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A morte do rio Nilo, o segundo maior rio do mundo

A morte do rio Nilo, o segundo maior rio do mundo

Se não fosse a matéria da BBC,A morte do rio Nilo — este tema nem teria sido publicado no Mar Sem Fim. Pesquisamos na internet e não encontramos outra referência confiável além da icônica emissora britânica, que raramente erra.

Sem o Nilo, o Egito  como conhecemos nos livros de história não teria existido. Nem a desertificação quase total do norte da África, entre o sexto e o quarto milênio a.C.

Naquele período, pessoas fugiam do avanço dos desertos. Muitas se instalaram às margens do Nilo e se juntaram aos que já viviam ali. Essa concentração populacional foi essencial. Era o ponto de partida para o surgimento de uma nova cultura — complexa, organizada e dependente de grandes massas de trabalhadores.

Foto de abertura da matéria da BBC.com

O rio Nilo

O Nilo tem 6.650 km de extensão. É o segundo rio mais longo do mundo. Em 2016, estudos confirmaram que o Amazonas é o maior, com 6.992 km. Mesmo assim, muitas fontes — inclusive a própria BBC — ainda consideram o Nilo como o mais extenso.

A bacia do Nilo é imensa. Cobre mais de 3 milhões de quilômetros quadrados. A média anual de chuva na região é de cerca de 600 mm.

A perigosa vazão do Nilo

A vazão média do Nilo é baixa: menos de 3.000 m³/s. Entre os grandes rios do mundo, está entre as menores. Para comparar, o Amazonas despeja 209.000 m³/s. Já o quase morto rio  Tietê, em São Paulo, tem vazão de 2.500 m³/s — quase igual à do Nilo, o segundo maior rio do planeta.

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Esses números mostram o quão frágil é a situação do Nilo.

A morte do rio Nilo (Ilustração: BBC.com)

A morte do rio Nilo

Depois de tudo o que representou para uma das maiores civilizações da Antiguidade, o Nilo enfrenta hoje uma crise profunda. A situação é tão grave que a própria BBC deu o alerta com o título: A morte do rio Nilo.

A emissora resume: “O rio Nilo está doente, e ficando cada vez pior.”

O que aconteceu? O crescimento desordenado das populações ao longo de seu curso aumentou a poluição e a drenagem. Ao mesmo tempo, a mudança climática reduz o fluxo e acelera a evaporação.

Para piorar, pesquisadores temem que a disputa por suas águas possa, em breve, desencadear um conflito regional.

Populações em expansão sujaram e drenaram, enquanto a mudança climática ameaça cortar seu fluxo. E alguns temem que a concorrência em relação às suas águas em declínio possa desencadear um conflito regional (Imagem BBC).

Onde começam os problemas do rio Nilo

A origem do problema está na nascente. As chuvas que caem na Etiópia sempre responderam por mais de 80% do volume de água do Nilo. Esse aporte acontece entre julho e setembro.

Mas o padrão mudou. As chuvas já não caem como antes. E isso ameaça todo o equilíbrio da bacia do Nilo. O cenário é potencialmente catastrófico.

A estiagem

O Nilo Branco nasce no Lago Vitória. Embora seja mais longo, hoje carrega apenas uma fração da água que o Nilo Azul transporta. Os dois se encontram em Cartum.

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Mas até o Nilo Azul sofre. A temporada de chuvas, conhecida como Meher, está mudando. Chega mais tarde. Dura menos.

Lakemariam Yohannes Worku, pesquisador da Universidade Arba Minch, resume:
“A estação das chuvas é tão inconsistente… Às vezes mais forte, às vezes mais leve. Mas nunca é igual. Cada ano é diferente.”

Embora seja mais longo, o Nilo Branco nasce no Lago Vitória e carrega pouca água. Hoje, representa apenas uma fração do volume do Nilo Azul. Os dois se encontram em Cartum.

A principal estação de chuvas, o Meher, está mudando. Chega mais tarde. Dura menos tempo.

Lakemariam Yohannes Worku, pesquisador da Universidade Arba Minch, explicou:
“A estação das chuvas é tão inconsistente… Às vezes mais forte, às vezes mais leve. Mas sempre muda de um ano para outro.”

Sedimentos levados pelas tempestades

 Lakemariam Yohannes Worku, da Universidade Arba Minch explicou que

…Quando chove, as tempestades são muitas vezes mais ferozes, levando mais de um bilhão de toneladas de sedimentos etíopes ao Nilo a cada ano, o que obstrui as barragens e priva os agricultores dos nutrientes necessários para o solo…

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Barragem e disputas regionais

Quanto mais o Nilo se afasta das nascentes, piores ficam os problemas. Aos poucos, o rio vai morrendo.

