‘Cidade perdida’ no fundo do oceano é um habitat que pode ter gerado vida no planeta
Até mais ou menos 1977 pensava-se que o assoalho marinho era um deserto de vida inanimado. Veja como sabíamos pouco sobre os oceanos. Na escala geológica da Terra de 4,5 bilhões de anos, 46 anos podem ser considerados como um átimo em espaço de tempo. Como poderia haver vida num local sem luz e com tremenda pressão? Pois até um ‘segundo’ atrás, era esta a impressão dos cientistas. No entanto, em 1977 quando as primeiras fontes hidrotermais foram descobertas, a National Geographic escreveu, “sabe-se hoje que as fontes hidrotermais são uma espécie de oásis para formas de vida completamente inesperadas, capazes de prosperar numa sopa química tóxica, onde as temperaturas podem atingir os 350o Celsius. Poucos anos depois, em 2000, outra descoberta balançou os alicerces da ciência, os campos hidrotermais, ou a ‘Cidade Perdida’ no fundo dos oceanos.
Estranhos habitats marinhos
Graças a estas descobertas, hoje sabemos que o assoalho marinho, mesmo nas maiores profundidades, é rico em vida. Sylvia Earle, uma das maiores autoridades mundiais sobre os oceanos, declarou: “Hoje sabemos que as pequenas criaturas que vivem na areia ou na lama dos mares profundos podem exceder nas mais ricas regiões dos continentes em termos de biodiversidade.”
Contudo, enquanto nas fontes hidrotermais a vida existe em razão da quimiossíntese (quando a energia é obtida pelos compostos inorgânicos oxidados), assim como acima d’água ela depende da fotossíntese, ou seja, ‘significa ”síntese utilizando a luz”, processo pelo qual um organismo consegue obter seu alimento’; temos agora os campos hidrotermais, onde existe vida em razão de reações químicas no fundo do mar.
O primeiro a ser descoberto, a mais de 700 metros abaixo da superfície, recebeu o nome de ‘Cidade Perdida’. Segundo a sciencealert.com, ‘Embora outros campos hidrotermais como este provavelmente existam, este é o único que os veículos operados remotamente conseguiram encontrar até agora.’
Mais lidos
Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemVírus da gripe aviária mata milhões de aves mundo aforaArquipélago de Mayotte, no Índico, arrasado por cicloneAcidente com dois petroleiros russos ameaça o Mar NegroComo surgiu vida em torno dos campos hidrotermais?
Segundo a sciencealert.com, ‘o Campo Hidrotermal de Cidade Perdida é o ambiente de produção de vida mais longa conhecido no oceano. Nada igual jamais foi encontrado.’
‘Ele foi descoberto perto do cume de uma montanha subaquática a oeste da Cadeia Dorsal Mesoatlântica (cordilheira submarina que se estende sob o oceano Atlântico e o oceano Ártico), uma paisagem irregular de torres surge da escuridão.
PUBLICIDADE
‘Por pelo menos 120.000 anos, e talvez mais, o manto ascendente nesta parte do mundo reagiu com a água do mar para produzir hidrogênio, metano e outros gases dissolvidos no oceano.’
‘Nas rachaduras e fendas das aberturas do campo, os hidrocarbonetos alimentam novas comunidades microbianas mesmo sem a presença de oxigênio. As chaminés expelindo gases tão quentes quanto 40°C são o lar de uma abundância de caracóis e crustáceos. Animais maiores como caranguejos, camarões, ouriços-do-mar e enguias são raros, mas ainda estão presentes.’
Leia também
Dois hectares de mangue em Paraty provocam discórdiaEuropa repudia o turismo de massa neste verãoPrefeitura de Ubatuba arrasa restinga da praia de ItaguáPara encerrar, ‘Apesar da natureza extrema do ambiente, ele parece estar repleto de vida, e os pesquisadores acham que vale a pena nossa atenção e proteção.’
A smithsonianmag.com confirma: ‘O que parece uma metrópole há muito abandonada é, na verdade, fervilhante de vida microscópica. Os trilhões de residentes microbianos da Cidade Perdida tornaram-se um fascínio para os cientistas.’
E conclui: ‘Esses micróbios, prosperando em um campo de fontes hidrotermais nas profundezas do Atlântico, guardam o segredo da sobrevivência da vida em ambientes tão hostis – e podem até fornecer pistas sobre as origens da vida na Terra.’
A vida se originou num habitat como este?
A resposta a esta pergunta é sim, pode ser. Segundo o sciencealert.com, ‘Como os hidrocarbonetos são os blocos de construção da vida, isso deixa em aberto a possibilidade de que a vida tenha se originado em um habitat como este. E não apenas em nosso próprio planeta.’
“Este é um exemplo de um tipo de ecossistema que pode estar ativo em Encélado ou Europa neste exato momento”, disse o microbiologista William Brazelton ao The Smithsonian, referindo-se às luas de Saturno e Júpiter.
“E talvez Marte no passado.”
E, então, é ou não uma descoberta interessante? A sciencealert.com demonstra a grande diferença das fontes hidrotermais para os campos hidrotermais: “Ao contrário das aberturas vulcânicas subaquáticas chamadas fontes hidrotermais, que também foram apontadas como um possível primeiro habitat, o ecossistema da Cidade Perdida não depende do calor do magma.
PUBLICIDADE
Formação dos campos termais
Sua formação é igualmente diferente, como informa a National Science Foundation ‘Estruturas de campos hidrotermais que foram descobertas por acaso em dezembro de 2000, no meio do Oceano Atlântico, incluindo uma enorme fonte de 18 andares mais alta do que qualquer outra vista antes, têm sua formação de maneira muito diferente das fontes hidrotermais estudadas desde a década de 1970.’
E, prossegue: “Esta nova classe aparentemente se forma onde a água do mar circulante reage diretamente com as rochas do manto. Ao contrário de onde a água do mar interage com as rochas basálticas das câmaras de magma abaixo do fundo do mar.”
Campos termais protegidos
Antes de mais nada, os cientistas defendem que estes locais recebam proteção. Artigo na ScienceDirect informa que os campos hidrotermais ‘estão dentro de uma Área Marinha Ecologicamente ou Biologicamente Significativa. Desse modo, foi considerado um possível local de Patrimônio Mundial.’
A necessidade de proteção é iminente especialmente porque em 2018 foi anunciado que a Polônia havia conquistado os direitos de mineração no fundo do mar ao redor da Cidade Perdida. Embora não haja recursos preciosos a serem extraídos no próprio campo termal, a destruição dos arredores da cidade pode ter consequências indesejadas.
Já comentamos inúmeras vezes a catástrofe que seria o início da mineração submarina. Mas tanto países da Europa, como países insulares do Pacífico, entre eles Papua Nova-Guiné, têm visto na atividade a sua salvação.