Corais ameaçados
Corais ameaçados: Atualizado
Em fevereiro de 2016, The Economist, provavelmente a mais prestigiosa revista do mundo, publicou uma matéria alarmante sobre as ameaças aos corais, o mais importante ecossistema marinho.
De onde vem o colorido dos corais?
O colorido dos corais, que fascina mergulhadores é formados pelo exoesqueleto de minúsculos animais, os pólipos. Eles não passam de cinco milímetros de diâmetro, mas cobrem vastas áreas oceânicas. Os corais são animais antigos. Existem há mais de 450 milhões de anos. Durante muito tempo, os pólipos foram considerados plantas. Hoje sabe-se que são ‘parentes’ das medusas e das anêmonas-do-mar… Mas este delicado equilíbrio está ameaçado pelo ser humano em prazo curto e longo. Mas, e as cores?
Fatores que afetam a cor do coral
Há alguns fatores que afetam a cor do coral. O primeiro e o mais relevante são as algas zooxanthellae. O corpo de um pólipo de corais é claro e as algas de zooxanthellae são células de pigmento que residem dentro do tecido do coral. É uma mistura dessas células que dão ao coral a sua generosa exibição de cor. Vários milhões de zooxanthellae podem habitar uma única polegada quadrada de coral. Outro fator que distingue a cor coral é a luz. Com a ajuda do sol, as células zooxanthellae liberam clorofila pelo processo de fotossíntese. A cor do coral é então determinada pela quantidade de clorofila liberada, bem como pela quantidade de luz disponível.
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Segundo a Economist, os corais da ilha de Oahu, Havaí, estão ameaçados no curto prazo pela sobrepesca, turismo, e poluição. No longo prazo a ameaça são os gases do efeito estufa.
Branqueamento dos corais
Outro problema é o aumento da temperatura dos oceanos que prejudica as algas. Quando isso acontece há uma diminuição das espécies (de algas) presentes no tecido dos corais. O exuberante colorido das estruturas, sinal de biodiversidade, empobrece, ocorrendo o branqueamento dos corais, tornando-os vulneráveis a doenças.
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El Niño e corais não se dão bem
Segundo a Economist, só duas vezes ocorreu semelhante branqueamento. A primeira coincidiu com o El Niño (1997-98), o maior fenômeno climático mundial, responsável pelo aquecimento da superfície do Pacífico. A segunda vez aconteceu em 2010. Uma terceira está acontecendo neste momento. No desastre de 1997- 98, cerca de 16% dos corais morreram. O atual branqueamento, mais uma vez coincidindo com o El Niño, pode ter afetado 38% dos corais de todo o mundo.
Corais cobrem menos de 0.1% do assoalho marítimo mas são o suporte para um quarto das espécies marinhas
Os corais são encontrados desde o Oriente Médio até a Austrália, passando pelas Américas. Eles cobrem menos 0.1% do assoalho marinho. Mas sua importância é muito maior. Eles protegem 150 mil quilômetros de litorais (contra a maresia), em mais de 100 países, agindo como uma antepara especialmente com mau tempo.
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Dois hectares de mangue em Paraty provocam discórdiaEuropa repudia o turismo de massa neste verãoPrefeitura de Ubatuba arrasa restinga da praia de ItaguáCorais também são o suporte para um quarto das espécies marinhas, e agem como berçário para inúmeras outras. No sudeste asiático os corais mais ricos ficam no que os pesquisadores chamam de “triângulo de corais”, área com 86.500 Km2, que contém dois terços das espécies de corais, e 3 mil espécies de peixes recifais.
Fertilizantes: inimigos dos corais
Mas o pior estrago é feito por fertilizantes usados na agricultura. Ao chegarem ao mar, inexorável destino final, estes implementos tornam-se alimento para algas nocivas que se proliferam de modo desproporcional, muitas vezes bloqueando a luz solar que os corais precisam para crescerem e se fortalecerem. A pesca, próxima aos recifes de coral, também contribui ao diminuir a população de peixes herbívoros, fazendo com que haja crescimento descontrolado da vegetação marinha.
Os corais como chamariz de turistas: problema ou solução?
O turismo na Grande Barreira de Corais, Austrália, movimenta US$ 4.6 bilhões de dólares apenas para a província de Queensland, um dos seis estados australianos, onde se localiza a Grande Barreira. Mesmo com estes recursos a ONU inclui mais este Patrimônio Mundial da Humanidade na lista dos que estão “em perigo”.
Um Km2 de corais vale 50 mil dólares
Em todo o mundo os corais são atrativos ao turismo. Estimativas sugerem que o valor dos corais de Martinica, e Santa Lucia, atingem a cifra de 50.000 mil dólares por Km2, ao ano, graças ao turismo. Mas o turismo desordenado é também uma séria ameaça. A construção de enormes hotéis perto da praia podem ser uma atração para tantos visitantes, mas o processo de construção pode matar a galinha dos ovos de ouro. Os sedimentos das obras acabam no mar, mais uma vez bloqueando a luz solar, essencial para a vida destes organismos.
As parcerias público privadas podem ser parte da solução
Parcerias público privadas também ajudam. Um projeto piloto em Barbados, financiado em parte pelos hoteleiros locais e organizações de turismo, vai passar a cobrar entrada de turistas em áreas protegidas geridas pelo Blue Finance, um fundo de investimentos alternativo, apoiado pelo programa ambiental da ONU, UNEP. O custo da criação da área protegida, MPA em inglês, é de um milhão de dólares, e sua manutenção anual custará metade deste valor. De acordo com Nicolas Pascal, um ambientalista/economista, “os investidores não se incomodam se as taxas de retorno forem um pouco abaixo da média do mercado, desde que estejam beneficiando Barbados”.
Conclusão: otimista apesar de tudo?
A conclusão da matéria é que a biodiversidade global dos corais pode ser a chave da salvação. O mesmo coral cresce de forma diversa em diferentes condições. As características que contribuem para que certos corais sobrevivam em condições pouco usuais, pode ajudar outros a enfrentar as duras mudanças climáticas.