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Mar de Aral: renascimento após um colapso ambiental histórico

Mar de Aral: renascimento após um colapso ambiental histórico

Recentemente publicamos um post para relembrar e jogar luz sobre um “mar” pouco conhecido por sul-americanos. Isso se deve à sua localização distante, no Oriente Médio: Mar Morto está secando e pode até desaparecer. O texto teve ótima recepção entre os leitores do Mar Sem Fim. O post mostra como a ação humana acelera a degradação ambiental. Mesmo em um “mar” que, na verdade, é um lago salgado. O Mar Morto tem esse nome desde os tempos bíblicos. Pode desaparecer em 30 ou 40 anos. O tema nos motivou a falar de outro “mar” distante, desta vez na Ásia Central: o mar de Aral.

O  colapso: de oceano interior a deserto de sal

 Vamos à localização, segundo a Britannica: o Mar de Aral é um lago salgado que já foi gigantesco, na Ásia Central. Fica na fronteira entre o Cazaquistão (ao norte) e  Uzbequistão (ao sul).

Era raso, mas extenso. Já ocupou o posto de quarto maior corpo d’água interior do planeta. Hoje, seus fragmentos resistem no centro climático mais inóspito da Ásia Central, a leste do Mar Cáspio.

Selo russo criado para aumentar a conscientização sobre o mar que virou deserto. DOMÍNIO PÚBLICO

Como a irrigação soviética drenou um dos maiores lagos do mundo

O desaparecimento do Mar de Aral preocupa cada vez mais os cientistas. O lago perdeu área e volume de forma impressionante desde a segunda metade do século 20. Na época, a região ainda fazia parte da União Soviética. E o encolhimento seguiu no século 21.

A principal causa foi o desvio dos rios que o alimentavam. O Syr Darya, ao norte, e o Amu Darya, ao sul. Ambos tiveram suas águas redirecionadas para projetos de irrigação. Eram as principais fontes de entrada de água no Mar de Aral.

E o que dizem os cientistas sobre a água, o “ouro azul” do século 21? Que os maus tratos, o crescimento populacional e o aquecimento global, colocam o planeta em risco. Se nada mudar, não está longe o dia em que a humanidade pode entrar em guerra por causa da escassez desse recurso vital.

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A geologia

A Britannica explica que a formação do Mar de Aral começou no período Neogeno, há cerca de 23 milhões de anos, durante a era Cenozoica.

Na fase inicial e intermediária do Pleistoceno (entre 2,6 milhões e 11.700 anos atrás), a região secou. Depois, voltou a ser inundada entre o fim do Pleistoceno e o início do Holoceno, ou seja, há pouco mais de 11.700 anos.

Dando um salto no tempo: do Holoceno direto ao século 20. Após esse período de secas e enchentes, os dois grandes rios — Amu Darya e Syr Darya — conseguiram manter o nível do Mar de Aral relativamente alto. Isso durou até a década de 1960.

Agora, no século 21, também chamado de “século da tecnologia”, é hora de ouvir o que dizem outras fontes.

A União Soviética e um enorme projeto de desvio de água

Segundo a NASA, na década de 1960, a União Soviética lançou um enorme projeto de desvio de água. O objetivo era irrigar as planícies áridas do Cazaquistão, Uzbequistão e Turquemenistão.

Os dois principais rios da região, o Syr Darya e o Amu Darya, foram os escolhidos. Eles nascem nas montanhas distantes, alimentados pelo degelo e pela chuva. Antes do projeto, corriam pelo deserto de Kyzylkum até se encontrar na parte mais baixa da bacia, onde formavam o Mar de Aral.

Com o desvio, os rios passaram a abastecer fazendas de algodão e outras culturas. E o deserto virou campo agrícola — às custas do colapso ecológico do Mar de Aral.

De mar interior para deserto. Imagem, ARIAN ZWEGERS/CC BY 2.0.

