Adrien de Gerlache, primeiro navegador a invernar na Antártica
A Antártica é diferente de tudo que se conhece no planeta. É o único continente em cujo solo o ser humano não conseguiu se fixar. Foi uma sorte grande escapar da sanha da população humana, o que lhe conferiu outra característica que a diferencia de todos os outros continentes que, entre muitos problemas, vivem hoje o fenômeno da superpopulação com 8 bilhões de pessoas. Nunca antes na história de 4,5 bilhões de anos do planeta outra espécie foi tão dominante, e criou tantos problemas como o ser humano. Mas, o mais fascinante para este site sobre a história da Antártica, foram as inacreditáveis expedições do período que ficou conhecido como a ‘fase heroica’ da conquista Antártica. Hoje o post comenta uma destas expedições, chefiada por Adrien de Gerlache, o primeiro navegador a invernar na Antártica.
A expedição Belga 1897 – 1899
A despeito da Bélgica ter um litoral com menos de 70 quilômetros, a expedição Belga foi uma das 17 organizadas por dez países diferentes durante a ‘fase heroica’ da conquista da Antártica, já comentada neste site. E que antecedeu a ‘fase da exploração’, que vai da descoberta, em 1820, até o início da fase heroica, situada em 1895.
Na verdade, esta expedição abriu a ‘Era Heroica’ da Exploração Antártica, quando o foco internacional no continente resultou em intensa exploração científica e geográfica.
O grupo partiu de Antuérpia em 16 de agosto de 1897. Entre a tripulação estava Roald Amundsen, que se tornou célebre; Frederick A. Cook, um renomado médico norte-americano que mais tarde afirmaria ser o primeiro homem a chegar ao Polo Norte; além um gato com o nome do famoso explorador norueguês Fridtjof Nansen.
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A expedição do navio de três mastros, Belgica, foi chefiada por Adrien de Gerlache (1866-1934), e teve ninguém menos que Amundsen como imediato. Além de, posteriormente, ter sido o pioneiro a atingir o polo Sul, Amundsen também foi quem abriu a famosa Passagem Noroeste.
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A expedição é notável, e entrou para a história por ser a primeira à Antártida de natureza puramente científica, e também por ser a primeira vez que um navio invernou não polo Sul. Mas houve muitos problemas.
Adrien de Gerlache
Nascido em Hasselt, Bélgica, de Gerlache foi educado em Bruxelas. Desde muito jovem foi profundamente atraído pelo mar e fez três viagens em 1883 e 1884 para os Estados Unidos como grumete em um transatlântico.
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Ele começou a planejar e promover uma expedição antártica própria, propondo seu plano em 1894 à Royal Geographical Society. Em 1896, de Gerlache comprou o navio baleeiro de construção norueguesa Patria e, após uma extensa reforma, renomeou-o como Belgica.
Os problemas com a tripulação
A tripulação era de âmbito internacional, incluindo membros da Bélgica, Noruega, Rússia, Romênia e América. Mas, segundo o site coolantarctica, ‘de Gerlache parecia prestar pouca ou nenhuma atenção quando os oficiais e a equipe científica foram recrutados’.
Entre seus membros havia arruaceiros, beberrões, e encrenqueiros em geral. Segundo nossa fonte, ‘da tripulação original que deixou Antuérpia no navio, dois abandonaram a expedição pouco depois em Ostende, Bélgica, durante um retorno forçado ao porto para reparos. E outros dois desembarcaram lá sem permissão e voltaram bêbados’.
‘Dos outros, havia alguns que pareciam saber e entender pouco sobre marinharia básica. E um que se recusou a deixar seu beliche quando foi ordenado a sair para evitar que o navio colidisse acidentalmente com o Royal Yacht’.
Arruaceiros em Montevideo
A tripulação mal escolhida gerou mais problemas. ‘Em Montevidéu, o cozinheiro foi demitido após uma briga com um marinheiro sueco contratado’.
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Entre Montevideo e Punta Arenas, o porto mais meridional da América do Sul, um engenheiro deixou que a caldeira secasse (potencialmente fatal para a máquina a vapor do Belgica), apesar de um aviso anterior – ele foi desembarcado na escala seguinte’.
Mais problemas em Punta Arenas
‘Em Punta Arenas, houve mais problemas disciplinares com homens sendo encontrados bêbados, recusando-se a trabalhar quando necessário, exigindo salários e acusando Gerlache de preconceito contra os tripulantes noruegueses’.
Começava mal a primeira expedição científica. Finalmente, ‘a caminho da Antártida, um jovem marinheiro Carl Wiencke caiu no mar e desapareceu, apesar dos esforços heroicos do capitão Georges Lecointe para tentar resgatá-lo. A Ilha Wiencke foi nomeada em sua homenagem’.
Na Antártica
Em janeiro de 1898, o Belgica atingiu a costa de Graham Land. Navegando entre a costa de Graham Land e uma longa cadeia de ilhas a oeste, de Gerlache chamou a passagem de Estreito da Bélgica.
Mais tarde, foi renomeado Estreito de Gerlache em sua homenagem. Depois de mapear e nomear várias ilhas durante cerca de 20 desembarques separados, cruzaram o Círculo Antártico em 15 de fevereiro de 1898.
Forçados a passar o inverno na Antártica
Nesta data, navegando em direção ao sudoeste o Belgica cruzou o Círculo Antártico e, em 28 daquele mês, ficou preso no gelo do Mar de Bellingshausen (nome em homenagem a um dos três ‘descobridores’ do continente) perto da Ilha de Peter. Apesar dos esforços da tripulação para libertar o navio, eles perceberam que seriam forçados a passar o inverno na Antártida.
