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Bill Gates quer revolucionar a geração energia

Bill Gates quer revolucionar a geração energia

Bill Gates, o bilionário que revolucionou a computação pessoal, está lançando um projeto para combater as mudanças climáticas. No final de 2023 a TerraPower, mais uma empresa fundada por Gates, anunciou a escolha da pequena cidade de Kemmerer, Wyoming, para a construção de um reator nuclear não tradicional, refrigerado a sódio. A cidade, com apenas 2.700 habitantes, vibrou. A maioria trabalha na usina de energia a carvão, Naughton da Rocky Mountain Power, que vai fechar as portas em 2025, ou na mina de carvão que também pode fechar. Assim, eles estão felizes por terem emprego garantido. Mas, a ideia do bilionário é muito mais que gerar novos empregos. Ele quer revolucionar o modo de produzir energia nuclear.

Bill Gates no lançamento da TerraPower.
Bill Gates no lançamento da TerraPower. Imagem, TerraPower.

A aposta de Gates: custo barato e produção de energia sustentável

Bill Gates começou a carreira com a Microsoft. Portanto, o filantropo e investidor, sabe do imenso consumo de energia dos atuais data centers. Eles consomem nada menos que 1% a 2% de toda energia produzida no mundo.

A Agência Internacional de Energia diz que centros de dados, criptomoedas e IA representaram quase 2% da demanda global de energia em 2022 – e isso pode dobrar até 2026 para quase igualar o consumo de eletricidade do Japão, revelou o Financial Times.

A pegada ecológica da alta tecnologia é imensa e não para de crescer

Em outras palavras, a pegada ecológica da alta tecnologia e uso de computadores no mundo é imensa e vai crescer ainda mais com a Inteligência Artificial. Por exemplo, para ter confiabilidade é preciso armazenar as mesmas informações em várias máquinas de um data center para criar redundância. Por isso, elas estão ligadas e acessíveis o tempo todo. Além da necessidade de fluxo constante de energia para os servidores, os data centers tradicionais geram calor significativo, exigindo energia substancial para sistemas de refrigeração. Os equipamentos esquentam tanto que a própria  Microsoft implantou seu primeiro centro de dados subaquático no Oceano Pacífico, na costa da Califórnia, como parte de um experimento chamado Projeto Natick.

Este uso excessivo de energia dificulta as tentativas de atingir as metas de mudança climática e sobrecarrega as redes. Enquanto isso, os data centers subaquáticos não requerem água para resfriamento ou quaisquer outras necessidades operacionais.

De todo modo, submergi-los tem seus problemas. O processo da instalação de cabos é caro. E quanto à manutenção de hardware? Se um servidor ou unidade de disco precisar de substituição, o que fazer? Enviar mergulhadores ou transportar o data center para a superfície?

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Outra opção seria operar em terra, apenas com energia renovável. Para isso, é preciso mudá-los para regiões com disponibilidade de energia eólica, solar, geotérmica ou hidrelétrica. E esta é outra dificuldade que vai gerar altos custos.

Os reatores de Bill Gates

De acordo com o site da TerraPower, ‘o reator Natrium usa metal líquido para transferir calor do reator, o sódio. As propriedades deste material permitem que o sistema opere a baixa pressão e esfrie naturalmente, tonando-o mais simples e seguro que qualquer reator nuclear em operação’.

‘Ao decidir por um projeto de planta muito mais simples, a tecnologia Natrium requer muito menos recursos para a construção e operação’.

Bill Gates já investiu um bilhão de dólares no TerraPower. O reator de nova geração custará US$ 4 bilhões e deve gerar um terço da energia dos reatores mais antigos. Para se ter uma ideia, os últimos dois reatores americanos construídos nos últimos 30 anos, as Unidades Vogtle 3 e 4 na Geórgia, custaram US$ 35 bilhões, mais do que o dobro das estimativas iniciais, e chegaram sete anos atrasados, informou o New York Times.

Serão 345 megawatts capazes de abastecer cerca de 345 mil casas

A APNews, informou que a TerraPower diz que sua usina relativamente pequena de 345 megawatts é capaz de abastecer cerca de 345 mil casas, será segura e menos cara do que as usinas nucleares convencionais refrigeradas a água. A abordagem não é nova. A Rússia tem um reator comercial refrigerado a sódio em uso em plena capacidade desde 2016 e tais projetos foram testados nos EUA.

Chris Levesque, presidente e CEO da TerraPower, disse à AP News que “se pudermos mostrar que a usina pode ser construída de forma acessível e a tempo, teremos pedidos de reatores adicionais do Natrium antes mesmo do primeiro começar. Na década de 2030, haverá uma demanda maciça por esse tipo de energia”.

