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Vikings saíram da Groenlândia em razão de seca

Vikings saíram da Groenlândia em razão de seca prolongada

Os vikings fizeram história com os avanços que lograram na arte da construção naval ao seu tempo. Eles ‘inventaram’ um barco até hoje admirado por suas qualidades marinheiras, o drakkar. Foi com ele que se aventuraram até onde a imaginação alcança.  Graças ao costume de enterrar reis com seus barcos, recentemente encontraram mais um drakkar com cerca de mil anos. Foi com eles que chegaram até a Groenlândia em mais uma conquista admirada até hoje. Contudo, estudos recentes refutam a antiga hipótese de que foi o frio que levou  via os Vikings a saírem da Groenlândia no século XV. Pesquisas com sedimentos de lagos próximos aos assentamentos mostram que uma seca prolongada reduziu drasticamente a vegetação — deixando pastagens escassas para os animais — e foi esse estresse ambiental que, aliado a outras pressões, tornou a permanência insustentável.

Vikings e o drakkar na Groenlândia
Ilustração, www.wallpaperflare.com.

A Groenlândia

A saga náutica dos vikings só encontra paralelo na História com a epopeia naval lusitana entre os séculos 15 e 16. Ambos os povos dominaram os oceanos e neles abriram novas rotas usadas até hoje: os vikings no Atlântico Norte, e os lusos no Atlântico Sul com a ajuda da caravela.

Ilustração, www.smithsonianmag.com.

Vikings se fixaram na Groenlândia por volta de 950 d.C

Os vikings se fixaram na Groenlândia por volta de 950 d.C., quando parte deles decidiu colonizar a ilha. Durante séculos, o motivo do abandono permaneceu um mistério. Agora, um estudo da Universidade de Massachusetts Amherst, publicado na Sciences Advances, aponta que uma seca prolongada foi a principal causa do rápido desaparecimento dessas comunidades.

Ruína Viking na Groenlândia. Imagem, www.smithsonianmag.com.

Entre os séculos 8 e 11 d.C., os vikings se espalharam por partes da Europa, incluindo o Reino Unido, e chegaram ao norte da África e ao Mediterrâneo. Também navegaram até a América do Norte e a Ásia Ocidental. Foram ainda os primeiros a alcançar o arquipélago dos Açores.

Erik, o Vermelho, na Groenlândia

Segundo a lenda islandesa, o explorador Erik, o Vermelho, navegou para o oeste por volta de 985 d.C. e liderou a colonização do sul da Groenlândia. Ali, os nórdicos viveram por mais de 450 anos. Fundaram dois assentamentos principais: o oriental, na costa sudoeste, e o ocidental, menor e localizado mais ao norte.

Uma estátua de um viking paira sobre um fiorde em Qassiarsuk, local do primeiro assentamento nórdico da Groenlândia, fundado por Erik, o Vermelho. Ciril Jazzbec.

Os autores do novo estudo lembram: “Sabemos que os vikings da Groenlândia se estabeleceram em dois lugares e que esses assentamentos persistiram por 400 a 450 anos. Mas ninguém jamais provou por que eles saíram e nunca mais voltaram.”

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Gravura de Erik, o Vermelho. Ilustração, dailyscandinavian.com.

O novo estudo: vikings saíram da Groenlândia em razão de seca prolongada

O paleoclimatologista Boyang Zhao, da Universidade de Massachusetts, e sua equipe analisaram sedimentos de um lago no sul da Groenlândia. O objetivo era reconstruir o clima vivido pelos colonos nórdicos entre 985 e 1450 d.C.

O lago analisado na Groenlândia. Imagem, www.ancient.origins.net.

O lago analisado fica no assentamento oriental, próximo a um conjunto de ruínas de pedra que um dia abrigaram casas nórdicas e estábulos de vacas.

Bioquímica das bactérias no lago muda em resposta à temperatura

Em 2021, a equipe mostrou que a bioquímica das bactérias do lago varia conforme a temperatura. No novo estudo, os cientistas extraíram restos de micróbios mortos preservados nas camadas de lama do leito, datados por radiocarbono. Ao rastrear a química bacteriana, conseguiram reconstruir as temperaturas do passado.

