❯❯ Acessar versão original

Sistema Aquífero SAGA, oceano subterrâneo da Amazônia

Sistema Aquífero SAGA, o oceano subterrâneo da Amazônia

Em 2014, durante a 66ª reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada no campus da Universidade Federal do Acre (UFAC), uma revelação surpreendeu o público: a Amazônia esconde um oceano subterrâneo.

Segundo o professor Francisco de Assis Matos de Abreu, da Universidade Federal do Pará (UFPA), esse reservatório gigantesco pode conter até 160 trilhões de metros cúbicos de água doce.

O tema ganhou repercussão internacional. Até a BBC publicou uma reportagem com o título provocador: Subterranean Amazon river ‘is not a river’.

SAGA tem volume que supera o Aquífero Guarani

O chamado “oceano subterrâneo” da Amazônia é ainda mais impressionante quando comparado ao Aquífero Guarani — até então considerado o maior reservatório de água doce da América do Sul. O novo aquífero tem um volume 3,5 vezes maior.

O Guarani se estende por 1,2 milhão de quilômetros quadrados e abrange Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai. Já o aquífero amazônico, batizado de Sistema Aquífero Grande Amazônia (SAGA), é bem mais profundo e menos conhecido.

PUBLICIDADE

Segundo os pesquisadores o SAGA, com 1,3 milhões de quilômetros quadrados, tem um volume que representa mais de 80% de toda a água doce da Amazônia. Os rios da região respondem por apenas 8% do sistema hídrico, e a umidade atmosférica representa os outros 8%.

‘Oceano subterrâneo’ muito a descobrir, muito a proteger

Apesar de sua grandiosidade, o conhecimento sobre esse oceano subterrâneo ainda é limitado. Faltam estudos que avaliem a qualidade da água, sua disponibilidade para uso humano e, sobretudo, formas de protegê-lo.

Diante da pressão crescente sobre os recursos hídricos do planeta, preservar esse reservatório pode ser tão vital quanto compreender seu potencial.

Alter do Chão, a porta de entrada do Sistema Aquífero Grande Amazônia

Os primeiros estudos sobre o aquífero amazônico começaram há cerca de dez anos, na região de Alter do Chão, no Pará — um dos cenários mais deslumbrantes do Brasil, famoso por suas praias de água doce.

Ali, os cientistas identificaram um depósito subterrâneo com 86,4 trilhões de metros cúbicos. Esse dado inicial mostrou a grandiosidade do sistema que mais tarde recebeu o nome de Sistema Aquífero Grande Amazônia (SAGA).

Sistema Aquífero Grande Amazônia (SAGA): um gigante de 135 milhões de anos

Batizado de Sistema Aquífero Grande Amazônia (SAGA) pelo professor Francisco de Assis Matos de Abreu, sua formação geológica começou ainda no período Cretáceo, há cerca de 135 milhões de anos. É, portanto, um dos reservatórios mais antigos do planeta.

Em 2019, a Agência Nacional de Águas (ANA) confirmou: o aquífero Alter do Chão, núcleo do SAGA, é o maior do mundo. Segundo a agência, “em nenhum outro lugar a água doce é tão farta”. Estima-se que um quinto de toda a água doce do planeta (excluindo as geleiras) está na Amazônia.

Mas o que vemos — rios, lagos e igarapés — representa apenas a parte visível desse tesouro. O grosso da reserva continua escondido sob o solo da floresta.

Superando o Aquífero Guarani

Durante muito tempo, o Aquífero Guarani foi considerado o maior reservatório subterrâneo de água doce do planeta. Mas pesquisas recentes mostram que o Aquífero Alter do Chão, que se estende pelos estados do Amazonas, Pará e Amapá, é quase duas vezes maior.

“Estamos falando de um volume de 86 mil quilômetros cúbicos de água, enquanto o Guarani tem cerca de 45 mil”, explica o geólogo Milton Mata, da UFPA. Em vez de lagos visíveis, trata-se de imensos reservatórios escondidos no subsolo — verdadeiros oceanos de água potável.

Ainda não se sabe se a água é própria para consumo

Apesar do volume monumental, não se sabe ao certo se a água do aquífero amazônico pode ser usada para consumo humano. A principal limitação é a falta de estudos aprofundados sobre sua qualidade, potabilidade e viabilidade de extração.

Segundo o professor Ingo Daniel Wahnfried, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o maior desafio vem da complexidade geológica do sistema. Grandes rios subterrâneos formam o reservatório, com camadas sedimentares sobrepostas em diferentes profundidades, o que dificulta o mapeamento e o acesso seguro à água.

PUBLICIDADE

Água subterrânea já abastece a maioria dos municípios no Amazonas

A água subterrânea já é uma realidade para boa parte da população amazônica. Segundo o pesquisador Ingo Daniel Wahnfried, essa fonte está amplamente disponível e distribuída na região.

No Estado do Amazonas, 71% dos municípios — ou 44 dos 62 — utilizam água subterrânea (ainda não proveniente do aquífero Alter do Chão) como principal fonte de abastecimento público. No Acre, 4 dos 22 municípios também dependem dessa mesma fonte.

Esses dados reforçam a importância estratégica de conhecer melhor o potencial do SAGA para o futuro da segurança hídrica na região.

Assista ao vídeo e saiba mais sobre o aquífero de Alter do Chão

Tubarões de recifes estão em grande declínio

Sair da versão mobile