As imagens de satélite que revelaram a tragédia

Imagens do espectrorradiômetro MODIS mostram as mudanças com clareza. A série começa em 2000, quando o lago já era apenas uma fração do que foi em 1960 — como indica a linha amarela nas imagens.

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Naquele momento, o Mar de Aral do Norte (ou Mar de Aral Pequeno) já havia se separado do Mar de Aral do Sul (o Grande). Era o início de um colapso visível do espaço.

Foto de 2001.

A foto abaixo mostra a rapidez da secura já em 2007…

Mar de Aral em 2013.

E finalmente, em 2018…

Mar de Aral em 2018.

Pesca, clima, saúde pública: as consequências do desaparecimento

O rápido encolhimento do Mar de Aral causou uma série de problemas ambientais. No fim dos anos 1980, o lago já havia perdido mais da metade do volume que tinha em 1960.

A água ficou cada vez mais salgada e poluída por fertilizantes e pesticidas. O leito seco do lago virou fonte de poeira tóxica. Essa poeira, carregada por ventos, espalhou produtos químicos sobre os campos ao redor.

O solo se degradou. Para manter a agricultura, os produtores passaram a usar mais e mais água dos rios. A indústria pesqueira colapsou. Portos como Aral, no nordeste, e Mnoynoq, no sul, ficaram isolados, longe da nova margem do lago.

Veio o êxodo. Famílias abandonaram as comunidades que viviam da pesca. A vida aquática desapareceu. Uma perda imensa, ainda mais se lembrarmos o valor do esturjão e de seu cobiçado caviar.

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Mar, cadê o mar? Imagem, britânica.com.

Água, o ‘ouro azul’, e as guerras do futuro

O objetivo deste post, como tantos outros, é claro: alertar. Nossas ações têm enorme poder de causar danos — hoje e, principalmente, no futuro.

Mesmo assim, os direitos das futuras gerações a um meio ambiente saudável não aparecem entre os direitos garantidos.

Não é curioso? Ou melhor: não é trágico?

Mar de Aral:  um dos piores desastres ambientais causados pelo homem

Segundo  site do Banco Europeu, o Mar de Aral é um dos piores desastres ambientais causados pelo homem na história do mundo moderno. O desastre afeta diretamente mais de 33 milhões de pessoas que vivem na bacia do Mar de Aral, com um efeito devastador sobre o meio ambiente e a economia locais.

O retorno do Mar de Aral: uma história de recuperação

Segundo o EOS Data Analytics, em 19 de maio de 2021, a Assembleia Geral da ONU designou a região do Mar de Aral como uma “zona de inovações e tecnologias ecológicas”.  Tanto os presidentes do Cazaquistão quanto do Uzbequistão se comprometeram a restaurar três milhões de hectares do fundo seco do Mar de Aral através do reflorestamento, com o Cazaquistão prometendo uma floresta de 1,3 milhão de hectares até 2030.

O projeto visa testar métodos de florestamento no fundo seco do Mar de Aral, a cerca de 50 quilômetros da aldeia mais próxima de Karateren. Um componente-chave do projeto é o plantio de saxaul preto, um arbusto resistente endêmico da Ásia Central. Conhecido por suas raízes profundas, o saxaul preto melhora a qualidade do solo, reduzindo a salinidade e aumentando o conteúdo de matéria orgânica.

Ao longo de 2023, a área, situada em um deserto com precipitação mínima, mostra um progresso lento, mas constante, no crescimento dos saxauls. Assim, a restauração do Mar de Aral é um farol de esperança e um símbolo de resiliência.  Os projetos ERAS-I e ERAS-II, em colaboração com os governos uzbeque e cazaque, é um compromisso global com a sustentabilidade ambiental.

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Assista ao vídeo e saiba mais

Imagem de abertura: britânica.com

Ciência e tecnologia – para onde olha a humanidade hoje?

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