O drama do Pantanal ardendo em chamas
Sua área é de 151 mil Km2, ocupando dois Estados, o Mato Grosso, e o Mato Grosso do Sul, na fronteira entre Brasil, Paraguai e Bolívia. Um dos menores biomas do Brasil, mas o mais preservado, 84% de sua paisagem é original. O drama do Pantanal ardendo em chamas.
A biodiversidade
É fora de série: duas mil espécies de plantas, algumas endêmicas – caso de dois tipos de amendoim selvagem e uma rara orquídea aquática (Habenaria aricaensis); 152 de mamíferos, 36 espécies de mamíferos ameaçados de extinção; 582 espécies de aves, 188 aves ameaçadas de extinção; 47 espécies de anfíbios, 127 de répteis, e 269 de peixes. Segundo o IBGE “Cerca de 2,2 milhões de pessoas viviam na região em 2010, equivalente a 1,1% da população do Brasil, sendo 87% em áreas urbanas.” Na Bolívia se estima 16.800 habitantes e, no Paraguai, 8.400 habitantes. Mas, entre todas estas maravilhas, talvez uma das maiores seja a extraordinária beleza cênica. É algo tão forte que emociona até mesmo um paralelepípedo.
O drama do Pantanal ardendo em chamas
Antes, a geologia do Pantanal. De acordo com o Serviço Geológico do Brasil -CPRM, ‘o Pantanal Mato-Grossense não é, como seu nome sugere, um pântano. É, sim, uma savana estépica (Relativo a estepe) caracterizada por uma área baixa, com altitude média inferior a 200 m. A área total estimada para a Planície do Pantanal é de 230.000 km², mas ela é de difícil delimitação. Trata-se da maior planície inundável do mundo e uma das maiores bacias de sedimentação do planeta’.
Os rios
“Nela, corre o rio Paraguai, com os afluentes São Lourenço, Cuiabá, Taquari, Negro, Miranda e Aquidabã. Esses rios transbordam na época das cheias (outubro a março) e suas águas formam um imenso lago de água doce, com dois a três metros de profundidade.”
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“Na época seca (abril a setembro), as águas voltam aos leitos permanentes dos rios, deixando expostas lagoas de formas variadas, com até mais de 10 km de extensão, conhecidas na região como baías. Essas lagoas são separadas por terrenos um pouco mais elevados, as cordilheiras, onde há vegetação de maior porte, formando capões alongados.”
A era geológica da formação
“Atualmente os geólogos acreditam que o Pantanal é uma região em que a crosta terrestre, através de numerosas falhas (fraturas), foi dividida, no Terciário, em vários blocos, que sofreram afundamento. Mas, nem tudo está bem explicado e a origem das baías, por exemplo, ainda é motivo de controvérsia.”
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O drama
O Pantanal arde. É o pior incêndio da história do bioma. É terrível assistir impotente, todas as noites nos noticiários da TV, sem poder fazer o que quer que seja. Dói na alma. Até agora o bioma já perdeu 10% de sua área, e os focos de incêndio estão longe de terminarem.
Estamos em agosto, e o período das secas vai até outubro! O fogo já destruiu 1,55 milhão de hectares, equivalente a dez vezes a área do município de São Paulo. O responsável? Segundo o cientista Ricardo Galvão, o Pantanal é mais uma vítima do aquecimento global e, especialmente, do desmatamento da Amazônia.
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Europa repudia o turismo de massa neste verãoPrefeitura de Ubatuba arrasa restinga da praia de ItaguáO mundo planta árvores de mangue enquanto o Brasil cortaÉ a umidade da floresta que provê as chuvas do Centro Oeste, Sudeste e Cone Sul, e o desmatamento da Amazônia, 20% até hoje, já provocou mudança nas precipitações no Pantanal, diz Ricardo Galvão.
“Neste ano, houve um volume 50% menor de chuvas e o nível do Rio Paraguai, o principal formador do Pantanal, chegou à menor marca em cinco décadas”, diz a Veja.
Fogo no maior refúgio e dormitório para as araras-azuis jovens
A maior riqueza da avifauna do Pantanal é o refúgio das araras-azuis, ‘santuário que concentra 15% da população livre da espécie, ameaçada de extinção’, cercado pelo fogo. Ele fica na Fazenda São Francisco do Perigara, 25 000 hectares. “Entre 2013 e 2015, foram avistadas 1 000 delas no local” que se abrigam nos troncos altos e palmeiras do tipo bocaiuva.