As novidades do reator da TerraPower

Para o New York Times além de custos menores, o projeto da TerraPower tem outra caraterística única. A grande maioria dos reatores não consegue ajustar facilmente a sua produção de energia, o que dificulta a sua adaptação às flutuações dos parques eólicos e solares. O reator da TerraPower terá uma bateria de sal fundido que permite que a central aumente ou diminua a sua potência conforme necessário.

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O New York Times explica outras novidades. Atualmente, todas as centrais nucleares americanas utilizam reatores de água leve, em que a água é bombeada para o núcleo do reator e aquecida por fissão atômica, produzindo vapor para gerar eletricidade. Como a água é altamente pressurizada, essas usinas precisam de tubulações pesadas e grossos escudos de contenção para proteger contra acidentes.

O reator da TerraPower, por outro lado, utiliza sódio líquido em vez de água, o que permite funcionar a pressões mais baixas. Em teoria, isso reduz a necessidade de blindagem espessa. Em caso de emergência, a central pode ser arrefecida com saídas de ar em vez de complicados sistemas de bombas.

Reatores nucleares geram lixo radioativo

Segundo a CNBC em matéria de 2023, o lixo nuclear não é uma razão para evitar o uso de energia nuclear, de acordo com Bill Gates. ‘Uma crítica comum à energia nuclear é que os reatores nucleares geram resíduos que permanecem radioativos por milhares de anos. O volume de resíduos nucleares é muito pequeno, especialmente quando comparado com a energia gerada’, disse Gates.

Nos Estados Unidos  energia nuclear é classificada como uma “fonte de energia limpa de emissão zero”, porque a geração de eletricidade com fissão nuclear não libera emissões de gases de efeito estufa. Atualmente, 19% da eletricidade gerada nos Estados Unidos vem de usinas nucleares.

Atualmente, diz a CNBC,  os resíduos nucleares são armazenados em barris secos, que são latas de aço inoxidável cercadas por concreto. Entretanto, nem todos os resíduos nucleares têm o mesmo nível de radioatividade. A maior parte está em uma porcentagem muito pequena dos resíduos gerados.

“A grande maioria do volume de resíduos nucleares é de baixo nível de resíduos”, disse Jonathan Cobb, porta-voz da Associação Nuclear Mundial, à CNBC. “Cerca de 90% do volume de resíduos nucleares  contém apenas 1% da radioatividade.

Para o New York Times, o reator que está sendo construído pela TerraPower, uma start-up, não será concluído até 2030 e enfrentará obstáculos assustadores. A Comissão Reguladora Nuclear ainda não aprovou o projeto, e a empresa terá que superar os atrasos inevitáveis e consequentes aumentos de custos que já condenaram inúmeros projetos nucleares antes.

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Comissão Reguladora Nuclear dos EUA analisa o pedido

Segundo o New York Times em março de 2024, a TerraPower apresentou à Comissão Reguladora Nuclear um pedido de autorização para a construção do reator, com 3.300 páginas, mas a sua análise demorará pelo menos dois anos. A empresa tem de persuadir os reguladores de que o seu reator arrefecido a sódio não necessita de muitas das dispendiosas salvaguardas exigidas aos reatores tradicionais de água leve.

A defesa do projeto por seu criador

Bill Gates mantém o blog GatesNotes. Em artigo que publicou em junho de 2024, o investidor se dirige aos moradores da pequena Kemmerer para exaltar os novos empregos que sua usina vai gerar, a melhora da economia, etc. Mas também rebate críticas, e explica desde quando pensa na energia atômica. Fizemos um resumo.

Acabei de deixar a cerimônia de inauguração da primeira usina de Natrium, que trará tecnologia nuclear segura e de próxima geração para a vida no Wyoming. É um grande marco para a economia local, a independência energética da América e a luta contra as mudanças climáticas.

Minha jornada nuclear começou vários anos antes, quando li pela primeira vez um artigo científico para um novo tipo de usina nuclear. O projeto era muito mais seguro do que qualquer planta existente, com as temperaturas controladas pelas leis da física, em vez de operadores humanos que podem cometer erros. Ela teria um prazo de construção mais curto e seria mais barato para operar…

Quando olhei os planos para este novo reator, vi como repensar a energia nuclear poderia superar as barreiras que a impediram de ir mais longe – e revolucionar a forma como geramos energia nos EUA e em todo o mundo.

Então, começamos a TerraPower, onde os cientistas poderiam transformar o conceito  em realidade. Acredito que a usina nuclear de próxima geração alimentará o futuro de nossa nação – e do mundo. Tudo o que fazemos funciona com eletricidade: edifícios, tecnologia e cada vez mais transporte. Para atingir nossas metas econômicas e climáticas, precisamos de mais energia limpa abundante, não menos.

Assista ao vídeo do TerraPower e saiba mais

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