Mediterrâneo, o mais poluído mar da Europa
Olivia Gérigny, pesquisadora do Instituto Francês de Exploração do Mar (Ifremer), e principal autora do estudo de 20 anos sobre poluição de resíduos no Mar Mediterrâneo foi categórica: “Na década de 1990, havia cerca de 100 resíduos por quilômetro quadrado. Em 2012, o número havia subido para cerca de 200. Por último em 2015 atingiu o pico com cerca de 300 resíduos por quilômetro quadrado ”
Mar do Norte
Em comparação, o Mar do Norte tem uma densidade de cerca de 50 resíduos por quilômetro quadrado, ou seja, quase seis vezes menos do que no Mediterrâneo.
Mediterrâneo e o período do estudo
Sacos, garrafas, latas, embalagens, cordas, redes de pesca, roupas … 60% dos resíduos que formam o chamado ‘tapete’ no fundo do mar do Mediterrâneo contêm plástico, de acordo com o estudo do Ifremer, que abrange o período 1994-2017. E as fontes são múltiplas: passeios de barco comercial ou recreativo, pesca, aquicultura, aterros sanitários, áreas industriais ou urbanas.
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570.000 toneladas de plástico são lançadas no Mediterrâneo a cada ano
A BBC também fez matéria sobre o ‘mar com fim’, como o chamava Fernando Pessoa. A rede inglesa informa que relatório do Fundo Mundial para a Natureza – WWF– ( 2019) aponta que todos os países do Mediterrâneo tiveram um desempenho inferior no gerenciamento da contaminação por plásticos.
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Para o WWF, “70.000 toneladas de plástico são lançadas no Mediterrâneo a cada ano. Em outras palavras, o equivalente a 33.800 garrafas de plástico a cada minuto.”
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Esta é uma verdade mundial. Pode ser na Europa, na América do Sul, ou na Ásia. O plástico não é um material dos mais recicláveis, ao contrário. Para o WWF, “Todos os países devem revisar toda a sua cadeia de suprimentos … Essa é a única maneira de manter o plástico fora do Mediterrâneo”. Segundo a ONG, “a costa do sudeste da Turquia tem a maior poluição plástica, com 31,3 kg de detritos por quilômetro.’
O relatório também destacou o Egito como a maior fonte de plástico, seguido pela Turquia.
Reciclar 100% dos itens de plástico
Esta é a (quase impossível) recomendação da ONG: “o relatório disse que todos os governos do Mediterrâneo deveriam estabelecer metas para reutilizar e reciclar 100% dos itens de plástico, criando assim zero desperdício. Ele também pedia a retirada gradual de itens plásticos de uso único.
Custo da poluição marinha no Mediterrâneo: 568 milhões de Euros por ano
O WWF diz que ‘a poluição marinha custa aos setores de turismo, pesca e marítimos cerca de 568 milhões de Euros a cada ano’. E acrescentou: ‘A menos que tomemos medidas, a poluição por plásticos na região deve quadruplicar até 2050’.
Esta é uma data que já foi muito citada por pesquisadores. Um relatório de 2016 do World Economic Forum e da Ellen MacArthur Foundation informa que, a continuar nesta toada, em 2050 haverá mais plástico que peixes (em peso) nos oceanos. Que tal?
O Mediterrâneo e sua importância
Para a BBC ‘o Mar Mediterrâneo representa menos de 1% da área oceânica global, mas é importante em termos econômicos e ecológicos. Contém entre 4% e 18% de todas as espécies marinhas e fornece receitas de turismo e pesca para os países do Mediterrâneo.
Berço da civilização Ocidental
Berço da civilização ocidental, a exploração do Mediterrâneo começou há milênios. E segue firme e forte até hoje. Todos os indicadores confirmaram ameaças aos seus recursos pesqueiros. Um estudo avaliou 1.912 espécies de anfíbios, aves, peixes cartilaginosos, peixes endêmicos de água doce, caranguejos mamíferos, e répteis. Destes, diz a União Internacional para Conservação da Natureza, ‘cerca de 19% das espécies são ameaçadas de extinção, 5% em perigo crítico, 7% ameaçadas e finalmente 7% vulneráveis.
Ao todo 24 países são banhados pelo Mediterrâneo. Entre eles, alguns países ricos da Europa, como Espanha, França e Itália, e outros nem tanto, como a Albânia e Grécia. No lado asiático, a Síria e o Líbano despontam como dois dos dois mais pobres. E ainda há, na África, o Egito, Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos.
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Pesca no Mediterrâneo
A pesca no Mar Mediterrâneo segue normas da Política Comum das Pescas (PCP). O controle do esforço de pesca combinado com medidas técnicas específicas, como regulação de artes de pesca, estabelecimento de um tamanho mínimo de referência e fechamento seletivo de áreas e estações do ano, ou cotas para certas espécies, são as principais estratégias adotadas.
Mesmo assim, a ONG Oceana diz que “o número de espadartes no Mediterrâneo está em estado crítico. Décadas de sobrepesca e falta crônica de planos de gestão e recuperação levaram a uma queda de 70% na quantidade de peixe-espada no Mediterrâneo”.
Quanto ao atum, a situação também é crítica. Apesar do peixe fazer parte da história da humanidade, pintado em cavernas pelos homens primitivos, e tendo sua imagem foi cunhada em moedas; a primeira referência que se conhece sobre a pesca da espécie data de 700 a.C, no mar Egeu (O Atum em Portugal). Cardumes de atuns serviram de alimento para os gregos e, posteriormente, para legiões romanas. Atualmente, estão à mingua…
As cotas nem sempre resolvem. A sanha da pesca industrial nada respeita. Em 2018 descobriram até mesmo contrabando de atum rabilho no Mediterrâneo, envolvendo França, Itália, Espanha e Malta.
Imagem e abertura: google
Fontes: https://www.euractiv.com/section/energy-environment/news/mediterannean-is-europes-most-waste-polluted-sea-study-says/; https://www.bbc.com/news/world-48554480; https://www.iucn.org/downloads/the_mediterranean_a_biodiversity_hotspot_under_threat_factsheet_en.pdf;