Mar de Weddell abriga maior berçário de peixes do mundo
Aqui no Mar Sem Fim, ficamos radiantes quando temos boas notícias. Infelizmente, elas estão cada vez mais raras. Vivemos um momento crítico. O planeta abriga cerca de 8 bilhões de pessoas. E essa superpopulação, movida pelo consumo excessivo, pressiona os limites da Terra. O resultado? Uma crise climática que muitos cientistas consideram a maior ameaça à vida humana: o aquecimento global e suas consequências. Justamente por isso, a descoberta do maior berçário de peixes do mundo, na Antártica, é tão bem-vinda. Em tempos difíceis, encontrar sinais de abundância e vida é um alívio.

Pesquisando no Mar de Weddel
Autun Purser, do Instituto Alfred Wegener, estava na ponte do navio quebra-gelo alemão RV Polarstern. Navegava pelo Mar de Weddell observando baleias com câmeras especiais.
“Esperávamos ver o fundo do mar antártico normal, mas, durante as primeiras quatro horas de mergulho, não vimos nada além de ninhos de peixes”, contou Purser. Ele é o principal autor do estudo publicado na revista Current Biology.
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Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Garopaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperançaSegundo o jornal The Guardian, a equipe fez a descoberta por acaso. Usava um sistema de batimetria e observação do fundo do mar: uma câmera rebocada que grava fotos, vídeos e mede o habitat em águas profundas. O ecossistema surgiu diante deles de forma inesperada — e impressionante.
O navio quebra-gelo RV Polarstern
O RV Polarstern é relativamente novo, mas já tem muita história. Em 2020, ele foi a base da maior missão científica já realizada no Ártico — tema que abordamos aqui no site.
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A expedição começou em 2019 com cerca de 100 pessoas, entre cientistas, técnicos e tripulantes. Enfrentaram não só o frio extremo, mas também a pandemia de coronavírus. Mesmo assim, foi um sucesso.
Agora, o mesmo navio protagoniza outro feito. Descobriu o maior berçário de peixes do mundo, desta vez no extremo oposto: o polo Sul. Participações desse porte são raras. O Polarstern se firma como um dos grandes símbolos da ciência polar.
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Enquanto observava o fundo do mar, de repente, Purser pôde ver ninhos de peixes marcando o fundo do mar a cada 25 centímetros em todas as direções e, ainda por cima, cobrindo área de 240 quilômetros quadrados, equivalente a um terço do tamanho de Londres!
“A câmera estava se movendo [pelo fundo do mar] e, simplesmente, não parava estavam por toda parte”, disse à Live Science.
Os únicos vertebrados que não têm hemoglobina no sangue
Entretanto, os ninhos pareciam pequenas tigelas esculpidas na lama do fundo marinho por peixes-gelo Notothenioidei (Neopagetopsis ionah), nativos do oceano austral.
Aparentemente, os peixes são os únicos vertebrados conhecidos que não têm hemoglobina no sangue. Por causa disso, peixes-gelo são considerados “de sangue branco”.
Autun Purser logo deu-se conta de que a descoberta era ‘algo espetacular’, como à ela se referiu. Peixes-gelo tendem a nidificar em grupos, mas, “antes os maiores berçários tinham quarenta ninhos ou algo assim”.
O local da descoberta comporta nada menos que 60 milhões de ninhos “nós nunca vimos nada assim no planeta”.
Peixes-gelo são predados por focas de Weddell
Além dos peixes vivos cuidando de seus ninhos, a equipe encontrou algo inesperado: várias carcaças espalhadas pelo fundo do mar. Isso indica que a colônia de peixes-gelo faz parte essencial do ecossistema local. Provavelmente, serve de alimento para as focas de Weddell.
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“É extremamente provável que as focas estejam comendo esses peixes”, disse Autun Purser. “Se você perde os ninhos, talvez perca também as focas. É comida demais para não ter impacto. Esses ninhos influenciam todo o ecossistema do Mar de Weddell — e talvez até de outras áreas da Antártica.”
Explosão de vida nos mares profundos
O pesquisador comemorou a descoberta. Ao Guardian, afirmou: “Os mares profundos não são desertos. São, de fato, abundantes em vida. Encontrar ecossistemas tão grandes e desconhecidos mostra o quanto ainda temos por descobrir.”
A revelação do berçário de peixes rivaliza com outro achado recente: o terceiro berçário de raias-manta, descoberto em 2020.
Ainda há tempo para evitar o colapso. Mas é preciso agir. Proteger o que ainda existe é o primeiro passo.
Imagem de abertura: www.quantamagazine.org