Fazenda subaquática, conheça a primeira em ação
O nosso século também é chamado, por vezes, de século 21, o século da tecnologia. Pudera. É difícil acompanhar os avanços da ciência tal a quantidade. E eles estão em todas as nossas atividades. Do automóvel elétrico, à internet das coisas, conceito segundo o qual, ‘todos os objetos da vida cotidiana estariam conectados à internet, agindo de modo inteligente e sensorial’. Não faz muito que demos destaque aos peixes criados em laboratórios. Mas há aspectos que ainda soam como ficção científica, como uma fazenda subaquática que hoje vamos conhecer.
Fazenda subaquática na Itália começou com um jardineiro inquieto
Há cinco anos, Sergio Gamberini, mergulhador profissional e jardineiro amador da Ligúria, região costeira do noroeste da Itália, estava saindo com os agricultores. “Comecei a me perguntar se as colheitas poderiam crescer no oceano”, diz. “Tive essa visão sobre uma horta dentro de um balão transparente cheio de ar”.
‘Seus amigos eram céticos.’
“Mas Gamberini, um engenheiro químico que administra uma empresa de equipamentos de mergulho, estava determinado a provar que sua ideia poderia funcionar. Dois dias depois, vestiu seu equipamento de mergulho e, a 6 metros abaixo do nível do mar, colocou um balão de plástico cheio de um pequeno pote no solo e sementes de manjericão no fundo do mar. Depois de alguns dias, pequenas folhas de manjericão estavam brotando.”
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Financiando a primeira fazenda subaquática funcional
E prossegue o site: “No ano seguinte, Gamberini, um auto-declarado “explorador de todas as coisas do oceano”, dedicou parte do orçamento de sua empresa familiar, Ocean Reef, para financiar a primeira fazenda subaquática totalmente funcional. Era uma questão de curiosidade pessoal: “Quero descobrir se a agricultura subaquática pode se tornar uma alternativa adequada durante a minha vida”.
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“Gamberini também espera que, se a agricultura subaquática decolar, ele seja o detentor da tecnologia patenteada. Hoje, seu projeto, chamado “Nemo’s Garden“, conta com seis estufas subaquáticas que hospedam cerca de 700 plantas, incluindo manjericão, tomate, salada, morangos, aloe vera, hortelã, manjerona e alcaçuz.”
The Guardian também noticiou a iniciativa:”a 100 metros da costa de Noli, no noroeste da Itália, fica um aglomerado de vagens semelhantes a balões presos ao fundo do mar por cordas com meia dúzia de metros de comprimento. Dentro, uma variedade de produtos é cultivada, incluindo repolho roxo, alface, feijão, manjericão e morangos.”
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O atlasobscura mostra que foram inúmeros os problemas enfrentados. “A jornada do que muitos viram como um ‘experimento estranho’ para uma fazenda subaquática em grande escala não foi fácil. De acordo com as leis ambientais italianas, é ilegal fazer alterações permanentes no fundo do mar. Portanto, o primeiro desafio foi criar estufas subaquáticas removíveis.”
“Inicialmente, projetamos semi-esferas feitas de cloreto de polivinil (PVC), um material termoplástico comum, muito leve e que pode ser facilmente removido”, diz Gianni Fontanesi, gerente de projetos de jardins de Nemo.
Mas, após a primeira tempestade de inverno, quando ondas arrancaram duas das estruturas subaquáticas, a equipe optou por uma estratégia diferente. “Agora usamos plexiglás rígido com um esqueleto de aço interno e externo”, explica Fontanesi, acrescentando que encontrar o projeto certo para evitar danos causados por tempestades tem sido o maior desafio até hoje.”
“As semi-esferas têm seis pés de largura e três pés de altura e são presas ao fundo do mar com 28 parafusos (removíveis). De acordo com Fontanesi, esse design garante estabilidade e permite oscilação suficiente para evitar destroços quando as ondas atingem.”
Fazenda exige mergulhadores qualificados
O jornal inglês Guardian, explica uma das dificuldades do projeto: “Mergulhadores qualificados são necessários para manter e operar os pods. Luca Gamberini, cuja família administra o Ocean Reef Group há seis décadas, reconhece que esse é um ponto difícil, mas acredita firmemente que a agricultura subaquática pode ser mais do que apenas um brinquedo para o cultivo de nichos de alto valor.”
A ciência da agricultura subaquática
“Em seguida, a equipe teve que descobrir a ciência da agricultura subaquática. A maior parte da luz é fornecida pela luz solar natural. “Recebemos 70% da luz solar em comparação com os níveis da superfície”, explica Fontanesi. Durante os meses de inverno ou dias nublados, a luz artificial das lâmpadas LED colocadas dentro das esferas complementa a luz natural. Essa eletricidade vem de painéis solares e de uma pequena turbina eólica em terra, que é fornecida às estufas, juntamente com água para irrigação, através de um sistema de tubos em forma de hélice dupla.”