Gravura dos vikings e o drakkar na Groenlândia. Ilustração, dailyscandinavian.com.

Os resultados revelaram flutuações ao longo do período de ocupação viking, mas sem tendência de resfriamento prolongado. “Quando vi esses registros de temperatura, fiquei bastante surpreso”, disse Zhao, lembrando a visão difundida de que a queda térmica teria dificultado o cuidado do gado e contribuído para o abandono da Groenlândia.

Cientistas recolhem lama de lago na Groenlândia. Imagem, www.ancient.origins.net.

De acordo com o estudo, os dados sobre a água revelaram outra história. Para investigar esse recurso, a equipe analisou isótopos de hidrogênio em restos de plantas preservadas na lama do lago. Em climas secos, as plantas perdem mais água por evaporação, e suas folhas passam a concentrar o deutério — um isótopo de hidrogênio mais pesado.

Clima da Groenlândia tornou-se mais seco no período nórdico

A análise do deutério em folhas preservadas mostrou que o sul da Groenlândia ficou progressivamente mais seco durante a ocupação viking. Com a falta de chuva, os nórdicos não conseguiam produzir grama suficiente para alimentar o gado nos longos invernos, explica Zhao.

Escavações já revelaram canais de irrigação construídos pelos colonos, prova de que tentaram enfrentar a escassez de água. O problema persiste: agricultores modernos da região ainda dizem que, sem chuva no verão, não há pasto para os animais.

Secas severas atingiram a Groenlândia nos últimos anos

A Groenlândia também enfrenta secas fortes hoje. “Em 2015 quase não choveu – caiu um pouco em junho e só voltou em agosto”, lembra Elna Jensen, agricultora de Narsaq, perto do lago estudado por Zhao.

Onde os vikings abandonaram Gardar, os agricultores inuits construíram o atual assentamento de Igaliku. Ciril Jazzbec

Mas a agricultura atual difere da nórdica, ressalta Christian Madsen, do Museu e Arquivo Nacional da Groenlândia. Muitos produtores modernos drenaram e fertilizaram o solo, o que aumenta a vulnerabilidade às secas.

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Carne de foca como alimento

Os nórdicos tentaram se adaptar ao clima cada vez mais seco, lembra McGovern. Escavações revelam que eles passaram a consumir mais recursos marinhos, como carne de foca, quando a agricultura se tornou inviável.

Ossada Viking na Groenlândia. Imagem, dailyscandinavian.com.

Caçadas de morsas em busca de marfim

Apesar das tentativas de adaptação, os nórdicos acabaram desaparecendo. McGovern sugere que fatores sociais também pesaram. Entre eles, as expedições arriscadas ao noroeste da Groenlândia, onde caçavam morsas para extrair marfim e vender no mercado europeu.

Mapa antigo da Groenlândia. Imagem, ailyscandinavian.com.

O marfim garantia riqueza e prestígio às elites nórdicas, mas desviava parte da população da produção de alimentos em um momento de crise.

Peças de xadrez do século XI feitas por Lewis Chessmen com presa de morsa e encontradas na praia da freguesia de Uig na Ilha de Lewis (Hébridas) e agora no Museu Britânico, foram encontradas em 1831 enterradas em um banco de areia na Ilha de Lewis , a maior ilha das Hébridas exteriores na Escócia. Imagem, www.chess.poster.com.

Assim, a caça às morsas pode ter acelerado o colapso dos assentamentos. “Em retrospecto, talvez houvesse caminhos para sobreviver, mas eles não sobreviveram”, afirma McGovern. “Foi uma sociedade que, em alguns aspectos, escolheu falhar.”

Assista ao vídeo e saiba mais

Imagem de abertura:www.wallpaperflare.com.

Fontes: https://www.science.org/content/article/greenland-s-vikings-may-have-vanished-because-they-ran-out-water; https://www.ancient-origins.net/news-history-archaeology/greenland-vikings-0016565.

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