Recorde de desmatamento em março na Amazônia
Na quinta e sexta-feira, 22 e 23 de abril, acontecerá a Cúpula de Líderes sobre o Clima, organizada por Joe Biden. O presidente americano quer recuperar o atraso dos Estados Unidos, desde o advento da eleição do negacionista Donald Trump, que retirou o país do Acordo de Paris. Como se sabe, Biden colocou o combate à ameaça climática como principal meta de governo. A imprensa discute a oportunidade que o Brasil tem para mudar a percepção internacional sobre a relação do governo com o meio ambiente. A expectativa é grande. Jair Bolsonaro vai levar na bagagem desta reunião o recorde de desmatamento em março na Amazônia, entre outros problemas. Post de opinião.
A Cúpula de Líderes sobre o Clima e a bagagem de Bolsonaro
Foram convidados 40 líderes internacionais. E desde então emissários dos Estados Unidos discutem com autoridades brasileiras sugerindo metas mais ambiciosas para a redução de emissões, além de medidas concretas para combater as ilegalidades ambientais na Amazônia já este ano.
Bolsonaro está acuado, sob pressão interna e externa. Dia 8 de abril a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura – movimento que reúne mais de 280 empresas e instituições representantes da banda boa do agronegócio, meio ambiente, setor financeiro e academia, enviou carta ao presidente pressionando por metas climáticas mais ambiciosas.
Empresas gigantes como Carrefour, Klabin, e Gerdau, e instituições bancárias como Itaú, Bradesco e Santander foram algumas que assinaram a carta.
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O arrogante ‘ministro’ que covardemente demonizou em público os funcionários do Ibama e ICMBio, desde o dia em que assumiu, disse em entrevista à Folha de S. Paulo: “O setor (madeireiro) se for demonizado e criminalizado indevidamente, vai colocar muitas pessoas em situação de fragilidade econômica ainda maior, só vai contribuir para aumentar o desmatamento ilegal na região.”
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Como se sabe, o delegado Saraiva foi exonerado do cargo de chefe da Polícia Federal do Amazonas em seguida à polêmica.
Mas, se alguém acha que não cabem mais disparates na bagagem do adorador da cloroquina, enganou-se.
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O desmatamento em março na Amazônia atingiu o pior índice para o mês dos últimos dez anos, segundo levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, Imazon. Os dados foram divulgados em 19 de abril.
Nada menos que 810 Km2 foram desmatados na Amazônia Legal. Esta área equivale à cidade de Goiânia. Um aumento de 216% em relação à área desmatada em março de 2020. Os Estados mais atingidos foram Pará, Mato Grosso e Amazonas.
Segundo o jornal O Globo, ‘os dados foram obtidos via Sistema Alerta do Desmatamento (SAD) que monitora via satélite a região’.
Onde ocorreu o desmatamento
De acordo com os dados do SAD, ‘66% do desmatamento ocorreu em áreas privadas ou sob diversos estágios de posse’, como informa O Globo. ‘O restante foi registrado em Assentamentos (22%), Unidades de Conservação (11%) e Terras Indígenas (1%)’.
O Imazon informou que o desmatamento avança em áreas de florestas públicas, como sempre, onde ainda não há regularização fundiária. De acordo com a ONG, ‘como o desmatamento é caro, exige máquinas caras, o objetivo dos invasores seria fatiar os terrenos e assim faturar alto com a especulação imobiliária’.
Tendência de alta
O Imazon alertou para a tendência de aumento do desmatamento considerando as taxas dos últimos oito meses. Entre agosto de 2020, e março de 2021, a destruição da floresta foi 59% maior que no período anterior.
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Vamos nos lembrar que ainda não estamos ao período das secas, quando os ilícitos ambientais explodem na Amazônia, Cerrado, e Pantanal, especialmente.
Um ‘ministro’ desorientado, um presidente desnorteado, e a reunião do clima
Enquanto a desordem toma conta do País, Jair Bolsonaro mandou uma carta a Joe Biden prometendo que aumentará o volume de operações contra o desmatamento. Segundo a Folha de S. Paulo, ‘o presidente já escreveu o seu discurso’. Ele, assim como os outros convidados, terá três minutos para falar.
