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Maré vermelha em Santa Catarina sinaliza ocupação desordenada

Maré vermelha em Santa Catarina sinaliza ocupação desordenada

Uma das formas para entender a insustentável ocupação da zona costeira brasileira é observar os sinais da natureza. Eles incluem uma série de avisos que realçam cada aspecto de nossas ações ao longo das últimas décadas. Um deles, por exemplo, é a maré vermelha que, ano após ano, se estabelece ao largo de Santa Catarina, ora no sul, ora no centro, ou no norte do Estado. Em 2024 não poderia ser diferente. Segundo notícias que chegam do Sul, as pessoas avistaram o fenômeno nesta semana em Balneário de Camboriú, Itajaí, Prainha, Bombinhas, e também na orla de Florianópolis.  O Instituto do Meio Ambiente (IMA) confirmou que o fenômeno também ocorre na orla da Baía Sul, região central de Floripa. A maré vermelha nada mais é que um sinal de nossos seguidos erros de ocupação.

maré vermelha em Florianópolis
Imagem, divulgação IMA.

Entenda o que é a Maré vermelha

Marés vermelhas são fenômenos naturais provocados por mudanças de temperatura nas águas dos mares,  alteração dos níveis de salinidade, e outros. Mas também estão associadas à ação humana…

Neste caso, da ação humana, elas são uma reação provocada por excesso de nutrientes como esgotos não tratados, poluição urbana, fertilizantes, maricultura intensiva, e outros, que despejam  rejeitos no mar. Estes elementos, ricos em compostos de nitrogênio, carbono, ferro, fósforo, alteram a composição química dos oceanos, favorecendo a proliferação de algas e bactérias nocivas. Estas, muitas vezes tingem a água, tamanha sua quantidade, em tons próximos do vermelho (mas nem sempre), daí o nome.

Santa Catarina, por sua vez, tem naturalmente alta densidade demográfica na orla. Mas o Estado carece de saneamento básico como acontece em todo o País, para além disso, há uma certa forçação de barra, espécie de contenda interna onde os municípios costeiros disputam para saber qual deles conseguirá o maior adensamento possível, valorizando torres tão indecentemente altas que impedem insolação nas praias! Para encerrar, 90% da produção da maricultura brasileira vêm de suas águas. Está pronta a receita perfeita para a formação, e repetição anual, da maré vermelha ao largo de Santa Catarina.

A falência moral dos municípios costeiros de Santa Catarina

A bem da verdade, a falência moral dos municípios costeiros não é privilégio do Estado. Ela está por toda a zona costeira. Entretanto, Santa Catarina exagera, ultrapassa os limites.

Vários prefeitos já perderam seus mandatos devido a malfeitos; muitos casos ocorreram na capital, Florianópolis. Lá, a disputa por áreas com vista para o mar levou à condenação de prefeitos que permitiram a ocupação de manguezais e restingas pela construção civil em troca de vantagens pessoais.

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Jurerê Internacional é um dos paradigmas da especulação imobiliária. Contudo, não é a única praia dilapidada. Campeche, a praia dos Ingleses, e a praia Cachoeira de Bom Jesus são outros exemplos na ilha. Fora dela, ao norte ou ao sul, proliferam outros como Garopaba, o cabo de Santa Marta, Bombinhas, Camboriú, Perequê, ou Itajaí.

Como a infraestrutura fica estacionada enquanto cresce vertiginosamente a ocupação, ano após ano, a reação é a mesma: Marés vermelhas em profusão num Estado em que o turismo é essencial para a economia.

Janeiro de 2023: “surto de diarreia em Florianópolis é epidemia”

Em janeiro de 2023, auge da temporada de verão, publicamos Balneário Perequê (SC), outro Balneário Camboriú? para comentar algumas aberrações do litoral do Estado.

Entretanto, falamos também dos problemas recorrentes: ‘Ainda em 5 de janeiro, com a estação do sol mal começando e milhares de argentinos lotando hotéis e pousadas, o Estado enfrentava um surto de diarreia sem precedentes no litoral. Segundo a gauchazh.clicrbs.com.br, o caso mais grave aconteceu em Florianópolis, onde a prefeitura classificou a situação como uma epidemia.’

Imagem, divulgação IMA.

Epidemia, em medicina, significa também surto periódico de uma doença infecciosa em dada população e/ou região. Isto quer dizer que a capital do Estado convive com surtos de diarreia há anos. E nem assim o poder público muda sua atuação. Quer mais uma prova?

