Cobrar a indústria do tabaco, boa ideia
A Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou novas informações sobre o quanto o tabaco prejudica o meio ambiente e a saúde humana. E pediu medidas para tornar a indústria mais responsável. Provavelmente você sabe que milhões de pessoas morrem anualmente pelo consumo do tabaco. São 8 milhões ao ano. Contudo, você sabia que a indústria desmata 600 milhões de árvores e 200 mil hectares de terra no mesmo período? Que usa 22 toneladas de água por ano, ou que emite 84 mil toneladas de CO2? A OMS diz que a indústria do tabaco é responsável por 5% do desmatamento mundial. Depois das más, agora, as boas notícias. A indústria do tabaco será obrigada a pagar a conta pela limpeza dos milhões de pontas de cigarros que os fumantes descartam todos os anos sob as novas regulamentações ambientais da Espanha.
Boas ideias devem servir como exemplo
As boas ideias devem servir como exemplo. E bons exemplos podem e devem ser copiados. Segundo o Guardian, a medida espanhola entra em vigor ainda neste janeiro.
‘A decisão faz parte de um pacote de medidas destinadas a reduzir o desperdício e aumentar a reciclagem. Ela inclui a proibição de talheres e pratos de plástico de uso único, cotonetes, copos de poliestireno expandido e canudos de plástico, além de reduzir as embalagens plásticas de alimentos.’
‘A lei está em conformidade com uma diretiva da União Europeia que limita o uso de plásticos de uso único e que visa obrigar os poluidores a limparem a sujeira que eles criam.’
Mais lidos
Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemAcidente com dois petroleiros russos ameaça o Mar NegroVila do Cabeço, SE, tragada pela Usina Xingó: vitória na JustiçaConheça o submarino do Juízo Final, o russo BelgorodO mesmo princípio se aplica à indústria do tabaco. Contudo, diz o jornal, ‘ainda não está claro o custo, ou como será a limpeza.’
Entretanto, há estimativas. Uma delas, um estudo catalão, sugere um total de até 1 bilhão de euros por ano, tendo como base um custo entre 12 e 21 euros por cidadão.’
PUBLICIDADE
Simultaneamente, o Guardian sugere que as empresas do tabaco ‘repassarão o custo para o consumidor, dando mais um incentivo para o abandono do hábito.’
Portanto, a ideia é duplamente boa. Ajudará o meio ambiente e a saúde pública.
Leia também
Mitos e verdades sobre a campanha de despoluição do rio TietêBrasil pega fogo, espanta o mundo, e Lula confessa: ‘não estamos preparados’Houthis ameaçam Mar Vermelho com 1 milhão de barris de petróleoCinco bilhões de bitucas no mar todos os anos
Saltando direto ao foco do Mar Sem fim, vamos lembrar que, de acordo com a Ocean Conservancy, ‘as bitucas de cigarro são a forma mais comum de poluição marinha, mais até do que sacolas e garrafas de plástico, com cerca de 5 bilhões descartadas no oceano ao ano.’
Voltamos às informações da OMS que mostra o quão poluentes são os cigarros para o pulmão do mundo, ou seja, os oceanos e a vida marinha.
‘Os filtros de cigarro à base de acetato de celulose não são biodegradáveis, podendo permanecer no ambiente por períodos muito longos de tempo na forma de microplásticos (lembremos que estudos recentes repercutidos por aqui mostraram que triplicou a quantidade de microplásitocs no Mediterrâneo em 20 anos), o que pode causar dano significativo ao ambiente marinho e lagos, rios, estuários e ambientes aquáticos de zonas úmidas através de sua absorção no ambiente e no ecossistema.’
E tudo isto sem mencionar a poluição do ar. Mas há muito mais por trás da indústria do tabaco.
Seis trilhões de cigarros ao ano
A Organização Mundial da Saúde mostra que ‘6 trilhões de cigarros são fabricados todos os anos. Para serem comercializados, utilizam cerca de 300 bilhões de embalagens compostas de papel, tinta, celofane, papel alumínio e cola.’
‘Os resíduos de caixas usadas para distribuição e embalagens de produtos de tabaco em 2021 produziram resíduos de pelo menos 2 milhões de toneladas.’
PUBLICIDADE
Cultivo e agrotóxicos
E ainda há o uso excessivo de agrotóxicos. Segundo a OMS, ‘O cultivo do tabaco é intensivo em recursos, desse modo, requer uso pesado de pesticidas e fertilizantes, que contribuem para a degradação do solo. Esses produtos químicos escapam para o meio aquático contaminando lagos, rios, água potável, e oceanos.’