No discurso Bolsonaro voltará a prometer o que já foi prometido anteriormente por ocasião do Acordo de Paris, ou seja, o fim do desmatamento ilegal até 2030. Ele ainda vai passar o chapéu, mendigando ajuda financeira para cumprir a obrigação de reprimir ilícitos ambientais.
Ainda segundo a Folha, ‘o presidente indicará aumento, ainda este ano, da previsão orçamentária do Ibama e ICMBio’. E prossegue: ‘o valor e o modelo de aporte ainda não foram definidos’.
O jornal ainda lembra que o deficit de pessoal dos dois órgãos, conhecido desde a posse de Bolsonaro, não deve ser recuperado, uma vez que concursos públicos são demorados.
Enquanto estes desencontros aconteciam, numa das reuniões preparatórias entre a equipe de John Kerry – o ‘czar’ do clima americano, o ‘ministro’ do Meio Ambiente decidiu mostrar, numa apresentação em slides, a figura de um cachorro vira-lata sentado, abanando o rabo diante de uma máquina de frango assado típica das padarias brasileiras.
Terá a ideia de jerico sido soprada pelo arguto Bolsonaro?
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Slide de frango de padaria e vira-latas
Segundo a imprensa, era possível ler, em inglês, a frase ‘expectativa de pagamento’ acima das imagens dos frangos que carregavam cifrões de dólares estampados no peito.
Faltou só o Chacrinha vestido de noiva buzinando: eu vim pra confundir!
Como se sabe o ‘ministro’ já se fragilizou pelo tanto de confusões que protagoniza; ele mais uma vez apequenou o País ao afirmar que só se compromete em baixar o desmatamento este ano se conseguir US$ 1 bilhão de dólares.
Este site não faz ideia do que os americanos pensaram ao serem submetidos a slides com imagens de vira-latas e frangos assados, enquanto o desmatamento corre solto na Amazônia.
O que garantimos é que todos os satélites, inclusive os da NASA, registram cotidianamente a aniquilação florestal no País de Macunaíma.
Mas, convenhamos, a impressão não deve ter sido boa. O ‘ministro’ que apequenou o País, até então protagonista das questões climáticas, confundiu os negociadores.
Eles não compreendem como um povo, protagonista na questão ambiental até a posse dos siderados de Olavo de Carvalho, possa se apresentar como um cachorro vira-lata mendigando comida dois anos depois.
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Protesto dos servidores do Ibama
Em 20 de abril centenas de servidores do Ibama assinaram uma carta em que denunciam limitações impostas pelo ministério do Meio Ambiente desde o primeiro dia da gestão Bolsonaro, impedindo, ou dificultando, sua atuação.
Na carta-aberta ao presidente do Ibama, mais de 400 servidores criticam a Instrução Normativa conjunta do MMA, Ibama e ICMBio emitida dez dia atrás. A instrução trata sobre regras que, na visão de fiscais, dificultam investigações de infrações e autuação de ilícitos ambientais.
Os critérios passam a ser centralizados na mão dos chefes, ou seja, o fiscal perde sua autoridade que só é confirmada com anuência da chefia. Mais um golpe da era ‘da passada da boiada’.
Recorde de desmatamento na Amazônia
Deu a louca no mundo, será que foi o que pensaram os americanos depois da exposição do arrogante ‘ministro’ vira-lata? Uma coisa é certa: a reunião, do ponto de vista do atual desgoverno, será um fracasso.
A turma de Brasília vive em outro planeta. Biden sabe que o patrocinador do descalabro é o presidente e sua tacanha visão de mundo, auxiliado por ‘ministros’ fanáticos pela extrema direita, e mau informados sobre a questão ambiental.
O Brasil já foi reduzido à condição de pária. Agora os negacionistas de plantão o reduzem a um País mendigo. E vira-lata…
Imagem de abertura: FLORIAN PLAUCHEUR / AFP
Fontes: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/04/se-nao-alcancarmos-a-china-perderemos-a-chance-de-moldar-o-futuro-do-clima-diz-secretario-dos-eua.shtml; https://oglobo.globo.com/sociedade/um-so-planeta/desmatamento-na-amazonia-tem-pior-mes-de-marco-dos-ultimos-dez-anos-1-24978100.