Embora os dezenove tripulantes tentassem com todas as suas forças libertá-lo, o Bélgica permaneceu preso por longos 13 meses.
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O sofrimento da tripulação
A tripulação enfrentou o frio e a umidade, amontoados e lutando para se comunicarem naquela ‘Babel flutuante’.
Várias semanas depois, em 17 de maio, a escuridão total se instalou e durou até 23 de julho. O que se seguiu, então, foram 7 meses de dificuldades atrozes na tentativa de libertar o navio e sua tripulação das garras do gelo.
Invernando abaixo do Círculo Antártico, o grupo foi forçado a suportar dois meses de escuridão ininterrupta, mais de um ano de neve e granizo, ventos ensurdecedores, doenças e insanidade.
Assinando o testamento
Segundo o site antarctic.logistics.com, ‘O tenente Danco adoeceu de um problema cardíaco e morreu. Vários homens perderam a sanidade, incluindo um marinheiro belga que deixou o navio “anunciando que estava voltando para a Bélgica”. O grupo também sofreu muito com o escorbuto. De Gerlache e o capitão Lecointe ficaram tão doentes que escreveram seus testamentos’.
Escapando da morte
‘Frederick Cook e o primeiro imediato, Roald Amundsen, assumiram o comando. A vitamina C não foi descoberta até a década de 1920, mas Cook estava convencido de que a carne fresca era a cura para o escorbuto devido às suas experiências com Robert Peary no Ártico. Ele insistiu que cada homem comesse um pouco de carne de pinguim ou foca todos os dias e, lentamente, todos os homens recuperaram a saúde’.
O martírio foi tamanho que falava-se em abandonar o navio e tentar escapar através do gelo. Mas, em que direção, e para onde?
A volta para casa
Ainda de acordo com o relato do antarctic.logistics.com, ‘Em janeiro de 1899, o Belgica ainda estava preso no gelo com cerca de 2,1 m de espessura e a possibilidade de outro inverno no gelo ficava cada vez mais real’.
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‘O mar aberto estava a cerca de 800 metros de distância e Cook sugeriu que o gelo fosse cortado no mar aberto para permitir que o Belgica escapasse. Nas semanas seguintes, trabalhando dia e noite, a tripulação abriu caminho através do gelo. Finalmente, em 15 de fevereiro de 1899, conseguiram iniciar lentamente a navegação no canal que haviam aberto’.
A expedição retornou à Antuérpia em 5 de novembro de 1899. Em 1902, o livro de Adrien de Gerlache, Quinze Mois dans l’Antarctique (publicado em 1901 e reeditado no centenário da expedição, em 1997) foi premiado pela Académie Française.
Pela experiência adquirida, Gerlache ajudou Sir Ernest Shackleton no planejamento de sua segunda expedição à Antártica, a Expedição Transantártica Imperial Britânica quando o navio, Endurance, fica preso no gelo, é esmago, e Shackleton lidera a mais incrível saga do continente.
O legado de Adrien de Gerlache
Foi imenso. Além de ter a glória de abria a ‘era heroica’ e de ter sido pioneiro, ainda que involuntário, na invernagem, De Gerlache fez várias expedições importantes ao Ártico, entre elas à Groenlândia em 1905 e 1909 e aos mares de Barents e Kara em 1907. Sem falar na ajuda a Shackleton. Entre dicas e conselhos, De Gerlache vendeu-lhe seu iate que Shackleton rebatizou como Endurance.
Segundo o site….’Em 1914, quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial, Adrien de Gerlache mudou-se para Christiana, na Noruega. Não com a intenção de escapar da guerra, mas para conscientizar a população norueguesa do sofrimento belga durante a guerra. Seu livro Le pays qui ne veut pas mourir (O país que não quer morrer), dedicado a seu irmão Gastão, morto em combate em 2 de agosto de 1915, tornou-se um best-seller na Escandinávia’.
‘Um ano depois, Adrien De Gerlache partiu para a Suécia para continuar sua campanha de propaganda. Com suas exposições com artistas belgas, entre outras coisas, ele se concentrou predominantemente em influenciar a alta sociedade’.
‘Após a guerra, Adrien De Gerlache tornou-se assessor técnico do governo. Seu trabalho incluiu um plano para treinar oficiais da marinha. Em 1934 ficou gravemente doente (com paratifóide). O Barão Adrien Victor Joseph de Gerlache de Gomery morreu em Bruxelas em 1934, aos 68 anos, de paratifoide. Seu filho Gaston mais tarde seguiria seus passos, liderando uma série de expedições à Antártida.
Assista ao vídeo/animação e saiba mais
Imagem de abertura: https://alchetron.com
Fontes: https://alchetron.com/Adrien-de-Gerlache; https://www.coolantarctica.com/Antarctica%20fact%20file/History/antarctic_whos_who_belgica.php; https://library.osu.edu/site/frederickcook/belgian-antarctic-expedition/; https://www.antipodean.com/pages/books/5132/adrien-de-gerlache-de-gomery/commander-adrien-de-gerlache-on-skies-hunting-seals-on-south-polar-pack; https://antarctic-logistics.com/2010/08/28/adrien-de-gerlache/; https://antarctic-logistics.com/2010/08/28/adrien-de-gerlache/.