Uso sustentável dos oceanos no currículo de escolas de Fortaleza, boa ideia
O Mar Sem Fim sente-se feliz de poder disseminar também as boas notícias. Antes de mais nada, elas são raras neste período de aquecimento global fora de controle, vis-a-vis os municípios costeiros brasileiros normalmente geridos ou por incompetentes, ou corruptos, ou os dois ao mesmo tempo. Para não falar na complexidade dos oceanos em momento tão crítico para a humanidade. Neste sentido, é muito bem-vinda a novidade de Fortaleza. A partir de agora, os professores da rede pública municipal receberão capacitação para a inclusão, nos currículos escolares, de atividades voltadas para a conscientização sobre a conservação e o uso sustentável dos oceanos.
Agência de Desenvolvimento da Economia do Mar de Fortaleza
Já falamos por aqui que se fosse nossa a decisão incluiríamos no currículo escolar uma nova e obrigatória matéria: Educação Ambiental.
Isso porque o Brasil tem a maior biodiversidade mundial. Temos seis biomas: Amazônia, Mata Atlântica, Pampa, Cerrado, Caatinga e Pantanal. Para além disso, o concerto das nações reconhece não apenas esta riqueza, como também o fato de sermos o país com a maior quantidade de água doce da Terra, ou 12% do total. Por último, temos um imenso litoral com quase 8 mil km de extensão, e a décima-segunda maior Zona Econômica Exclusiva.
Em outras palavras, esta é uma riqueza descomunal no século 21, quando grande parte das nações ricas já esgotou seu estoque de florestas naturais, e parte significativa da biodiversidade. Quanto vale isso? Impossível dizer com certeza, mas alguns trilhões de dólares, no mínimo.
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Neste sentido, Fortaleza aprovou a Lei Complementar n° 356/2023 que institui a criação da Agência de Desenvolvimento da Economia do Mar de Fortaleza. Se levarem a sério, e não desperdiçarem a oportunidade, Fortaleza pode ser um exemplo para o País.
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A cultura oceânica
Segundo o site www.defesaemfoco.com.br, ‘Essa iniciativa estratégica posiciona a cidade na vanguarda da economia do mar, com a agência liderando a execução de ações para disseminar a Cultura Oceânica.’
‘A Capitania dos Portos do Ceará e suas Agências em Aracati e Camocim desempenham um papel significativo neste avanço. Desde 2021, esses órgãos têm aumentado o diálogo com várias instituições para impulsionar a criação de legislações que promovam a sustentabilidade marinha.’
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Lixo no Cabo Horn, na Fossa das Marianas, e no EverestProjeto Ocean of Things, o futuro da exploração marinhaOlimpíadas de Paris no rumo da sustentabilidade‘Este esforço está em sintonia com a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030), uma iniciativa proposta pelas Nações Unidas para mobilizar entidades públicas e privadas em ações que beneficiem a saúde e a sustentabilidade dos mares.’
Antes de prosseguir, nossos efusivos parabéns à Capitania dos Portos do Estado. E que esta ação seja seguida por todas as capitanias dos Estados costeiros. Temos uma linda história náutica. Somos filhos de um dos povos que mais se projetaram ao dominar a arte da construção naval, e da navegação. É por este motivo que falamos português.
Os nautas portugueses anteciparam a globalização ao seu tempo. O Brasil é fruto desta saga marítima. E além disso, ela nos deu ainda dois dos mais importantes poetas ocidentais: Luis de Camões e Fernando Pessoa. Não por acaso, ambos tinham as navegações como tema.
Contudo, pelo baixo nível do ensino no País, este capítulo da história mundial, ou seja, a saga marítima lusitana, é praticamente deixado de lado. Mesmo nas universidades de humanidades o assunto não tem o peso que merece.
A importância da biodiversidade e do mar
Nos últimos tempos temos voltado sempre a um assunto: a economia verde, ou a nova economia. Ainda neste mês publicamos novo post, O mercado de carbono atinge US$ 909 bi em 2022.
Em outras palavras, é esta a economia verde. E o Brasil tem um imenso potencial de ser catapultado para o primeiro mundo se soubermos aproveitar nossos recursos naturais e o momento por que passa a economia mundial. Mais que nunca, um País com a nossa biodiversidade passa a ser o protagonista da era da descarbonização.
Como mostramos, a nova economia, ou economia verde, tem algo em torno de US$ 40 a 50 trilhões de dólares para aplicar em conservação. E este montante é privado, de investidores que só aceitam colocar seus recursos em projetos ambientais.
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Contudo, é preciso correr. Estamos atrasados na regulamentação do mercado de créditos de carbono que disponibilizará estes recursos para projetos ambientais.
Por outro lado, o PIB do mar brasileiro, ou economia azul, representa 20% do PIB nacional. Se soubermos explorar a Amazônia Azul, esta percentagem pode subir significativamente.
Por último, o litoral do Brasil por sua extensão e beleza descomunal tem imenso potencial para o turismo internacional se não o destruirmos totalmente como estamos fazendo. É preciso um freio de arrumação na especulação imobiliária que detona a beleza cênica e ecossistemas como mangues, restingas, dunas, falésias, etc. E, de maneira idêntica, elegermos prefeitos de municípios costeiros que não se sirvam do cargo, mas que sirvam ao cargo.