Fazendas marinhas offshore, o início de uma nova era
A aquicultura é hoje o setor de produção de alimentos que mais cresce no mundo. Com potencial para combater a desnutrição e ampliar a oferta global de proteína animal, sua importância estratégica só tende a aumentar. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), a produção aquícola deve crescer 80% até 2050. Mas há um problema. As fazendas de peixes marinhos instaladas no litoral, comuns na Europa e América do Sul, enfrentam duras críticas. Deixam um rastro de poluição no ambiente costeiro — resíduos acumulados, doenças e fugas de peixes. Agora, começam a surgir iniciativas em mar aberto. Estaríamos diante de uma nova era na produção de alimentos marinhos?

Os principais problemas das criações de peixes
Segundo o site marine.offshore.bureauveritas.com, os maiores desafios da aquicultura marinha são claros: poluição, doenças e fuga de peixes. Os governos, pressionados por grupos ambientais, enfrentam a crescente cobrança por mais sustentabilidade.
A recomendação é evitar áreas sensíveis — como lagoas, fiordes e baías — e migrar para o mar aberto. Faz sentido. Em alto-mar, as correntes são mais fortes e ajudam a dispersar os resíduos, reduzindo o impacto ambiental que é comum nas criações costeiras.
A falta de regulamentação
Apesar do crescimento acelerado da aquicultura, o setor ainda carece de regulamentação clara. Alguns países, como Escócia e Noruega, já possuem marcos regulatórios nacionais bem estabelecidos.
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Crescimento da produção mundial
Mesmo com os problemas das fazendas costeiras e a falta de regulamentação para instalações offshore, o avanço da aquicultura é incontestável. Desde 2018, segundo a FAO, metade da produção global de pescado já vem da aquicultura.
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A China lidera com folga, responsável por até 50% desse total. Outros grandes produtores incluem Indonésia, países do norte da Europa e o Chile.
Necessidades da produção offshore
De acordo com a seguradora Swiss Re, a criação de frutos do mar de alto valor exige águas frias, distantes até 130 quilômetros da costa, e profundidades que podem chegar a 1.000 metros.
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Estes são alguns dos motivos que inspiraram a…
Ocean Sovereign: fazendas móveis em alto-mar
Uma das soluções mais inovadoras vem da startup Ocean Sovereign. A empresa propõe fazendas móveis, que se deslocam em alto-mar criando peixes em seu habitat natural. “Movemos a aquicultura para o oceano, levando os peixes de volta para onde pertencem”, afirma o site oficial, que apresenta a tecnologia batizada de Ocean Arks.
Segundo Karl Morris, chefe de desenvolvimento de negócios, a empresa já tem todas as aprovações regulatórias, planos finais de engenharia e projeto executivo. “Incluímos melhorias no projeto original para obter essas aprovações. Também firmamos acordos com grandes estaleiros, capazes de construir uma embarcação tão especial”, explica.
Tecnologia para reduzir impactos e custos
A nova geração de fazendas offshore aposta em soluções sustentáveis. Um exemplo é o uso de redes de cobre, material natural com propriedades antimicrobianas comprovadas há décadas. Essas redes dispensam o uso de produtos químicos e reduzem a necessidade de mergulhadores e barcos para manutenção — diminuindo custos e o risco de doenças entre os peixes.
O Chile, um dos maiores produtores de salmão do mundo, também avança nesse setor. As fazendas chilenas, frequentemente criticadas por seus impactos ambientais, agora investem em inovação. Segundo o site salmonbusiness.com, a startup Ocean Arks Tech planeja lançar duas embarcações semiautônomas com capacidade para criar até 3.900 toneladas de peixes, distribuídas em quatro a oito baias móveis a bordo.
Custos e desafios das fazendas de peixes marinhos móveis
O projeto original da Ocean Ark prevê a criação de até 3.900 toneladas de peixes por unidade, com um custo estimado em US$ 22 milhões por embarcação.
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Embora já tenha sido considerado tecnicamente viável e navegável, ainda enfrenta entraves legais. A criação de peixes em mar aberto depende da liberação das zonas econômicas exclusivas (ZEEs) de cada país — e esse processo costuma ser lento e burocrático. Por ora, a produção offshore é permitida em alguns locais, mas segue sem regulamentação clara na maior parte do mundo.
Mesmo assim, a combinação entre tecnologia, mobilidade e menor impacto ambiental pode inaugurar uma nova era — talvez a primeira realmente sustentável — na produção de peixes em larga escala. Ainda é cedo para comemorar, mas o avanço é evidente.
E, pasme, temos um bom exemplo aqui mesmo, no Brasil. A Prime Seafood, fundada em 2012 em Alcobaça, sul da Bahia, é a primeira fazenda marinha em terra do Brasil.
Assista à animação da Ocean Sovereign