Navegações Vikings, afinal, como eram orientadas?
Todos os povos antigos que lograram se tornar os mais poderosos em suas respectivas épocas o fizeram dominando a navegação. A história aí está para provar. Assim foi com os fenícios, cartagineses, egípcios, gregos, romanos e, mais tarde, os portugueses entre tantos outros. E duas habilidades superiores eram essenciais: a engenharia náutica capaz de desenvolver um barco melhor que os anteriores, e a arte da navegação, ou seja, a orientação em mar aberto. Os vikings, por exemplo, desenvolveram o fantástico Drakkar, superando a engenharia náutica de seu tempo. Mas, e as navegações vikings, como, afinal, eles conseguiam se orientar em mar aberto?
Navegações Vikings, o Drakkar
Como já mostramos, o Drakkar surgiu no século 9 (Não foi único tipo, havia muitos outros). Tinha um comprimento médio de 28m. Largura, 3m. Velocidade de até 12 nós (22 Km), excelente para a época, e forte o suficiente para os tempestuosos mares do Norte em que navegava.
Construído com toras de carvalho, o Drakkar era comprido (longships), e podia levar até 40 tripulantes, ou mais. Em média tinha 32 remos, 16 de cada lado, além da vela quadrada. O drakkar enfrentava bem o mar, e tinha pouco calado (mas com quilha, uma novidade para a época) o que permitia que encalhasse facilmente nas praias, e um dos poucos barcos oceânicos capazes de, igualmente, navegar por rios.
Com estes barcos, os habitantes do que hoje conhecemos por Escandinávia, criaram assentamentos na Groenlândia, a 1.600 Km de distância, e a Islândia; aterrorizaram a Europa desde o final do século 8, desembarcaram na América do Norte, e foram os primeiros a chegar aos Açores, além de cruzarem o continente europeu pelos rios (fundaram o primeiro Estado russo cuja capital era Kiev), estabelecendo redes comerciais até Constantinopla – hoje Istambul, Turquia.
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A arte da navegação viking
A bússola, por exemplo, só chegou à Europa por volta do fim do século 12, começo do século 13. Então, como os vikings navegavam? Como todos os antigos, quando possível eles simplesmente seguiam o litoral, mantendo-se longe o suficiente da costa e dos bancos de areia e recifes.
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Para atingirem a Europa, a navegação era costeira, enxergando terra quase todo o tempo. O www.viking.archeurope diz que evidências de topônimos indicam que marcos proeminentes na costa ajudaram a navegação. A maioria dos ataques à França e à Inglaterra poderia ter sido realizada dessa maneira.
Além disso, contribuía para a orientação, observações do sol, nuvens, estrelas, aves, mamíferos marinhos, bem como o comportamento dos ventos, das ondas, e até mesmo a temperatura da água e a circulação das correntes. E, sempre que possível, esperavam em terra firme até que o vento fosse favorável. Com as velas quadradas que usavam, significava vento a favor, ou seja, de popa. Os remos eram usados sobretudo em rios, ou para manobras de atracamento especialmente.
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Vulcões submarinos podem ser a origem da lenda da AtlântidaConheça o navio de guerra mais antigo do mundo ainda em serviçoNaufrágio com 3.300 anos muda compreensão da navegação no mundo antigoAinda assim, deve ter sido muito difícil. Quanto mais ao Norte, maior a chance de cerração, ou céus claros durante todo o verão, o que lhes impediria a observação dos astros.
Pedra de sol e o prumo
Contudo, para atingir a Groenlândia e América, tiveram que atravessar grandes porções de mar aberto. Como? Segundo matéria do New York Times, “As sagas nórdicas referem-se a um “sunstone” (pedra de sol, em tradução livre) que tinha propriedades especiais quando apontadas para o céu.”
“Em 1967, um arqueólogo dinamarquês, Thorkild Ramskou, propôs que estes cristais revelavam padrões distintos da luz no céu, causados pela polarização que existe mesmo em tempo nublado ou quando o sol se põe abaixo do horizonte.”
“Um estudo publicado na Royal Society Open Science avança essa ideia, sugerindo que os vikings tinham uma grande chance de chegar a um destino como a Groenlândia (apesar de a terem descoberto por acaso) em dias nublados ou de neblina se usassem pedras do sol e as verificassem pelo menos a cada três horas.
