Novo Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e agora?
A comunidade ambiental esperava ansiosa quem comandaria a pasta que quase ficou sem pasta. O chefe queria extinguir o Ministério do Meio Ambiente do país com a maior biodiversidade do planeta. Como bravata, pretendia transformá-lo numa secretaria do Ministério da Agricultura. Só não o fez porque foi aconselhado pelos caciques do agronegócio. Às vezes, parece que o capitão não tem ideia das consequências de seus atos. Demonstra limitada visão de mundo. Não lhe ocorreu que o resto da comunidade mundial, exceção de Trump, acredita no aquecimento global. Esqueceu-se que os consumidores de sociedades mais adiantadas exercem seu poder de veto ao não consumirem produtos sem o certificado que mostre origem sustentável. Ricardo Salles é o novo Ministro do Meio ambiente.
Quem é o novo ministro do meio ambiente, Ricardo Salles?
Ele tem 43 anos. É advogado especializado em administração de empresas. Ex-secretário de Meio Ambiente do governo de São Paulo, gestão Alckmin. Ficou apenas um ano, sendo desligado depois de polêmicas. Concorreu ao cargo de deputado federal pelo Partido Novo, mas não se elegeu. Durante a campanha, sugeriu o uso de munição de fuzil contra a esquerda e o MST. É fundador do MEB, Movimento Endireita Brasil. Recentemente disse ser “o único direitista do Brasil”. O seu MEB fez barulho na eleição ao oferecer dinheiro a quem gravasse vídeo atacando Ciro Gomes. Oferta retirada da web depois da óbvia reação negativa.
Polêmicas de Ricardo Salles, Ministro do Meio Ambiente, quando era secretário em São Paulo
O futuro ministro é alvo de ação de improbidade administrativa, acusado de manipular mapas de manejo ambiental da APA da Várzea do Rio Tietê. Foi investigado por realizar chamamento público, sem autorização legislativa, para a concessão ou venda de 34 áreas do Instituto Florestal. Ficou no cargo apenas 13 meses, sendo desligado por Alckmin devido às polêmicas.
E isso é tudo que se sabe…
Isso é tudo que se sabe a respeito de Ricardo Salles. O Mar Sem Fim, ouviu falar sobre o nome quando ele assumiu a secretaria no Governo de Alckmin. Em seguida, quando ‘foi saído’ pelo governador 13 meses depois. Havia polêmicas que envolviam até mesmo a primeira campanha ambiental de que fizemos parte, a campanha pela Despoluição do Tietê. Como todos os envolvidos com a causa ambiental, estávamos ansiosos pela divulgação do nome, e apreensivos em razão do desprezo e falta de compreensão de Bolsonaro sobre a importância do Ministério do Meio Ambiente. Todos os dias sapeávamos a mídia. Enquanto tentávamos entender as escolhas do presidente, topamos com bons artigos, um deles, explicava melhor as idas e vindas na questão ambiental.
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Este é o título da coluna de Eliane Cantanhêde, no Estadão de 7 de dezembro de 2018. O subtítulo era: “Para que servem Direitos Humanos, Meio Ambiente, mulheres e Funai?” No primeira parágrafo a jornalista explicou: “Não foi por acaso que a Funai virou batata quente e os ministérios de Meio Ambiente e de Direitos Humanos ficaram no fim da fila da composição do futuro governo. Simplesmente, esses são temas desconhecidos pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, e por todo seu grupo de poder. Eles rejeitam tudo o que foi feito nas três áreas, mas não sabem exatamente o que por no lugar.”
Só pode ser isso: profunda ignorância, ou o que seria pior, ranço ideológico.
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“O futuro ministro teria de ser do agronegócio, evangélico, da bancada da bala ou delegado”
“Quanto ao Meio Ambiente,” prossegue a articulista, “ficou realmente difícil arranjar alguém para desmontar tudo o que foi feito nessa área. Que ambientalista assumiria jogar para o alto a candidatura do Brasil para sediar a COP 25? Ou discutiria a retirada do Acordo de Paris, para o qual o País se empenhou tanto? Logo, o futuro ministro teria de ser do agronegócio, evangélico, da bancada da bala ou delegado.”
“Amazônia: integrar para não entregar”
De fato, o que mais se ouviu durante a campanha vitoriosa de Bolsonaro, foram ataques ao ativismo, aos ambientalistas, e às ONGs esquerdistas. Até o malfadado Corredor Andes-Amazônia-Atlântico, também conhecido como triplo A, esdrúxula ideia da Fundação Gaia Amazonas, com sede em Bogotá, Colômbia, foi levantado por Bolsonaro para justificar suas críticas às ONGs.
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Concordamos quando a jornalista diz que estes “são temas desconhecidos por Bolsonaro e equipe”. Mas acrescentamos, a ignorância parece aliada do ranço ideológico. Lembremos o slogan nacionalista, “Amazônia: integrar para não entregar”, quando militares, nos anos 70, rasgaram o bioma construindo estradas que até hoje não estão prontas. Foi o início da destruição. Trouxeram milhares de colonos para ‘colonizarem’ o novo espaço. A floresta, até então impenetrável, desaparecia rapidamente dando lugar a campos de grãos (tendo a soja como principal cultura) e pastagens. De lá para cá, a Amazônia perdeu 20% de sua cobertura florestal, e ‘está prestes a atingir o limite irreversível’ de acordo com artigo de Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas, e Thomas Lovejoy, professor da George Mason University, publicado pela Science Advances.
E, agora, o que esperar da nova gestão?
Como ‘nova gestão’ entenda-se não só o Ministério do Meio Ambiente, mas o Governo Federal. Ambos merecem um voto de confiança. No caso do ministro. Esperamos que Ricardo conheça um pouco mais dos problemas nada fáceis que passa a enfrentar a partir de primeiro de janeiro, e que aja com bom senso. Até lá ficamos na torcida. Do mesmo modo, tirante o fato de não ter sido nosso candidato, entendemos e respeitamos a eleição de Jair Bolsonaro. Mesmo com todas as estapafúrdias promessas como as citadas acima, ou a de tirar o Brasil da ONU. Entendemos como sua maior contribuição, enterrar as expectativas do PT. Mas é muito pouco para quem prometeu tanto. Os contratempos mal começaram e já surgem situações incômodas, que exigem explicação com um dos filhos… E como suspeitávamos, ao menos o começo da nova gestão foi repleto de péssimos sinais.
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