Mudanças climáticas, 2022: uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde do planeta
O último relatório do IPCC é dramático e não deixa dúvidas. Divulgado em 28 de fevereiro, o primeiro parágrafo alerta: ‘As mudanças climáticas induzidas pelo homem estão causando perturbações perigosas e generalizadas na natureza e afetando a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo, apesar dos esforços para reduzir os riscos. Pessoas e ecossistemas menos capazes de lidar com a situação estão sendo os mais atingidos, disseram cientistas no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).‘Mudanças climáticas 2022: uma ameaça à vida humana.
Ameaça ao bem-estar humano e à saúde do planeta
O relatório teve 270 autores de 67 países, com mais de 34.000 referências citadas e sua abertura segue na sequência. “Este relatório é um alerta terrível sobre as consequências da inação”, disse Hoesung Lee, presidente do IPCC. “Isso mostra que a mudança climática é uma ameaça grave e crescente ao nosso bem-estar e a um planeta saudável. Nossas ações hoje moldarão como as pessoas se adaptam e a natureza responde aos crescentes riscos climáticos”.
Mudanças climáticas 2022: ‘Impactos severos, alguns irreversíveis, mesmo com apenas mais 1,5ºC’
O mundo enfrenta vários riscos climáticos inevitáveis nas próximas duas décadas com o aquecimento global de 1,5°C. Mesmo excedendo temporariamente este nível de aquecimento resultará em impactos severos adicionais, alguns dos quais serão irreversíveis. Os riscos para a sociedade aumentarão, inclusive para infraestrutura e assentamentos costeiros de baixa altitude.
Infelizmente, como vimos denunciando, o Brasil ainda não acordou para este problema. Nós simplesmente não temos planos ou políticas públicas para o aquecimento, a despeito dos inúmeros avisos dentro e fora do País.
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O calor está matando mais pessoas, a seca está matando mais árvores e o aquecimento dos oceanos está matando mais recifes de corais, os berçários dos oceanos. Mas sem ação, o pior está por vir, disse o relatório, e mais rápido do que os cientistas pensavam.
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O relatório destaca as lacunas e a desigualdade social: ‘Para evitar a perda crescente de vidas, biodiversidade e infraestrutura, é necessária uma ação ambiciosa e acelerada para se adaptar às mudanças climáticas…Até agora, o progresso na adaptação é desigual e há crescentes lacunas entre as medidas tomadas e o que é necessário para lidar com os riscos crescentes, segundo o novo relatório. Essas lacunas são maiores entre as populações de baixa renda’.
Alguém se lembra de Petrópolis devastada por um evento extremo?
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Foi o que disse o Secretário-geral da ONU, António Guterres. Ele se referia à única boa notícia do IPCC: ‘um futuro habitável permanece ao nosso alcance. Mas a janela de oportunidade para ação é breve e rapidamente vai se fechando.’
Mas combater os impactos climáticos por si só não funcionará. O IPCC afirma com veemência que a crise climática é inseparável do declínio da biodiversidade e da pobreza e desigualdade sofridas por bilhões de pessoas.
Segundo o jornal The Guardian, “Já vi muitos relatórios científicos no meu tempo, mas nada parecido com isso”, disse Guterres. Laurence Tubiana, da Fundação Europeia do Clima e um dos arquitetos do acordo climático de Paris de 2015, disse que o relatório foi “brutal” e “não pode haver mais desculpas” para a inação.
3,5 bilhões de pessoas são altamente vulneráveis aos impactos climáticos
‘Já 3,5 bilhões de pessoas são altamente vulneráveis aos impactos climáticos e metade da população mundial sofre graves faltas de água em algum momento a cada ano, segundo o relatório. Uma em cada três pessoas está exposta ao estresse térmico mortal, e isso deve aumentar para 50% a 75% até o final do século’.
Inundações, doenças, e população costeira mundial
‘Mais meio milhão de pessoas correm o risco de inundações graves todos os anos, e um bilhão que vive nas costas estará exposto até 2050, segundo o relatório. O aumento das temperaturas e das chuvas está aumentando a propagação de doenças nas pessoas, como a dengue, e nas plantações, gado e vida selvagem’.
183 milhões de pessoas passarão fome até 2050
Mesmo que o mundo continue aquecendo abaixo de 1,6°C até 2100 – e já estamos em 1,1°C – então 8% das terras agrícolas de hoje se tornarão climaticamente inadequadas, logo após a população global atingir o pico acima de 9 bilhões.
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O atraso no crescimento grave pode afetar 1 milhão de crianças somente na África. Se o aquecimento global continuar e pouca adaptação for implementada, projeta-se que mais 183 milhões de pessoas passarão fome até 2050.