Se de fato a pedra do sol ajudava, os vikings teriam noção da latitude. E até sem ela poderiam fazê-lo pela observação do sol e das estrelas, especialmente a estrela polar, ou marcando a altura máxima do sol ao meio-dia e comparando sua latitude com lugares conhecidos. Esta seria outra forma de ajudar na sua localização, assim navegavam os nautas lusitanos pelo Atlântico Sul, Norte, e Índico.
Lembremos que a latitude nos dá a posição em relação ao eixo Norte-Sul; para sabermos a posição no eixo Leste-Oeste, só com o cronômetro muitos séculos depois.
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Experimentos modernos com a pedra do sol
Segundo o atlasobscura.com, a pedra do sol era na verdade pedaços de cristal de calcita. Thorkild Ramskou, um arqueólogo dinamarquês, apontou como a calcita trata a luz polarizada – ou seja, ondas de luz vibrando em um único plano, em vez de em todas as direções – de uma maneira que cria padrões que os observadores podem ver.
Pesquisa da Universidade de Rennes identifica o sol
“Em 2011, um grupo de pesquisa da Universidade de Rennes relatou sucesso ao identificar o sol, colocando um ponto em cima de um cristal de calcita e observando-o de baixo. Ramskou propôs que os marinheiros poderiam ter usado o cristal para acompanhar a posição do sol e, em seguida, manobrar o navio na direção geral que eles queriam.”
A mesma fonte diz que, No início de 2018, Dénes Szás e Gábor Horváth, físicos da Universidade Eotvos de Budapeste, publicaram um relatório na Royal Society Open Science descrevendo como eles modelaram 36.000 viagens durante várias estações.
“Com base em seus cálculos, os pesquisadores relatam que, se uma equipe viking calibrasse uma pedra do sol e a verificasse a cada três horas, havia mais de 90% de chance de chegar perto o suficiente para ver a costa da Groenlândia.”
Além dela, usavam o prumo. Com este simples instrumento, também usado pelos nautas e outros antigos navegadores, ao aproximarem-se de terra podiam saber não só a profundidade, mas igualmente o material do fundo do mar.
Contudo, é certo que, por sua importância, os conhecimentos de navegação provavelmente eram passados de uma geração para outra em razão de seus sucessos pioneiros.
Os vikings desempenharam um papel fundamental na história escandinava e europeia. Grande parte de sua capacidade de controlar várias regiões do norte da Europa e contribuir para o comércio e o transporte dependia de sua capacidade de criar embarcações incríveis e nelas saberem navegar.
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1948, descoberta de um disco de madeira
De uma forma ou de outra, não resta dúvida de que os vikings conheciam os segredos da navegação. Em 1948, diz o www.viking.archeurope.info, arqueólogos descobriram um fragmento de um disco de madeira em um local na Groenlândia que havia sido ocupado por colonos nórdicos no século X.
Este disco foi interpretado por alguns estudiosos como uma forma simples de bússola solar, mas um estudo recente sugere que pode ser um dispositivo para determinar a latitude. Este disco foi igualmente objeto de estudo publicado na National Library of Medicine.
Alguns feitos de uma sociedade extraordinária
Nossa fonte, a partir de agora, passa a ser o escritor Neil Price, autor do esplêndido Vikings – A história definitiva dos povos do Norte (Ed. Crítica).
Claramente, um dos principais componentes do fenômeno viking foi o navio. Os rápidos avanços na tecnologia da energia do poder naval não foram de forma alguma o único gatilho, mas as aventuras escandinavas no mundo mais amplo não poderiam ter acontecido sem os barcos.
Neil Price diz que não foi apenas uma questão de desenho aprimorado, de navios com calado mais raso e melhor manejo. O mais importante destes fatores, pois por sua própria natureza era fundamental para o sucesso da navegação viking, foi a introdução da vela.
Velas no hemisfério Norte a partir do século 8
E conclui: embora comum nas culturas clássicas do Mediterrâneo, as velas parecem ter aparecido pela primeira vez no Norte durante o século 8. Para que ficassem menos permeáveis ao fluxo de ar, as velas eram untadas com sebo, óleo de peixe ou outras substâncias como alcatrão.