Caótica revisão do Plano Diretor de Florianópolis em 2023

Em 2023 aconteceu mais uma revisão do Plano Diretor da cidade, que se arrastava há anos. Não foi surpresa sabermos, entre outras, que as administrações de Gean Loureiro (União Brasil), seguida pela de Topázio Neto (PSD), foram acusadas por uma parcela de cidadãos no documento ‘Manifesto por um Plano Diretor Popular para a Florianópolis que Queremos’.

Segundo o manifesto, os estudos técnicos não apresentaram a capacidade suporte da cidade, envolvendo macrodrenagem, abastecimento de água, esgotamento sanitário, resíduos sólidos, entre outros estudos ambientais.

ICMBio: “Plano Diretor tem mais retrocessos que avanços ambientais”

E não foi só. Segundo o cotidiano.sites.ufsc.br ‘O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) afirma que o Plano Diretor tem mais retrocessos que avanços ambientais e que os mapas de zoneamento não foram apresentados no projeto, o que impede a preservação adequada das Áreas de Preservação Permanente (APPs). A mesma crítica foi feita pelo  Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).’

Esta revisão nada mais é que outra prova da decadência moral municipal do Estado. Mas há outras. Uma delas, de 2019, quando a prefeitura prometeu a despoluição do mar de Florianópolis. O trecho escolhido foi a Avenida Beira-mar Norte, na parte defronte à orla. A prefeitura limparia 3,5 km da baía até 2020, construindo uma Unidade Complementar de Recuperação Ambiental (URA), para tratar a água contaminada da rede de drenagem antes de lançá-la ao mar.

Operação da URA  da Beira-Mar Norte não resolveu o problema

Em 5 de julho de 2024, o site da prefeitura de Florianópolis informava que ‘ainda em relação às praias da Baía Norte, a Companhia segue com a operação da URA  da Beira-Mar Norte. Lançada em março de 2019, com o custo de R$ 18 milhões, trata-se de uma Unidade para complementar o sistema de esgoto existente na região central, tratando a carga residual de esgotos que persiste nas galerias de drenagem e que chega ao mar’.

Desde que entrou em operação, a URA tem apresentado resultados significativos na orla. Se ainda não foi possível contribuir para balneabilidade das praias, tendo em vista que existem 22 galerias que drenam águas pluviais de ligações irregulares das edificações e das próprias redes para o mar, pelo menos já se impediu o lançamento de cerca de 10 bilhões de litros de esgoto sem tratamento na Beira-Mar.

A justificativa da prefeitura, Se ainda não foi possível contribuir para balneabilidade das praias, mostra o tamanho do buraco. Assim, ainda em julho de 2024, o Floripa Amanhã anunciava que ‘a maré vermelha está se espalhando pelo litoral catarinense e já foi avistada até na Beira-Mar, em Florianópolis’.

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Não à toa, a prefeitura informou que mesmo com a URA ainda não foi possível contribuir para balneabilidade das praias.

Prejuízos da maré vermelha em 2024

Felizmente, desta vez não aconteceu em pleno verão, como em anos anteriores, isso ameniza os prejuízos. Contudo, nem todos. Por exemplo, a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC) recomenda que seja suspenso o consumo de ostras e mexilhões nas áreas de maré vermelha.

Esta proibição traz prejuízos tanto aos produtores, como ao Estado. Mas não fica apenas nisso. No superadensado Balneário de Camboriú a maré vermelha começou pela praia de Laranjeiras, o que também prejudica o turismo, a imagem da ‘Dubai dos Trópicos’, e o comércio na região.

Segundo o Dr. Carlos Eduardo Tibiriçá, oceanógrafo do IMA (Instituto do Meio Ambiente), em declaração ao NDMais, o fenômeno se dá pelas chuvas do outono no RS e na bacia do rio Uruguai, com as correntes oceanográficas que trazem essa mistura de água doce com água salgada. O especialista diz que, dependendo da direção dos ventos, o fenômeno pode atingir o Paraná e São Paulo, como aconteceu em 2016.

“As correntes trazem essa água que os gino flagelados adoram, e as correntes vão se espalhando pelo Litoral de forma heterogênea. Isso tende a durar por algumas semanas, até dois a três meses, dependendo do quanto o clima e os leitos fluviais continuarem favoráveis a essa espécie.”

Mas, atenção, não são apenas as correntes que causam o problema, mas elas aliadas à falta de saneamento e à poluição. E, da poluição, ninguém escapa. Nem os riquíssimos de Camboriú, muito menos os mais pobres que se espalham ao longo da orla.

Assista ao vídeo e saiba mais

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