Trinta milhas após deixar o lago Tana, o Nilo despenca em direção ao majestoso Nilo Azul. Em seguida, atravessa uma longa sequência de desfiladeiros profundos.

É a parte mais bonita da bacia. Também a mais isolada. E talvez a mais problemática.

Ali, no oeste selvagem da Etiópia, com pouca população, disputas locais e internacionais se acumulam.

O lago Tana

Deslocamento de milhares de pessoas

Com a construção da polêmica barragem de Merowe, a maior da África, começaram os deslocamentos. A obra foi erguida no trecho acidentado do Nilo, perto da fronteira sudanesa.

Milhares de aldeões de Addis Abeba foram obrigados a sair. Suas terras passaram a ser arrendadas para o agronegócio estrangeiro. Só os Emirados Árabes Unidos receberam pelo menos 2,5 milhões de hectares.

A maior barragem.

A mega barragem do Nilo tem pouco mais de uma milha de comprimento e capacidade de gerar cerca de 7 GW. Para muitos etíopes, ela simboliza o renascimento do país após os anos de fome nas décadas de 1980 e 1990. Outdoors com rostos de políticos exaltam a promessa de levar energia elétrica a milhões.

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Mas, rio abaixo, onde predominam os desertos e a chuva é rara, o cenário é outro. Ali, a barragem é vista como ameaça. Cortar o fluxo do Nilo pode se tornar uma crise existencial.

O impacto humano no Nilo

Cartum sempre foi um marco simbólico para quem navega pelo Nilo. A cidade fica no ponto exato onde os Nilos Azul e Branco se encontram. A partir dali, o rio ganha sua forma larga, lenta e familiar. Mas quase no mesmo momento em que entra na cidade, o Nilo é atingido por esgoto. Um contraste brutal entre o valor simbólico e a realidade do descaso.

Corpos boiando não são incomuns (Imagem: Reuters)

E é em Cartum que o rio recebe mais uma avassaladora prova:  o crescimento enorme da população.

A poluição (imagem: www.al-monitor.com).

A população do Egito já quadruplicou desde 1960. A Etiópia cresce ainda mais rápido, com cerca de 2,5 milhões de novos habitantes a cada ano. Ao todo, a bacia do Nilo abriga hoje cerca de 250 milhões de pessoas. Se o ritmo continuar, esse número vai dobrar até 2050, chegando a meio bilhão. Um desafio enorme para um rio que já está no limite.

O encontro dos rios

O déficit de água do Nilo

Enquanto os governos tentam atender às demandas de populações cada vez maiores, o déficit hídrico do Nilo só piora. Cartum ilustra bem o problema. A rede de esgoto mal acompanhou o crescimento urbano. A cidade se espalhou rapidamente nas últimas décadas, mas o tratamento de águas residuais continuou precário. O lixo se acumula por falta de infraestrutura adequada. Indústrias e empresas passaram a agir por conta própria. Muitas despejam resíduos diretamente no rio, inclusive substâncias tóxicas de fábricas de munição próximas. Um retrato do colapso ambiental às margens do Nilo.

Sudão prende ambientalistas

No Sudão, o governo reprime a sociedade civil. Em 2014, prendeu líderes de um grupo de defesa do consumidor. Desde então, ambientalistas atuam com cautela, temendo o mesmo destino. As barragens de Roseires e Sennar vivem entupidas por sedimentos vindos da Etiópia. Quando as turbinas falham, o país recorre a geradores a diesel para bombear água. Até agora, sempre encontraram soluções. Mas o limite chegou. No norte, muitos jovens abandonaram a agricultura e foram tentar a sorte em minas de ouro. O deserto avança.

Poluição industrial e a morte do rio Nilo (Imagem www.arabstoday.net)
A desertificação cresceu barbaramente. O deserto aumentou 120 quilômetros no sul de Cartum nos últimos 30 anos, diz o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

A morte do Nilo: poluição no delta

No trecho final do Nilo, a água virou veneno. Pescadores relatam que, até no mar aberto, quase nenhuma espécie sobrevive perto da foz. É mais um legado sombrio da nossa geração.

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O Mar Sem Fim insiste: nossa pegada no planeta é pesada demais. Não espere pelos governos. Faça sua parte. Economize água e energia. Evite o carro sempre que puder. Recicle, especialmente o plástico. Jogue o lixo no lugar certo. Isso já faz diferença. As próximas gerações vão agradecer.

Fonte principal: http://www.bbc.co.uk/news/resources/idt-sh/death_of_the_nile.

Fontes secundárias: http://www.reshafim.org.il/ad/egypt/timelines/topics/shipconstruction.htm; https://www.livescience.com/56695-ancient-egypt-boat-tableau-discovered.html; https://www.emaze.com/@AOWFLROW/ancient-egyptian-legacy-boats; www.al-monitor.com; Reuters; www.arabstoday.net.

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