❯❯ Acessar versão original

Navio Rubymar afunda depois de ataque houthi e põe em risco o Mar Vermelho

Navio Rubymar afunda depois de ataque houthi e põe em risco o Mar Vermelho

Este post foi originalmente publicado em 28 de fevereiro depois do navio Rubymar ser atacado por houthis. Nele, mostramos o que estava em jogo caso ele naufragasse, ou seja, mostramos o perigo que rondava a  biodiversidade do Mar Vermelho. ‘Ele abriga trezentas espécies de corais e mais de mil espécies de peixes, sendo 100 endêmicas. Contudo, um ataque houthi ao navio Rubymar em 18 de fevereiro, enquanto navegava pelo Estreito de Bab el-Mandeb, que liga o Mar Vermelho ao Golfo de Aden, colocou esta área em perigo. O cargueiro avariado, registrado no Reino Unido, operado por libaneses e com bandeira de Belize, deixou uma mancha de petróleo de 29 quilômetros. Mas isso é pouco considerando que a embarcação transporta mais de 41 mil toneladas de fertilizantes. Se o navio não for salvo pode acontecer uma catástrofe ambiental na região’.

 navio Rubymar
O Rubymar ameaça afundar. Imagem, Yemeni Al-Joumhouriya TV HANDOUT/EPA.

O naufrágio do cargueiro

“Um navio de propriedade do Reino Unido atacado por militantes Houthi no mês passado afundou no Mar Vermelho em 2 de março, confirmaram os militares dos EUA, ao ecoar um alerta  de que a carga do navio de substâncias perigosas e fertilizantes representava um risco para a vida marinha”, anunciou a Reuters.

O Rubymar, registrado em Belize, é o primeiro navio perdido desde que os Houthis começaram a atacar navios comerciais em novembro.” Segundo o Comando Central dos EUA (CENTCOM), “o graneleiro que afundou também “apresenta um risco de impacto subterrâneo para outros navios que transitam pelas movimentadas rotas marítimas da hidrovia.”

A informação, infelizmente, confirma o dito de que tudo que está ruim pode piorar. Agora temos que torcer para o dano ambiental ser o menor possível. E prossegue a Reuters: Ahmed Awad bin Mubarak, ministro das Relações Exteriores do governo internacionalmente reconhecido do Iêmen, em Aden, disse em uma postagem no X: “O naufrágio do Rubymar é uma catástrofe ambiental que o Iêmen e a região nunca experimentaram antes. É uma nova tragédia para o nosso país e para o nosso povo. Todos os dias pagamos o preço pelas aventuras da milícia Houthi”.

A libertação de tão grandes quantidades de fertilizantes no Mar Vermelho representa uma séria ameaça à vida marinha, disse Ali Al-Sawalmih, diretor da Estação de Ciências Marinhas da Universidade da Jordânia.

Possível formação de zona morta no local do naufrágio

Antes de mais nada, relembremos a carga do navio, 41 mil toneladas de fertilizantes. E o que estes fertilizantes provocam no mar? Eles provocam a eutrofização. Ou seja, há um crescimento excessivo das algas, ao fazê-lo, elas usam todo o oxigênio que existe no local, o que faz com que a vida marinha não consiga sobreviver. Assim são as zonas mortas no mar, há diversas delas. Por exemplo, a segunda maior zona morta fica no Golfo do México. Em grande parte causada pelo escoamento de nitrogênio e fósforo das cidades e fazendas industriais ao largo do rio Mississipi.

PUBLICIDADE

Por estes motivos é que a reação do chanceler iemenita foi tão dramática: uma catástrofe ambiental que o Iêmen e a região nunca experimentaram antes. É uma nova tragédia para o nosso país e para o nosso povo.

Infelizmente, ele está certo. Dificilmente uma zona morta deixará de nascer com tanta abundância de nutrientes. A Reuters foi atrás de um especialista e conversou com Xingchen Tony Wang, professor assistente do Departamento de Ciências da Terra e Ambientais do Boston College. Para ele, O impacto geral depende de como as correntes oceânicas esgotam o fertilizante e como ele é liberado do navio atingido.