A bióloga Neiva Guedes, que fundou o Instituto Arara Azul, declarou à Veja
A vegetação pode se recuperar, mas não quer dizer que está tudo bem. As relações entre as espécies demoram muito mais tempo para se reconstruírem
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, “Localizada a 150 km em linha reta de Cuiabá, a propriedade rural, considerada o maior refúgio mundial da arara-azul, já perdeu ao menos 70% dos cerca de 25 mil hectares.”
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Os focos de incêndio são tantos, e com tamanha intensidade, que desta vez até os mamíferos, que normalmente escapam, estão sendo calcinados. Há carcaças de onças por todos os lados no Pantanal.
Araras-azuis, conheça
De acordo com o Instituto Arara-azul, As “araras-azuis” atuais são quase exclusividade brasileiras, pois duas espécies A. leari e Cyanopsitta spixii são endêmicas no Brasil. A arara-azul A. hyacinthinus tem a maior população no Brasil, sendo que foi praticamente extinta no Paraguai e Bolívia, mas já sendo encontrada neste último.”
“Vale lembrar que este gênero possui espécie extinta (A.glaucus) e as outras duas estão na lista mundial de espécies ameaçadas, classificadas como “criticamente em perigo” a arara-azul-de-lear (A. leari, com cerca de 600 indivíduos na natureza) e “em perigo” a arara-azul, que tem a maior população do gênero na natureza, pois vem se recuperando no Pantanal, mas ainda sofre com a captura para o tráfico de animais silvestres (terceira atividade ilegal mais lucrativa, só perde para o de drogas e, depois, o de armas) principalmente em outras regiões do Brasil e pela descaracterização do habitat).”
Refúgio ameaçado
Folha de S. Paulo: “Descontrolado, o fogo ameaça um esforço de décadas de preservação da espécie na fazenda, resultado do empenho da família Barretto, hoje representada pelas irmãs Ana Maria e Ignez, e de uma aliança com pesquisadores ligados ao Instituto Arara Azul, que monitoram as aves ali desde 2001.”
“O instituto estima que haja 6.500 araras-azuis na natureza, dos quais 700 estão na fazenda São Francisco.Vítima do tráfico de animais silvestres e da degradação do habitat, a espécie é a maior entre os psitacídeos, família que reúne também papagaios e periquitos. Chega a um metro da ponta do bico à cauda e pesa até 1,3 kg.”
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal.
Criada pela Portaria n° 71/97N do IBAMA, de 1997, no ano 2000 a RPPN foi declarada pela UNESCO como Zona-Núcleo da Reserva da Biosfera do Pantanal e em 2003 foi reconhecida como Sítio Ramsar pela Convenção Ramsar de Áreas Úmidas.
A RPPN Sesc Pantanal está localizada no município de Barão de Melgaço, um território predominantemente pantaneiro, inundável em grande parte de sua extensão na época das chuvas. O perímetro total da Reserva atinge quase 300 km, e seus objetivos são preservar o ecossistema, as espécies raras endêmicas ou ameaçadas de extinção, além de pesquisas e educação ambiental.
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E enquanto isso acontece, os jumentos de Brasília debocham e caem na gargalhada.
RPPN ameaçada
Segundo a Folha de S. Paulo, “Outra área devastada é a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal. O fogo, incontrolado, já queimou cerca de um terço dos 108 mil hectares. Para chegar até a fazenda de carro, é preciso atravessá-la.”
“Nada ali indica que se trata da maior planície inundável do planeta. A poeira erguida pelo vento e a vegetação queimada, incluindo centenas de acuris, compõem uma paisagem desoladora. Os troncos em brasa lembram que a crise está longe do fim — as chuvas regulares só voltam em outubro.”
O drama do Pantanal
Estes motivos, e o que está em jogo, nos levaram a alertar para o drama do Pantanal ardendo em chamas durante a maior seca em 22 anos na região.
Assista ao vídeo e não se emocione se for capaz
Imagem de abertura: PrevFogo/Ibama e Polícia Militar Ambiental
Fontes: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2020/08/fogo-no-pantanal-destroi-maior-refugio-mundial-de-araras-azuis.shtml; https://veja.abril.com.br/brasil/o-fogo-no-pantanal-volta-a-queimar-a-imagem-do-pais/; http://www.cprm.gov.br/publique/Redes-Institucionais/Rede-de-Bibliotecas—Rede-Ametista/Pantanal-Mato-Grossense-2717.html; https://www.embrapa.br/contando-ciencia/bioma-pantanal; https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo.html?id=449631&view=detalhes.