
Por último, em 1977 foi criado o Parque Estadual. Durante todo este período a vegetação foi quase toda suprimida. Este rápido histórico mostra o tanto que a flora e fauna dos pouco mais de 800 hectares de Anchieta foram afetados ao longo do tempo. E continuaram a ser logo depois de transformada em área protegida…
Ilha Anchieta e seus novos problemas
Ilha Anchieta fica “grudada” em Ubatuba, cuja população atinge mais de 100 mil moradores. O município, por sua beleza e proximidade com São Paulo, disputa com Ilhabela a preferência das pessoas que podem ter uma segunda residência para aproveitar o verão.
Ubatuba também sofre com o crescimento desordenado e a especulação. A economia das duas é incipiente, dependendo muito do turismo que é sazonal; dos serviços, de um pequeno comércio e, mais recentemente, da ampliação do porto de São Sebastião.
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A diferença fundamental entre ambas é que a ilha Anchieta não tem moradores fixos. Mas as duas sofrem problemas graves: Ilhabela há anos vem sendo descaracterizada pela especulação imobiliária, muitas vezes comandada pelos próprios prefeitos. Anchieta é afetada por outro motivo.
Fundação Parque Zoológico, de São Paulo, introduziu mais de cem animais exóticos
Em 1983, a Fundação Parque Zoológico, de São Paulo, introduziu mais de cem animais exóticos, de 15 espécies diferentes. Não consegui descobrir o motivo desta ação desastrada. Acredito que a intenção foi a melhor possível.
Entre outras espécies, soltaram capivaras, saguis, tatus, quatis e cutias. Algumas não resistiram ao novo habitat outras, entretanto, se multiplicaram de forma impressionante.
A introdução de espécies é prática antiga
Quando fiz meu primeiro documentário sobre Anchieta, em minha estreia na TV Cultura (2005-2007), fiquei espantado com a proliferação das espécies e as consequências. O problema não é exclusivo. Grande parte das ilhas brasileiras sofre do mesmo mal desde a época da descoberta. A diferença é que naquela época ninguém sabia o que seria “ecologia”.
Os portugueses, por exemplo, assim como outros navegadores, costumavam deixar porcos, cabras, bodes, galinhas e outras espécies, em todas as ilhas que descobriam. O motivo era óbvio: comida fresca nas navegações seguintes. Até o século XVIII, e princípios do século XIX, este era o padrão dos povos navegadores.
Além disto sempre que desciam em alguma ilha iniciavam o desmatamento em razão da necessidade de lenha para seus fogões. Quando as ilhas tinham algum tipo de animal a caçada era feroz: sempre faltava comida nas embarcações… São por estes motivos que várias ilhas mundo sofrem problemas até hoje. Seus ecossistemas são frágeis. Ilhas têm solos arenosos, pouca água, vegetação normalmente escassa, etc.
As equipes dos Parques Estaduais Ilhabela e ilha Anchieta.
Quanto ao pessoal, os dois Parques estaduais estão na frente das UCs federais. Suas equipes chegam a mais de 20 pessoas. Ainda assim, não é o ideal, reconhecem os próprios chefes.
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Contudo, também não é a pobreza das UCs federais, muitas delas com apenas um ou dois funcionários para cuidarem de áreas às vezes enormes.
Ilhabela e a especulação imobiliária
Ilhabela continua sofrendo com a especulação. A cada ano que a visito vejo mais casas e condomínios na encosta virada para o canal onde a parte do parque começa na “cota 200” ou seja, a partir dos 200 metros de altura.
Grande parte das construções não têm a menor preocupação com a paisagem. Ao invés de construírem atrás de árvores, procurando manter a paisagem, são erguidas nas encostas de morros pelados, ou mesmo em topos de morros. Enquanto isso, o adensamento cresce sem, entretanto, haver infraestrutura para tanto.
O problema não se restringe ao estrago provocado na beleza do lugar. Ilhabela, assim como Ubatuba, e quase todas as cidades costeiras, conta com um pífio saneamento básico. Dos nove mil domicílios de Ilhabela apenas 660, ou 7%, contam com rede de esgoto.
