Tráfico de drogas, reviravolta no caso dos velejadores presos em Cabo Verde
Reviravolta no caso dos velejadores brasileiros neste início de 2019. Já não era sem tempo, este pesadelo em que se meterem de boa fé dura três anos, é coisa demais. Quem informa a novidade é Sonia Racy, do Estadão: “A Justiça de Cabo Verde anulou a decisão tomada em Primeira Instância que sentenciou a 10 anos de cadeia os três velejadores brasileiros detidos sob acusação de tráfico de drogas. A medida foi informada aos advogados dos três — Daniel Dantas, Daniel Guerra e Rodrigo Dantas –, além do francês Olivier Thomas. O tribunal de Segunda Instância mandou voltar o processo à Primeira, para que todas as testemunhas sejam ouvidas.”
Sônia ainda diz que ‘os próximos dias serão fundamentais para os brasileiros’. Oxalá este pesadelo termine o quanto antes. Os três, e suas famílias, já sofreram demais.
Finalmente, os brasileiros estão livres
Demorou demais, mas o pesadelo terminou em 7 de fevereiro de 2019. Um ano e meio de prisão, em outro país, e injustamente, não é mole, não. Importante é que os três saíram da prisão nesta data. Agora eles responderão a um novo processo, mas em liberdade. Foram muitos os que pediram por eles, como o ex- presidente, por exemplo.
Durante sua presidência, Temer procurou ajudar os velejadores
O Presidente Michel Temer agiu certo quando chamou para o si o caso, e conversou com o presidente de Cabo Verde em recente encontro naquele país. O assunto é delicado, já que um presidente não pode interferir na política interna de outro país. Mesmo assim, com muito ‘jeito’ , Temer deixou clara a preocupação pelo fato da Justiça cabo verdiana não ter levado em conta relatório da Polícia Federal que inocentou os velejadores brasileiros. No dia seguinte, para dar mais visibilidade à questão, o Presidente encontrou-se com parentes das vítimas deixado-se fotografar e filmar, o que gerou ainda mais repercussão. Temer mostrou-se um estadista nesta questão. Em breve os brasileiros estarão de volta, não temos dúvida. Eles nada têm a ver com tráfico de drogas.
A seguir, matéria original
De Sonia Racy, Estadão, em 14/7/2018
“O Brasil não conseguiu, por causa de sua burocracia, entregar a tempo, ao governo do Cabo Verde, a documentação necessária para que os velejadores Daniel Dantas, Rodrigo Dantas e Daniel Guerra pudessem ser libertados e aguardassem em liberdade o julgamento de seus recursos. Eles são acusados de tráfico de drogas, mas investigação da PF brasileira sobre o caso concluiu pela inocência dos três. Além deles, foi detido na operação o capitão do barco, o francês Olivier Thomas.”
Brasil perde prazo, eita burocracia!
“O prazo para levar a documentação às autoridades da ilha terminou na quinta-feira. Como ela não foi entregue, o pedido de libertação foi indeferido pela Justiça cabo-verdense. A burocracia venceu e os brasileiros terão de aguardar na prisão o novo julgamento, que pode ocorrer em agosto, outubro ou mais tarde.”
Este foi o desabafo à coluna nesta sexta, por telefone, de Cabo Verde, por parte de Barbara Dantas, irmã de Daniel. Este e Rodrigo estão detidos desde dezembro do ano passado, os outros dois desde agosto.”
A cronologia do caso desde 2016: anúncio para delivery
Agosto de 2016. Um anúncio de empresa holandesa chama a atenção de velejadores brasileiros dispostos a um ‘delivery’. Eles atravessariam o Atlântico, do Brasil para Cabo Verde, a bordo do veleiro Rich Harvest, do inglês George Saul.
A prática do ‘delivery’ é comum. Muitas vezes o proprietário, por um motivo ou outro, não pode fazer uma ‘perna’ de seu périplo pelo mundo. Então usa o expediente. Os velejadores sabem, e torcem para um dia cruzarem os oceanos, adquirindo experiência e sendo pagos por isso. Quer coisa melhor?
Foi o que aconteceu com três brasileiros, o gaúcho Daniel Guerra, 36 anos, os baianos Rodrigo Dantas e Daniel Dantas (apesar do sobrenome não são parentes), de 25 e 43 anos. Juntos, iriam o dono do barco, e um skipper (comandante) contratado, o francês Olivier Thomas.
Na última hora, o dono do barco pulou fora. ‘Teve que voltar para a Inglaterra’, mas os quatro dariam conta do recado. Deram. Mas, os velejadores brasileiros acabaram presos em Cabo Verde, acusados de tráfico de drogas. Havia pouco mais de uma tonelada de cocaína escondida nos porões do barco.
Velejadores brasileiros enganados por George Saul, o dono do veleiro
Entre a contratação da equipe, e a saída, houve vários percalços. Hoje é fácil reconstituí-los. O Rich Harvest, apresentou problemas, seguindo para Salvador, estaleiro OCEANA, para ser reparado.
