Seca no Canal do Panamá prejudica a navegação e comércio mundiais
Conforme avança o aquecimento do planeta novos problemas surgem. Em 2023 além de secas, inundações, incêndios em todos os continentes, exceto a Antártica, erosão acelerada nas faixas costeiras, perda de biodiversidade e prejuízos colossais, temos agora uma seca no Canal do Panamá que coloca mais pressão sobre o comércio mundial. O Panamá enfrenta uma seca severa, agravada pelo fenômeno do El Nino, que forçou os administradores a restringir a navegação a navios com um calado máximo (profundidade da água) de 13,11 metros. O administrador do canal disse que, a menos que caiam fortes chuvas nos próximos três meses, “prevemos um período de um ano” de acesso restrito.
O Canal do Panamá e a navegação mundial
O Canal do Panamá, que liga o Pacífico ao Atlântico, é uma monumental obra de engenharia, talvez a mais complexa do final do século XIX, começo do sec. XX. As obras começaram em 1881, com um projeto comandado pelo francês Ferdinand de Lesseps, responsável pela abertura do Canal de Suez. As escavações começaram em Culebra, a partir de 22 de janeiro de 1881.
Sua construção custou a vida de cerca de 25 mil trabalhadores. A França abandonou o projeto em 1888, quando acidentes e doenças já tinham cobrado um número impressionante de 20 mil trabalhadores. Assim, o canal foi finalizado pelos Estados Unidos. Ele evita que os navios façam uma longa viagem através da ponta da América do Sul, poupando tempo, combustível e dinheiro.
Em 2014 comemoramos o centenário deste atalho entre Pacífico e Atlântico que agora enfrenta restrições à navegação, provocando engarrafamento de navios.
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O canal enfrenta escassez de água pluvial necessária para transferir navios através de eclusas que funcionam como elevadores de água, responsáveis pela movimentação de 40% do tráfego mundial de navios de carga. Segundo a CBS News, ‘Cerca de dois terços do tráfego do canal se dirige – ou sai – dos Estados Unidos.’
Cada navio que o atravessa precisa de 200 milhões de litros de água doce para passar pelas eclusas. A água vem de dois lagos artificiais alimentados pelas chuvas numa bacia hidrográfica circundante.
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Em 2022, uma média de 40 navios atravessavam o canal por dia, número que agora caiu para 32 para poupar água. As medidas causaram um acúmulo de navios que aguardavam para entrar na hidrovia de 80 quilômetros, usada principalmente por clientes dos Estados Unidos, China e Japão.
Contudo, Boris Moreno, vice-presidente de operações do canal, disse à CBS News que os níveis dos lagos estão agora “próximos do mínimo”. A mesma fonte diz ainda que alguns navios estão sendo forçados a transportar até 40% menos carga para evitar atingir o fundo em níveis baixos de água.
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O www.weforum.org destaca que a autoridade do canal disse em comunicado que ‘a seca em curso coloca desafios sem precedentes e não tem precedência histórica.’
Em 2022, mais de 14.000 trânsitos foram concluídos através do canal por navios que transportavam mais de 291 milhões de toneladas de carga. Como resultado, diz o www.weforum.org, o tempo de espera dos navios aumentou de uma questão de horas para várias semanas, segundo a S&P Global. Algumas companhias de navegação privadas implementaram sobretaxas para clientes que transportam mercadorias através do canal.
Leilões para passar na frente
O problema é de tal monta que até leilões estando sendo organizados pela Autoridade do Canal entre os armadores. Segundo o gcaptain, Um deles pagou recentemente US$ 2,4 milhões – além de uma taxa de trânsito padrão de cerca de US$ 400 mil – para conseguir uma vaga que permitisse à sua transportadora atravessar a hidrovia mais rapidamente.
Portanto, além do atrazo provocado pela seca, os custos de frete tendem a aumentar em razão de menos cara levada, em alguns casos, e dos leilões.
Impactos na cadeia de abastecimento
De acordo com o Relatório do Comércio Mundial de 2022 da Organização Mundial do Comércio (OMC), “As alterações climáticas estão remodelando as perspectivas econômicas e comerciais e são uma grande ameaça ao crescimento e à prosperidade futuros.”
“Temperaturas mais elevadas, aumento do nível do mar e eventos climáticos extremos mais frequentes trazem a perspectiva de perdas de produtividade, escassez de produção, infraestruturas de transporte danificadas e interrupções no fornecimento.”
É mais que hora do clube da ONU tomar providência efetiva de combate ao aquecimento do planeta. A hora de agir é agora. Nunca antes tivemos tantas provas da capacidade destrutiva do aquecimento do planeta.