Ubatuba também não é exemplo, apesar de vencer a primeira ao menos neste quesito: dos 25 mil domicílios, 6.700, ou 27%, contam com o benefício. Nas férias, quando a população triplica, ou quadruplica, para onde vai o esgoto? Para o mar, claro.
Especulação em Ilhabela não poupa nem os costões
Pescadores artesanais e as canoas de voga
Os pescadores artesanais de castelhanos ainda constroem e usam as belíssimas canoas de voga, símbolo da ilha. E convivem bem com os milhares de turistas que visitam a região quase todos os fins de semana e, especialmente, nas férias.
Resorts em Ilhabela?
Conversando com os pescadores fiquei sabendo que a ideia do ex-prefeito, Toninho Colucci, seria construir resorts ao estilo de Miami em Castelhanos.
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A briga é feia e antiga. O prefeito anterior também foi acusado pelo mesmo motivo: alterar o zoneamento com a mesma finalidade: lucrar com a construção de novas residências, condomínios e hotéis.
A mulher do antigo prefeito, segundo as denúncias, também estaria envolvida com a construção civil.
O Instituto Ilhabela Sustentável divulgou uma carta aberta repudiando estas tentativas que podem acabar com o que resta da pureza ambiental da ilha.
Os Parques Estaduais e o turismo.
Ambos os parques recebem turistas. A quantidade era tão grande que as chefias tomaram medidas estipulando cotas máximas diárias, em razão das precárias condições.
Falta saneamento na ilha Anchieta, e a pequena estrada de terra que corta Ilhabela, por dentro da exuberante mata atlântica até atingir Castelhanos, é estreita, sinuosa e perigosa. Ela também não suportaria uma carga alta.
Fiquei contente com a visita. Ao menos estes dois Parques cumprem parcialmente suas funções recebendo milhares de turistas todos os anos.
Espécies introduzidas em Anchieta
Recebi do biólogo Fausto Pires de Souza, da Fundação Florestal de São Paulo, diversos estudos sobre os problemas da ilha Anchieta. Um deles, publicado pela revista Ciência
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Entre outras informações a reportagem, assinada por Ariane Dias Alvarez, Ricardo Siqueira Bovendorp, Marina Fleury e Mauro Galetti, diz que o Laboratório de Biologia da Conservação da Universidade Estadual Paulista (Rio Claro), com apoio da Fundação Florestal e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, iniciaram um estudo no ano 2002, portanto 20 anos depois da introdução, que detectou o seguinte:
a população de cutias cresceu mais de 145 vezes, seguida pela dos tatus- galinha (134 vezes), de sagüis-de-tufo-preto (130 vezes), de capivaras (41 vezes), e de quatis (11 vezes).
A matéria prossegue, “as espécies afetam o restabelecimento da vegetação e a estrutura das comunidades de suas presas, como aves.” Muitos dos animais introduzidos têm como alimento a vegetação onde vivem as aves, e os próprios ovos de passarinhos. E prossegue: “enquanto Ilhabela tem 118 espécies de aves, Anchieta tem apenas 72.”
Já se passou tempo demais
Os problemas não faltam. Foram estudados por especialistas. Agora é preciso ação do Governo de São Paulo, através da Secretaria de Meio Ambiente, e da própria Fundação Florestal encarregada de tomar conta das unidades de conservação paulistas.
Ampliação do porto de São Sebastião
Este é outro processo irreversível. Quem conhece a costa brasileira sabe que feliz, ou infelizmente, o Canal de São Sebastião é o melhor porto natural que temos no Sudeste.
Não há o problema, comum aos outros, de profundidade baixa. Ou ainda falta espaço nas imediações para receber dezenas de navios. Com o pré-sal e o Campo de Santos nas imediações é natural que a tendência seja aumentar a quantidade de berços para receber navios.
Desse modo, aumentará a possibilidade de acidentes, sempre impactantes nestes casos. O novo porto estará preparado para esta possibilidade?
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