Ali, soube-se depois, o proprietário pediu que o tanque de água fosse levantado do casco, onde uma caixa oca, de cimento, mesmo material do casco, foi construída e laminada em volta. Foram meses de reformas. Em seguida navegou para o Espírito Santo, com o proprietário e outra tripulação.
Ao chegarem, a equipe foi dispensada, ficando apenas o dono. Não se sabe o que houve. Mas sabe-se que foi de lá que o proprietário ligou aos baianos, recrutados na OCEANA pedindo que viessem buscar o veleiro e levá-lo à Bahia. De lá seguiram para Natal, último porto brasileiro onde esteve.
Em Natal, Polícia Federal alertada, faz vistoria e nada encontra
O inglês veio liberar o barco e apresentar os documentos, além de participar da preparação final. Ele estava escalado para fazer a viagem.
A PF, alertada pela agência britânica NCA (National crime Agency), entra a bordo, e faz vistoria. Nada. A droga estava tão bem escondida que nem depois de seis horas de busca com cães farejadores, a PF achou os pacotes.
No dia anterior à partida, o inglês comunica que, por motivos familiares, ‘não poderia fazer o trajeto’. Brasileiros, e skipper francês, seguem viagem. Próxima parada, ilha da Madeira.
Em, Mindelo, no Cabo Verde, polícia local acha a droga
Com muita dificuldade, chegam em Cabo Verde onde a polícia, mais uma vez alertada, entra a bordo e descobre o fundo falso. Dentro, 1.157 quilos da mais pura cocaína. Valor de mercado? R$ 800 milhões de reais.
Coisa de cachorro grande. Acusados de tráfico internacional, comandante e tripulação são presos. Começa a travessia para o inferno.
Ousadia do tráfico internacional
O tráfico de drogas se esmera à procura de falhas na fiscalização entre as nações, e encontra no Brasil o ‘paraíso’. Aqui, o mar e zona costeira estão ao deus-dará.
Faz tempo que o país é corredor para escoar a produção para a África e, de lá, para a Europa ou os Estados Unidos. Até submarinos já foram usados pelos cartéis.
Mas, se estes chamam a atenção, veleiros que correm o mundo, não. “Cerca de 10% dos navios que transportavam drogas identificados por forças de segurança do mundo (em 2008) tinham como origem o Brasil.
Outros 11% tinham como origem países da África ocidental, que serve de entreposto para a droga que sai do Brasil com destino à Europa. A Venezuela reponde por mais da metade das embarcações (51%).”
PF inocenta os brasileiros na investigação do tráfico de drogas
A Polícia Federal entra na investigação e garante “que a droga foi embarcada no Espírito Santo. Os federais corroboram.
“A droga foi dissimulada no interior da embarcação por George Saul responsável pela laminação no interior do porão, não havendo nenhuma obrigação de compartilhar com a tripulação a informação sobre a cocaína.”
No dia 23 de agosto de 2018 a polícia de Mindelo prende a tripulação. Julgamento rápido. Decisão: “No dia 29 de março de 2018 o Tribunal da Comarca de São Vicente condenou os quatro a pena de dez anos de prisão por tráfico de droga.
Inocentes presos não é fato novo
“A população carcerária do Brasil chega a 500 mil presos e 30% deste número é composto de pessoas recolhidas indevidamente. Ou seja, há no sistema prisional cerca de 150 mil indivíduos que não deveriam estar encarcerados e estão.”
Retrato do fenômeno no Brasil, autoria da advogada Juciene Souza Ribeiro. O mesmo acontece no mundo, especialmente países subdesenvolvidos, ou em desenvolvimento, caso de Cabo Verde.
O caso dos velejadores e a grande imprensa
Curiosamente, em mais uma prova de que os mares e litoral não passam dum enorme balneário para a grande imprensa, ela não cobriu o assunto com o destaque que merece, exceção à Sonia Racy, do Estadão.
Os grandes jornais, e as revistas semanais, demonstram com isso sua cegueira, cobrem apenas o assassinato de Marielle, ignorando o que se passa com outros 61.618 brasileiros assassinados todos os anos, e outros tantos presos injustamente.
Fontes: https://www.google.com.br/search?q=Brasil,+corredor+da+droga&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjE09L37uTbAhVIIpAKHX-rAzwQ_AUIDCgD&biw=1467&bih=677#imgrc=3kyxYgFDvenShM; http://almanautica.com.br/2018/04/13/brasileiros-condenados-sem-provas/; http://noticiasdonorte.publ.cv/75288/75288/; https://www.bbc.com/portuguese/internacional-42513726; https://www.yachtmollymawk.com/2018/04/a-cautionary-tale-and-a-rallying-call-to-the-cruising-community/; http://noticiasdonorte.publ.cv/75222/juiza-brasileira-decreta-prisao-preventiva-para-os-donos-do-veleiro-apreendido-no-mindelo-com-uma-tonelada-de-cocaina/; http://almanautica.com.br/2018/04/13/brasileiros-condenados-sem-provas/; https://jucienesouza.jusbrasil.com.br/artigos/129697572/mentalidade-encarceradora-e-presos-inocentes.