‘Recifes de coral imaculados, manguezais costeiros e vida marinha diversificada’

A Reuters confirma o que dissemos sobre a riqueza do Mar Vermelho. ‘O ecossistema do sul do Mar Vermelho apresenta recifes de coral imaculados, manguezais costeiros e vida marinha diversificada. No ano passado, a área evitou um potencial desastre ambiental quando as Nações Unidas removeram mais de 1 milhão de barris de petróleo de um superpetroleiro em decomposição atracado ao largo da costa do Iémen. Esse tipo de operação pode ser mais difícil nas atuais circunstâncias’.

O New York Times, que também repercutiu o afundamento, disse que O Rubymar foi um “desastre ambiental” antes mesmo de afundar porque o ataque criou uma mancha de óleo de 18 milhas, alertou o Comando Central em fevereiro. Ele disse que o desastre pode piorar se o fertilizante for derramado no mar. O jornal diz que não conseguiu nenhum outro detalhe sobre o naufrágio, ou os riscos que ele representava para o meio ambiente.

O Mar Sem Fim continuará a atualizar os leitores.

Tripulação abandonou o navio

A tripulação abandonou o navio ao largo da cidade de Mokha, Iêmen.  As forças houthis têm atirado em navios no Mar Vermelho com frequência crescente desde o final do ano passado, interrompendo o tráfego marítimo através de uma rota-chave que responde por cerca 12% do trânsito marítimo global. Várias empresas de navegação e companhias de petróleo suspenderam viagens através do Mar Vermelho ou redirecionaram viagens pela África.

Os perigos que a guerra impõe

O Iêmen é um país pobre que ocupa a extremidade sudoeste da Península da Arábia. Desde 2014 o país enfrenta uma guerra quando a capital, Sana, caiu nas mãos dos houthis apoiados pelo Iran. Preocupada com a crescente influência do país ao longo da sua fronteira, a Arábia Saudita interveio à frente de uma coligação apoiada pelo ocidente em março de 2015. Desde então persiste o estado de guerra.

Imagem, Bahá’í International Community.

O país ocupa uma posição estratégica que domina a entrada do Mar Vermelho. Segundo o Índice Global da Fome de 2022, o nível do Iêmen é “alarmante”, ocupando a última posição de um total de 121 países avaliados. Pelo menos 15,6 milhões de pessoas, diante de 29,8 milhões da população total, vivem em extrema pobreza.

O país já escapou de um acidente ecológico que poderia ter tido proporções épicas

O país já escapou de um acidente ecológico que poderia ter tido proporções épicas. O petroleiro F.S.O. Safer, carregando mais de 1.1 milhão de barris de petróleo, foi abandonado em 2015, depois do início da guerra. Para o leitor se situar, o maior acidente com petroleiros até hoje foi o do Exxon Valdez, no Alasca, que derramou 37.000 toneladas de óleo. 

PUBLICIDADE

A ONU passou o chapéu entre seus membros em 2022

O Safer deixou de funcionar em 2017, quando suas caldeiras a vapor ficaram sem combustível. Uma caldeira é o coração de um navio-tanque porque gera a energia e o vapor necessários para operar sistemas vitais. Dada a iminência da catástrofe, a ONU passou o chapéu entre seus membros em 2022. A esta altura o navio estava podre. Finalmente, em 2023, a ONU comprou um navio-tanque Euronav e conseguiu esvaziar a carga abandonada do FSO Safer de 1,14 milhões de barris de petróleo bruto. Mas, em razão da guerra, o casco continua lá, esperando para afundar.

Arquipélago de Socotra, Patrimônio Mundial em perigo

Foi por pouco que não houve um brutal acidente ecológico, ainda mais se considerarmos que o arquipélago de Socotra, que aparece no mapa acima, em verde, ao largo da Somália é um Patrimônio Mundial. São  quatro ilhas e duas ilhotas rochosas com cerca de 50 mil habitantes. Segundo a UNESCO, 90% dos répteis e 95% das espécies de caracóis terrestres não são encontrados em nenhum outro lugar do mundo. As ilhas também abrigam dezenas de espécies de aves, centenas de tipos peixes, e recifes de coral.

Socotra é uma das formas de relevo mais isoladas da Terra de origem continental, o que significa que não é vulcânica, mas um fragmento do antigo supercontinente sul de Gondwana. Por sua incrível biodiversidade, é conhecida como a Galápagos do Índico.

Agora temos outra ameaça com o ataque ao navio Rubymar, com sua perigosa carga de 41 mil toneladas de fertilizantes.

Assista ao vídeo e saiba mais

Tesouro do galeão San José será recuperado, diz governo da Colômbia

Sair da versão mobile