Proteção de lugares selvagens e da vida selvagem
Apesar de nosso atual governo ser contrário às poucas (ao menos na região costeira) áreas protegidas existentes, e ao mesmo tempo procurar acabar com as existentes por decreto, ou asfixiá-las sem orçamento, o relatório do IPCC pede mais: ‘a proteção de lugares selvagens e da vida selvagem é fundamental para lidar com a crise climática. Mas animais e plantas estão sendo expostos a condições climáticas não experimentadas por dezenas de milhares de anos. Metade das espécies estudadas já foram forçadas a se mudar e muitas enfrentam a extinção’.
‘Manter a resiliência da natureza em escala global depende da conservação de 30% a 50% da terra, água doce e oceanos da Terra, disse o relatório do IPCC. Hoje, menos de 15% da terra, 21% da água doce e 8% dos oceanos são áreas protegidas, e algumas regiões, como a Amazônia, deixaram de armazenar carbono para emiti-lo’.
Segundo o Guardian, ‘O relatório do IPCC também deixa claro que a adaptação à crise climática é tanto um problema social quanto científico. A melhor maneira de dar proteção efetiva e duradoura contra o caos climático é por meio de ações que abordem “desigualdades como aquelas baseadas em gênero, etnia, deficiência, idade, localização e renda’.
É o que dizia o decano da proteção ambiental no Brasil dos tempos modernos, Paulo Nogueira Neto para quem, acabar com a pobreza seria o primeiro passo. O relatório alertou que as “perdas e danos” climáticos estão “fortemente concentrados entre as populações vulneráveis mais pobres”, que menos fizeram para causar o problema.
Mudanças climáticas 2022: 14% de todas as espécies que vivem em terra estão em risco de extinção
O site www.vox.com destacou que ‘Se o planeta aquecer 1,5 graus Celsius – o que é quase certo – até 14% de todas as plantas e animais em terra provavelmente enfrentarão um alto risco de extinção, de acordo com o relatório. A perspectiva se torna mais grave se as temperaturas subirem ainda mais; com 3 graus de aquecimento, por exemplo, até 29% das espécies em terra podem enfrentar a extinção’.
O problema é que muitos não acreditam que a temperatura suba apenas 1,5ºC indicando que a hecatombe será ainda pior.
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Metade de todas as espécies se mudaram para os polos ou para as montanhas
Foi outro destaque do site www.vox.com já abordado por este site. ‘A mudança climática também está reorganizando ecossistemas inteiros. Para escapar de temperaturas mortais, plantas e animais estão se mudando para climas (antes) mais frios – ou seja, em direção aos polos, montanhas ou águas mais profundas’.
‘Essas mudanças são especialmente perceptíveis no mar, onde eles viajaram em média 59 quilômetros (37 milhas) por década em direção ao polo, de acordo com o relatório. O aquecimento do clima também está mudando os animais de outras maneiras. Um grande número de estudos, por exemplo, sugere que muitas espécies estão diminuindo de tamanho.
Recifes de corais podem diminuir em 90%
Se isto de fato acontecer, significa praticamente o fim da vida marinha. Mas é o que diz o IPCC. ‘Os cientistas climáticos têm um prognóstico especialmente sombrio para os recifes de coral: apenas 1,5 graus Celsius de aquecimento pode destruir até 90% dos recifes de coral tropicais, que abrigam uma incrível diversidade de organismos e formam a base de muitas pescarias’.
O aquecimento global atinge os recifes com um golpe duplo. Os oceanos absorvem um terço ou mais do dióxido de carbono que entra na atmosfera, o que os torna mais ácidos ao longo do tempo.
Isso é uma má notícia para os recifes – assim como a água excepcionalmente quente. O aumento da temperatura do oceano pode fazer com que os corais ejetem as algas que convivem harmoniosamente com eles, em um processo conhecido como branqueamento. Corais branqueados são mais propensos a morrer. E no Brasil, os corais já enfrentam um sério branqueamento, assim como os de exterior.
Já na Grande Barreira de Corais, da Austrália, parte considerável já se foi.
Como retardar a crise de extinção
Simples, mas difícil ao mesmo tempo. Protegendo os berçários terrestres, marinhos e aquáticos. Para este fim, ainda este ano autoridades governamentais de todo o mundo se reunirão para fechar um acordo global para evitar a perda da biodiversidade.
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O acordo – que faz parte de um tratado internacional chamado Convenção sobre Diversidade Biológica (no Brasil praticamente ignorada pela mídia e autoridades) provavelmente incluirá o compromisso de conservar pelo menos 30% de todas as terras e mares até 2030.
E ficamos por aqui.
Acompanhe as palavra de António Guterres sobre mais este relatório do IPCC
Imagem de abertura: www.zurich.com.
Fontes: https://www.vox.com/down-to-earth/2022/3/1/22954531/climate-change-ipcc-wildlife-extinction; https://www.theguardian.com/environment/2022/feb/28/what-at-stake-climate-crisis-report-everything; https://www.treehugger.com/ipcc-report-describes-impact-of-warming-5220579?utm_campaign=treehugger&utm_medium=email&utm_source=cn_nl&utm_content=26879284&utm_term=.