E o autor nos mostra que a produção de barcos, mesmo naquele período, era ‘quase’ industrial. ‘No século 10, frotas de 200 navios ou mais não eram incomuns nas campanhas fluviais europeias.’ E mais: ‘Isso exigiu nada menos que uma reorganização da economia fundiária.’
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São dados que provam a organização da sociedade viking muitos antes do que seria imaginável. Price mostra a que ponto chegava esta ‘organização’. Tente imaginar, por exemplo, a quantidade de tecido necessária para a produção de velas, e roupas de frio, para uma frota de 200 embarcações (às vezes mais…).
O autor conta que arqueólogos calcularam que as necessidades de tecidos, por volta do século 11, ‘teriam chegado a cerca de 1 milhão de metros quadrados, em outras palavras, a produção anual de cerca de 2 milhões de ovelhas.’
Necessidade de madeira
Para o autor, não só a construção de navios, mas também de edifícios, aspectos de infraestrutura e obras de defesa exigiam tempo, conhecimento especializado e imensas quantidades de madeira de florestas cuidadosamente gerenciadas.
Por falar em edifícios, recentemente foi descoberta uma possível fortaleza Viking, na Ilha Wolin, Báltico. Segundo a imprensa, um mistério de séculos pode estar no fim caso o achado seja mesmo Jomsborg onde os guerreiros se juntavam a uma ordem mercenária possivelmente mítica de nome Jomsvikings..
Por último, Neil Price conta sobre a reconstrução de um navio viking ‘meticulosamente’ utilizando as mesmas técnicas tradicionais. E diz: ‘Daí se deduziu que sua fabricação teria levado 2.650 dias/pessoa. Além de 13.500 horas adicionais de trabalho no ferro para os rebites e outros acessórios. Todo o processo também teria usado mais de dois quilômetros de cordas e 120 metros quadrados de vela.”
Manejo de florestas pelos vikings
“O acesso a terras florestadas e o direito de explorá-las eram, portanto, fatores de grande importância na economia e transmitidos através das gerações. A gestão de ambientes florestais complexos exigia planejamento e, sobretudo, investimentos a longo prazo. Um carvalho totalmente crescido que era derrubado para a construção de um navio podia ter sido plantado para essa finalidade sessenta anos antes ou mais.”
Portanto, fica claro que, ao contrário do estereótipo que mostra ‘hordas de sanguinários guerreiros em aparente baderna’ investindo contra inimigos e usando capacetes com chifres laterais (que nunca existiram), era um sociedade bem organizada. Ainda que de fato sanguinária, cujo maior feito foi a descoberta e controle das rotas comerciais do período e em uso até hoje.
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Rotas estas que incluíam não apenas o Mar do Norte e o oceano Ártico. “Seu alcance se estendia para além de Bizâncio e até mesmo do mundo Árabe (vikings negociaram com Bagdá, entre muitos outros), adentrando a estepe asiática para se conectar com as lendárias Rotas da Seda.”
A saga viking e a saga lusitana
Para o Mar Sem Fim, estes aspectos que demonstram a organização da sociedade viking em seu périplo marítimo comercial só teve equivalência com a saga náutica lusitana, séculos mais tarde. Ela começou com o rei D. Diniz que, depois da reconquista aos muçulmanos, organizou a marinha portuguesa ainda em 1317, sem a qual nada seria possível.
Em seguida, os reis que o sucederam, assim como fizeram os vikings, cuidaram de plantar e proteger florestas ainda nos séculos 13 e 14 para que, a partir de século 15, com as melhorias da engenharia naval aplicada à caravela no que foi o drakkar para os vikings, pudessem, a partir de 1415, iniciar seu movimento expansionista quando o país descobriu o sistema de ventos e correntes, em consequência, controlou as rotas comerciais do Atlântico Sul, e do Índico, dominando a Carreira das Índias por mais de cem anos. As mesmas rotas do comércio mundial usadas até hoje.
Desse modo, Portugal também deixou uma herança a exemplo dos vikings. Ou seja, levou sua língua e cultura aos cinco continentes, estendendo o território aos arquipélagos dos Açores e da Madeira, assim estabelecendo um regime colonial em vários países africanos, Timor-Leste e até mesmo na Índia.