Eventos extremos, aumentam de intensidade e frequência, saiba o que são e quanto custam
Eventos extremos, aumentam, saiba o que são
Estudo elaborado por pesquisadores de várias instituições brasileiras comprova que cresceu, e muito, o número de eventos climáticos extremos na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), nos últimos 20 anos. Os dados alarmantes foram publicados recentemente (fevereiro de 2020) na revista científica Annals of the New York Academy of Sciences.
Mas o crescimento dos eventos extremos não aconteceu apenas em São Paulo, mas no mundo. As mudanças extremas estão relacionadas “à variabilidade natural do clima”, dizem os autores do estudo. Mas estão também fortemente associadas ao aquecimento global, em decorrência dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera.
O especialista José Antonio Marengo, pesquisador do CNPq, e Coordenador Geral de Pesquisa e Desenvolvimento no CEMADEN (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação MCTI, onde trabalha com eventos extremos, desastres naturais e redução de risco aos desastres, explica:
Os eventos climáticos extremos ocorrem de muitas formas, como enchentes, secas prolongadas, ondas de calor, tufões e tornados. Como resultado das mudanças climáticas provocada pelo homem, a frequência dos eventos climáticos extremos aumentou, tanto em termos de quantidade quanto de intensidade. Isso passou a ser observado de modo mais nítido a partir da segunda metade do século 20.
Eventos extremos recentes nas regiões do Brasil
Os dados são do estudo Eventos Climáticos Extremos no Brasil: Impactos, Ciência e Políticas Públicas, de Carlos Rittl, publicado em 2012.
Região Norte
São vários, e nas diversas regiões do País. Na Amazônia, por exemplo, eles se manifestaram em forma de secas em 2005 e 2010. Já, em 2012, foi registrada a maior enchente já registrada em Manaus. Como consequência houve desabastecimento de água e alimentos, impactos no transporte, na saúde pública.
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Região Nordeste
A pior seca aconteceu em 2012 (a mais severa em 50 anos) quando 1.100 cidades foram afetadas. Houve grandes perdas agrícolas e na pecuária, falta de água para consumo humano, impactos na saúde e migração. Já as enchentes aconteceram em 2009, 2010, e 2011, gerando mortes, desabrigados, perdas agrícolas, desabastecimento, impactos na saúde e economia.
Região Sudeste
Chuvas, enchentes e deslizamentos em 2010, 2011, 2012. Mais uma vez, mortes, desabrigados, desabastecimento, e perdas econômicas e na saúde foram as consequências.
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Em 2012 houve a maior seca em 50 anos, e as enchentes aconteceram em 2009,2010 e 2011, sempre com os mesmo impactos descritos em outras regiões.
Os custos dos eventos extremos
Estudos que procuram precificar os desastres naturais. Um deles, ‘Valorando tempestades- Custo econômico dos eventos climáticos extremos no Brasil nos anos de 2002- 2012‘, produzido pelo Instituto de Economia da UFRJ, com base no cruzamento de dados do ‘Atlas Brasileiro de Desastres Naturais‘ com uma estimativa média para o Brasil de custo econômico por pessoa afetada diz que,
Há danos ou custos diretos à infraestrutura social e econômica e à produção, a interrupção de serviços essenciais e também efeitos secundários macroeconômicos.
Gráfico assustador
Segundo CEPED (2013), 35% dos desastres climáticos registrados no Brasil no período de 1991 a 2012 foram diretamente relacionados com a ocorrência de fortes precipitações.
Resultados
Os resultados para a perda total no período 2002-2012 oscilam entre R$ 180 bilhões (estimativa usando o coeficiente R$/Desabrigado), R$ 300 bilhões (coeficiente R$/Desalojado) e R$ 355 bilhões (coeficiente R$/Afetado), com valor médio de R$ 278 bilhões.
O gráfico 5 mostra a evolução das estimativas de perdas anuais ao longo do período.
Os danos humanos no período
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Conclusões
O custo não mitigado das ocorrências desses eventos é alto, com tendência de aumento e afeta o país de forma generalizada. A parcela da população afetada por esses eventos entre 2002 e 2012 equivale a 25% da população brasileira.
Brasil e o desgoverno
Com o desgoverno que vivemos, estes relatórios terão serventia? A julgar pelo que temos visto, infelizmente, não. Oxalá estejamos errados, e tenhamos autoridades que de fato façam uso destes relatórios.
Em tempo: Carlos Rittl, em seu citado estudo, frisa que para mitigar os problemas é preciso sinergia, coerência entre outras políticas e instrumentos, planos de desenvolvimento nacional, de desenvolvimento urbano, de ocupação e uso do território e as políticas de mitigação e adaptação. Tudo que, no momento, não temos.
Fontes: http://www.brasil.gov.br/governo/2013/10/ibge-lanca-mapa-de-densidade-demografica-de-2010; http://www.observatoriodoclima.eco.br/wp-content/uploads/2016/02/ValorandoTempestades-Vfinal.pdf; http://150.162.127.14:8080/atlas/atlas.html; http://www.fbds.org.br/cop15/FBDS_MudancasClimaticas.pdf.