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“Por enquanto, o projeto requer água fresca da terra. Mas, como Gamberini explica, o objetivo a longo prazo é aproveitar o processo de dessalinização natural que ocorre nas estufas. Isso tiraria vantagem do fato de que as estufas não são totalmente seladas.”
“Quando a água do mar entra em contato com o ar quente da estufa, ela evapora, perdendo seu componente salgado. Essa água “naturalmente dessalinizada” acaba condensando nas paredes da estufa em gotículas que podem ser coletadas e – após a adição de minerais – usadas para irrigação.”
Ativistas ambientais levantaram preocupações
“Alguns ativistas ambientais levantaram preocupações sobre o jardim de Nemo interromper o ecossistema oceânico circundante. Mas Fontanesi diz que, por enquanto, não há evidências de impacto negativo. “Alguns meses atrás, um de nossos mergulhadores encontrou uma lula grande colocando um ninho ao lado de um dos canos de energia”, diz ele. “Portanto, parece que peixes e outros animais estão encontrando uma maneira de coexistir com nossa fazenda.”
The Guardian diz que “O projeto de pesquisa, conhecido como Nemo’s Garden, começou em 2012 e atualmente é composto por sete estufas – biosferas – cada uma com capacidade para 8 a 10 bandejas ou 22 vasos de plantas.”
Fazenda subaquática e o banquete da colheita
“Setembro é provavelmente a melhor época para visitar. É quando o “banquete da colheita” acontece. “Nos reunimos com familiares e amigos e comemoramos o final do verão com alimentos cozidos com plantas subaquáticas”, explica Fontanesi. Um dos destaques gastronômicos é o pesto, o icônico molho de macarrão da Ligúria, preparado com manjericão subaquático. “Muitas pessoas nos perguntam se podemos distinguir o pesto comum”, diz Fontanesi. “Não sou especialista em manjericão, mas para mim tem o mesmo sabor.”
A química das plantas subaquáticas
“Até agora, a descoberta mais surpreendente diz respeito à química das plantas subaquáticas. As plantas cultivadas a 6 metros abaixo do nível do mar enfrentam o dobro da pressão atmosférica em comparação com suas contrapartes em terra. Segundo Fontanesi, isso levou a uma distribuição diferente de elementos químicos. As plantas de manjericão cultivadas debaixo d’água, por exemplo, têm maiores concentrações de eugenol (uma substância contida nos óleos essenciais de manjericão) e mais clorofila (a substância que permite a fotossíntese) em comparação com as plantas cultivadas em terra.”
Fitoterápicos feitos com ervas subaquáticas
“Para plantas que têm uso medicinal ou cosmético, isso pode se traduzir em efeitos terapêuticos elevados”, explica Fontanesi. Ele diz que uma empresa farmacêutica francesa alugou uma das estufas no ano passado e a transformou em um laboratório para criar protótipos de produtos feitos com ervas subaquáticas.”
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“Mas o objetivo final do projeto continua sendo transformar a agricultura subaquática em uma opção viável, especialmente em áreas onde a escassez de água é um problema. “Eventualmente, queremos criar um sistema que seja econômico e com energia suficiente para oferecer uma alternativa sustentável à agricultura terrestre”, explica Fontanesi. Isso levará anos, no mínimo. Mas se ele conseguir, um traje de mergulho e um tanque de mergulho podem se tornar tão padrão para os agricultores quanto macacões e tratores.”
A tecnologia ajudando os oceanos
Não é a primeira vez que escrevemos sobre o tema. Já mostramos nestas páginas navios movidos por novas formas de produção de energia eólica, e questionamos se cidades flutuantes sustentáveis serão o nosso futuro. Mas esta matéria nos faz lembrar de Julio Verne e seu Capitão Nemo nas 20 mil léguas submarinas…
E também a reconhecer que um dos primeiros a levar a sério a ficção, que aos poucos se torna realidade, foi Jacques Cousteau que, nos anos 60 estava envolvido com um conjunto de três projetos para construir “cidades” submarinas.
A nosso ver, o grande problema da iniciativa de Gamberini é alcançar preço competitivo, e escala. Os países mais desenvolvidos e ricos gastam muitíssimo mais na exploração do espaço sideral que nas infinitas possibilidades que o ambiente marinho, muito mais próximo porém igualmente difícil, oferece. Dados recentes (2013) mostram que nos EUA, um dos países que mais investem em ciências, enquanto a exploração oceânica foi contemplada com US$ 23.7 milhões, a exploração do espaço sideral recebeu US$ 3.8 bilhões.
Assim, só nos resta torcer para visionários como Cousteau, Gamberini, e outros, sozinhos mundo afora.
Assista ao vídeo, saiba mais e responda: é, ou não, ficção científica?
Imagem de abertura: Ocean Nemo
Fontes: https://www.atlasobscura.com/articles/are-there-underwater-farms; https://www.theguardian.com/sustainable-business/2015/aug/13/food-growing-underwater-sea-pods-nemos-garden-italy;