O tabaco no Brasil
Já mostramos aqui que “a Ocean Conservancy patrocina uma limpeza de praia todos os anos desde 1986. Por 32 anos consecutivos, as pontas de cigarro foram o item mais coletado nas praias do mundo, com um total de mais de 60 milhões durante o período.”
Mas, para além disso, estimativas da Organização Pan-Americana de Saúde, OPAS, mostram que ‘o custo para a limpeza dos resíduos no Brasil chega a mais de US$ 200 milhões ao ano.’
Imagine o quanto poderiam render 200 milhões de dólares aplicados, por exemplo, em nossas maltratadas e paupérrimas unidades de conservação do bioma marinho. Para tanto, em vez do custo recair sobre o cidadão (via impostos), deveria recair sobre os fabricantes. Ou seja, o que fez a Espanha.
No Brasil ‘Tabaco é Riqueza’
Co-como assim? Segundo o site Sinditabaco, ou seja, o site dos produtores do veneno, ‘Tabaco é Riqueza’. Mas não só riqueza. ‘Para garantir a sustentabilidade do setor e representar os interesses comuns das indústrias de tabaco, foi fundado em 1947, em Santa Cruz do Sul (RS), o Sindicato da Indústria do Fumo, posteriormente denominado Sindicato da Indústria do Tabaco da Região Sul do Brasil – SindiTabaco.’
‘Sustentabilidade do setor‘, diz o SindiTabaco, é mole? Na verdade, a afirmação é o que se convencionou chamar greenwashing, um anglicismo cujo significado é mentira industrial, você já deve ter ouvido falar.
Seja como for, o Brasil ‘é o segundo maior produtor mundial de tabaco e líder em exportações desde 1993’, gaba-se o Sinditabaco. E prossegue, ‘a cultura está presente em 508 municípios do Sul do país, envolve cerca de 138 mil pequenos produtores, 552 mil pessoas no meio rural e dá origem a 40 mil empregos diretos nas indústrias de beneficiamento.’
PUBLICIDADE
O governo federal e o tabagismo
O governo federal sabe dos males do tabaco, evidentemente não mencionados pelo Sinditabaco. Segundo o governo federal, ‘O tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são responsáveis por 428 mortes diárias no Brasil e aproximadamente 156 mil óbitos anuais’.
Mais adiante, diz o governo, ‘a exposição passiva à fumaça do tabaco estão relacionados ao desenvolvimento de aproximadamente 50 enfermidades, dentre as quais vários tipos de câncer, doenças do aparelho respiratório…’, em seguida enumera uma enorme lista de doenças, veja no site.
R$ 21 bilhões de reais por ano, o custo das doenças provocadas pelo tabaco
Outro site do governo federal mostra o custo anual das doenças provocadas pelo tabaco: ‘Um estudo realizado pela pesquisadora da Fiocruz Márcia Pinto com base nos valores monetários de 2011, intitulado “Carga das Doenças Tabaco Relacionadas para o Brasil”, estimou o custo atribuível ao tabagismo em 21 bilhões de Reais por ano para o sistema de saúde.’
É assustador, 21 bilhões de reais por ano! E este valor sai de nossos bolsos via impostos. A sociedade ainda está atônita com a destruição no litoral norte de São Paulo. Pois saiba que, segundo o IBGE, ‘8,27 milhões de brasileiros vivem em áreas de risco em 872 municípios do país.’
Agora imagine as milhares de pessoas em situação de risco que poderiam ser retiradas e alojadas em habitações dignas e seguras com investimento de 21 bilhões de reais por ano!
Já é mais que tempo de haver políticas públicas para dirigir estes 138 mil pequenos produtores, e respectivas cadeias, para outras culturas menos danosas que o veneno conhecido como tabaco. O Brasil precisa encarar esta realidade.
Com políticas públicas adequadas, pode levar algum tempo, mas estes 138 mil agricultores poderiam prosseguir em suas jornadas na roça sem, necessariamente, produzir algo tão nocivo à saúde, e ao meio ambiente, e aos cofres públicos, como a matéria mostra. Quem quiser fumar, que importe o produto e pague o preço.
Mas, ao mesmo tempo, o sindicato também deveria parar de mentir. ‘Sustentabilidade do tabaco’, pelo exposto, não existe nem aqui, nem em nenhuma parte do mundo.
A indústria mundial do tabaco por trás do negacionismo atual
Por último, este site já mostrou que a peste do negacionismo da ciência, doença crônica que atacou multidões além de líderes mundiais como os boçais Donald Trump e seu congênere caipira Jair Bolsonaro, tem por trás a indústria do tabaco desde os anos 50 do século passado e que, posteriormente, ainda recebeu contribuição da indústria do petróleo numa trama maquiavélica. Ambas estão por trás do negacionismo que nos assola neste momento. E este é apenas mais um motivo para penalizá-las.