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Navio petroleiro, ou bomba-relógio no Mar Vermelho

Navio petroleiro, ou bomba-relógio no Mar Vermelho

As Nações Unidas alertam para um derramamento catastrófico, e igualmente iminente, de um navio petroleiro na costa do Iêmen, Mar Vermelho. O navio-ameaça é o imprestável F.S.O. Safer. Ele carrega mais de 1.1 milhão de barris de petróleo e, há mais de 30 anos, está ancorado a apenas alguns quilômetros do litoral. Para efeito de comparação, o maior acidente com petroleiros até hoje foi o do Exxon Valdez, no Alasca, que derramou 37.000 toneladas de óleo. Já o F.S.O. Safer carrega quatro vezes mais óleo bruto. Portanto, se acontecer o pior, o Valdez parecerá brincadeira de criança.

navio petroleiro FSO Safer
O FSO Safer em águas do Iêmen quando ainda tinha boas condições. Imagem, @Marine Traffic.

Calamidade ambiental, humanitária e econômica

O petróleo do F.S.O. Safer parou de ser descarregado e permanece sem manutenção devido ao conflito que começou em 2015 entre uma coalizão pró-governo liderada pela Arábia Saudita, e os rebeldes houthi. Desde então, está ancorado, enferrujando, como uma bomba-relógio pronta a explodir.

O mapa da tragédia anunciada. Ilustração, Francesco Muzzi.

Russell Geekie, consultor sênior de comunicações da ONU, e coordenador humanitário para o Iêmen, disse que se o navio se partir ‘o derramamento desencadearia uma calamidade ambiental, humanitária e econômica.’

A bomba flutuante: construído em 1970

Segundo o www.nbcnews.com, ‘O navio-tanque flutuante é de fabricação japonesa, construído na década de 1970 para a Exxon. Porém, foi vendido ao governo iemenita na década de 1980 com o intuito de armazenar para exportação até 3 milhões de barris bombeados de campos de petróleo em Marib, província no leste do Iêmen. O navio tem 360 metros de comprimento com 34 tanques de armazenamento.’

Para efeito de comparação da quantidade imensa de óleo bruto do Safer, ‘no ano de sua construção os Estados Unidos importavam esta mesma quantidade de óleo a cada 18 meses’.

Ele era tão grande que não tinha condições de atravessar o Canal de Suez.

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‘Um navio morto’

Para Ed César, em excelente matéria  do www.newyorker.com, ‘Um navio sem energia é conhecido como um navio morto. O Safer morreu em 2017, quando suas caldeiras a vapor ficaram sem combustível. Uma caldeira é o coração de um navio-tanque, porque gera a energia e o vapor necessários para operar sistemas vitais.’

Dois geradores a diesel no convés agora fornecem eletricidade para necessidades básicas, como carregamento de laptops. Mas os processos cruciais conduzidos pelo sistema de caldeiras cessaram – mais notavelmente, a “inertização”, na qual gases inertes são bombeados para os tanques onde o petróleo bruto é armazenado, para neutralizar os hidrocarbonetos inflamáveis ​​que sobem do petróleo.’

Muitas pessoas familiarizadas com o Safer o comparam ao armazém nas docas de Beirute, cheio de nitrato de amônio, que explodiu em 2020.’

‘O Safer ameaça não apenas os ecossistemas do Mar Vermelho, mas também a vida de milhões de pessoas. Um grande derramamento fecharia uma rota de transporte movimentada.’

Cenários possíveis

Antes de mais nada, o www.newyorker.com especulou sobre os possíveis cenários. De antemão, todos catastróficos. Diz a publicação, que uma empresa de seguros calculou os custos de limpeza caso o óleo seja derramado. Nada menos que 20 bilhões de dólares!

‘Um incêndio ou uma explosão no Safer poderia poluir o ar de até oito milhões de iemenitas e complicaria a entrega de ajuda externa à costa ocidental.’

‘A indústria pesqueira do Mar Vermelho do Iêmen já foi devastada pela guerra. Uma mancha de óleo a derrubaria completamente.’

A guerra no Iêmen

Enquanto isso, a guerra no Iêmen ganha fôlego. ‘O conflito esquecido do Oriente Médio’, contudo, matou mais de 230 mil pessoas, enquanto 20 milhões estão condenadas à miséria e à fome. Já, os prejuízos da precária infraestrutura são incalculáveis.

É neste cenário tétrico que a ONU precisa agir. Como?

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Em março deste ano, os houthis assinaram um acordo, consentindo  que a ONU executasse um plano para o Safer. No geral, diz o site agsiw.org, o plano custaria US$ 144 milhões. Entretanto, a primeira fase de emergência exigiria cerca de US$ 80 milhões. Ela eliminaria a ameaça movendo o óleo do navio apodrecido para um novo, até que um navio substituto seja encomendado.’

ONU pede ajuda financeira

Dada a iminência da catástrofe, a ONU passou o chapéu entre seus membros. Finalmente, em 2023, a organização comprou um navio-tanque Euronav e conseguiu esvaziar a carga abandonada do FSO Safer de 1,14 milhões de barris de petróleo bruto. Mas, em razão da guerra, o casco continua lá, esperando para afundar.

Ele aguentará?

Assista ao vídeo e perceba o tamanho do perigo

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