Proteção a Alcatrazes contribui para a recuperação de tubarões ameaçados
A luta para fazer do arquipélago de Alcatrazes uma área protegida foi longa e dura. Custou mais de 30 anos. Ativistas tiveram que persuadir a Marinha do Brasil a parar de usar as ilhas para treino de tiros de canhão, prática iniciada nos anos 1980, durante a ditadura militar. A primeira conquista veio em 1987, com a criação da Estação Ecológica Tupinambás que protegeu parte do arquipélago. Em 2016, Michel Temer e seu Ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney, finalmente designaram a ilha principal como Refúgio de Vida Silvestre. Entretanto, por exigência da MB, a ilha da Sapata permaneceu sem proteção a fim de continuar como alvo dos tiros de canhão. Oito anos depois, a proteção a Alcatrazes mostrou resultados positivos como a recuperação de tubarões ameaçados de extinção, e isso é uma ótima notícia!
O arquipélago de Alcatrazes
O Arquipélago dos Alcatrazes fica a cerca de 45 km do Porto de São Sebastião e inclui a Ilha dos Alcatrazes como a principal, além das Ilhas da Sapata, do Paredão, do Porto ou do Farol, e do Sul. O arquipélago também conta com quatro ilhotas sem nome, cinco lajes (Dupla, Singela, do Paredão, do Farol e Negra) e dois parcéis (Nordeste e Sudeste).
Sem falar no alto endemismo entre vegetais e répteis, Alcatrazes é o mais importante ninhal do Sudeste e Sul do País. Milhares de aves, de 100 espécies diferentes, usam o arquipélago para se reproduzir. Entre outras, fragatas, atobás, gaivotões, três tipos de trinta-réis, um deles ameaçado de extinção.
Em 2022 a Marinha avisou que iria usar novamente a ilha da Sapata como alvo. Contudo, os protestos foram tão intensos que obrigaram a MB a suspender a atividade. De todo modo, permanece a ameaça.
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Já comentamos que os predadores do topo da cadeia são importantíssimos para a vida marinha. São animais como os tubarões que mantêm a saúde dos cardumes. Ao mesmo tempo, a espécie que chegou na Terra ainda antes das árvores, há 450 milhões de anos, nunca sofreu tantas ameaças como agora.
Estas ameaças incluem o aquecimento global, que prejudica toda a cadeia de vida marinha e, especialmente, a sobrepesca. Todos os anos, entre 70 e 100 milhões de tubarões são mortos pela pesca industrial. Essa caçada maciça e indecente, colocou em risco dezenas de espécies de tubarões.
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Devemos comemorar muito o resultado da pesquisa da Unifesp. Os animais enfrentam muita pressão externa. A pesquisa mostrou mais uma vez que áreas de conservação são essenciais. Alcatrazes, depois de protegido, mostra resultados positivos. Recentemente, anunciamos outra boa notícia sobre tubarões no Brasil. Pesquisadores descobriram que a população de tubarões-limões, igualmente ameaçada, está crescendo no Atol das Rocas.
Qual a semelhança entre o Atol e Alcatrazes? Ambos são áreas de proteção integral, as mais eficazes. Alcatrazes, mais perto da costa, tem uma boa equipe de gestores do ICMBio. Isso é raro nas unidades de conservação federais marinhas. O Atol das Rocas, distante da costa, tem uma funcionária do ICMBio. Ela protege as águas contra a pesca há anos.
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O site da Unifesp destaca um estudo do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar/Unifesp) – Campus Baixada Santista (em Santos). O resultado demonstra a importância de expandir áreas de proteção para diferentes ecossistemas. Isso permite que a natureza se reequilibre e a vida ressurja em várias formas. Esse fenômeno ocorreu no Arquipélago de Alcatrazes, onde populações de tubarões ameaçados de extinção estão se recuperando.
Para Fábio Motta, pesquisador do Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha (LabecMar), professor do IMar/Unifesp, e líder do estudo, “ecossistemas equilibrados beneficiam os predadores de meio e de topo da cadeia alimentar, que ajudam a manter a qualidade do habitat. Assim, a presença de tubarões pode ser considerada um indicador de saúde ambiental.”
A pesquisa integra o projeto Mar de Alcatrazes, uma iniciativa que conta com o apoio da Petrobras e, desde 2022, monitora a biodiversidade marinha do arquipélago, utilizando várias metodologias, incluindo as filmagens remotas subaquáticas com isca (BRUV) que permitem a amostragem da fauna de maneira não invasiva.
Com essa técnica, diz a Unifesp, para alegria dos pesquisadores, foi possível observar e registrar a presença de tubarões em 16 (10,7%) das 150 operações de BRUV, com registros de sete espécies (Squalus cf. albicaudus – cação-bagre-da-cauda-branca; Carcharias taurus – tubarão-mangona; Carcharhinus plumbeus – tubarão-galhudo; Carcharhinus falciformis – tubarão-seda; Rhizoprionodon porosus – cação-frango; Sphyrna lewini – tubarão-martelo-recortado; e Sphyrna zygaena – tubarão-martelo-liso).
Destas, seis são classificadas como ameaçadas de extinção pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
Das sete espécies, seis estão ameaçadas de extinção
A Unifesp revela que, das sete espécies de tubarões identificadas, a IUCN classifica seis como ameaçadas. Fernanda Rolim, pesquisadora da Unifesp, achou muito gratificante filmar um tubarão-mangona, espécie em risco crítico, dentro do refúgio.
O estudo “Efeitos iniciais da expansão e aplicação de uma reserva marinha subtropical sobre espécies ameaçadas de tubarões” saiu em 10 de janeiro. Ele foi publicado no Environmental Biology of Fishes , da Springer.
As duas boas notícias mostram que pesquisadores seguem obtendo resultados positivos, o que traz esperança. Entretanto, muitas dessas iniciativas partem de universidades não sendo amplamente adotadas como políticas públicas para toda a costa brasileira, que enfrenta problemas similares. Esta omissão do MMA é o grande mistério.