Praias de Barcelona tendem a desaparecer (e as do Brasil, também)
Foram tantas as barbaridades da especulação imobiliária no litoral espanhol que, em 2009, o Guardian publicou a matéria The destruction of Spain’s coastline (A destruição do litoral da Espanha), quase sem texto, não era preciso. Apenas uma série de imagens que fazem tremer até um paralelepípedo. Em 2022 foi a vez do aldianews.com, em ‘Spain is ugly’: How uncontrolled construction has spoiled the landscape in Spain (‘Espanha é feia’: como a construção descontrolada estragou a paisagem na Espanha). Os espanhóis que ainda têm senso crítico, concordam. Mostramos no post A Espanha é feia, e uma mancada da imprensa omissa. Nele, comentamos o livro do editor do El País, Andrés Rubio, España fea. El caos urbano, el mayor fracaso de la democracia, (Espanha feia. Caos urbano, o pior fracasso da democracia). Agora, chegam as consequências, entre elas, o possível desaparecimento das praias de Barcelona.
‘Praias de Barcelona tendem a desaparecer’
O subtítulo está entre aspas porque se trata de nova matéria do Guardian, Barcelona’s beaches could vanish as authorities abandon ‘enhancement’ (As praias de Barcelona podem desaparecer quando as autoridades abandonam o ‘melhoramento’).
Se você não sabia, fique sabendo que o Brasil tem um sério rival na destruição do litoral: a Espanha. O País e suas esclerosadas elites só perceberam depois os disparates da especulação imobiliária. E depois da ‘obra feita’, é tarde demais.
Contudo, talvez o estupro praticado na Espanha possa alertar os brasileiros que ainda conseguem se revoltar a se juntarem, e evitarem o pior na linda costa brasileira. Sim, ainda nos resta uma esperança ainda que grande parte do litoral já tenha se degradado de forma definitiva.
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Antes de mais nada, a nova matéria do Guardian mostra que ‘Do jeito que as coisas estão indo, porém, em breve não haverá praia nenhuma. Em toda a Catalunha, o aumento do nível do mar e as tempestades de inverno estão corroendo o litoral.’
Antes desta evidente constatação, o jornal destacou os esforços governamentais para os Jogos Olímpicos de 1992. ‘Barcelona redescobriu o mar. E reforçou sua orla (nos mesmos moldes de Balneário Camboriú – SC) usando milhares de toneladas de areia, a praia agora está lotada de turistas e repleta de bares. A praia de Barcelona pode ser parcialmente artificial, mas é um grande negócio.’
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Logo abaixo, o jornal explica as consequências da engorda de praias: ‘Dos 700.000 metros cúbicos de areia enviados pelo governo espanhol para a costa da província de Barcelona em 2010, 70% já desapareceram.’
Em outras palavras, ‘as nove praias da cidade de Barcelona perdem cerca de 30.000 metros cúbicos de areia por ano, segundo Patricia Giménez, autoridade municipal, responsável pelas praias da grande Barcelona.’
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Frequentemente, lembramos que praias estão no que os pesquisadores chamam de ‘equilíbrio dinâmico’. Em outras palavras, este espaço de transição entre o mar e a terra é extremamente frágil, formado por bilhões de grãos de areia, e fustigado por ventos, correntes, ressacas e, agora, pelos eventos extremos. Por isso as praias se mexem.
Ao se construir muito próximo da areia, ou mesmo na areia como fizeram na Espanha, e estão fazendo no Brasil, quebra-se este encanto. Ou seja, impede-se o equilíbrio dinâmico que faz com que as areias da praia tragadas naturalmente de tempos em tempos, sejam repostas pelas das dunas, ou as areias anteriores às da praia, ou até mesmo pela areia que vem com as ondas. O embate antes equilibrado entre mar e terra passa a ser desequilibrado. Como consequência, aumenta a natural erosão da costa.
É por este motivo que ‘Dos 700.000 metros cúbicos de areia enviados pelo governo espanhol para a costa da província de Barcelona em 2010, 70% já desapareceram.’
Antecipadamente, é preciso compreensão dos fenômenos naturais para ordenar as construções evitando-se o pior. Agora, depois que as obras foram feitas, os resultados aparecem diariamente como reforça o jornal inglês:
‘A erosão está se acelerando como resultado da crise climática. A praia de Bogatell, no extremo norte da cidade, encolheu de 36.000 metros cúbicos em 2010 para 15.000 metros cúbicos hoje. No geral, as praias da Catalunha perderam 25% de sua areia desde 2015.’
Governo catalão se recusa a por mais areia
O Guardian informa que ‘O governo catalão se opõe a despejar mais areia, o que descreve como um desperdício de dinheiro. Mireia Boya, chefe de ação climática do governo regional, propõe medidas que trabalhem com a natureza, como a recuperação de dunas.’
“A dinâmica natural levará à perda de areia em muitos lugares”, diz Boya. “O nível do mar vai subir e teremos praias mais estreitas. Algumas praias menores vão adquirir mais areia e outras vão desaparecer.”
O Guardian ouviu Marta Martín-Borregón, porta-voz do Greenpeace, que disse: “Esta situação ocorre porque as praias são em grande parte artificiais, através da urbanização do litoral catalão, que é o mais desenvolvido da Espanha, do aumento do nível do mar e da destruição das dunas.”
“Além disso, portos e quebra-mares afetam as correntes, que não trazem mais sedimentos para as praias, o que fariam naturalmente.”
Pois é. Qualquer construção nesta área sensível, provoca problemas em outras ao impediram a dinâmica natural das correntes.
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Relatório da autoridade da área metropolitana de Barcelona
‘Um relatório da autoridade da área metropolitana de Barcelona (AMB) diz que a expansão da marina de El Masnou no Maresme bloqueou o fluxo de 50.000 a 100.000 metros cúbicos de sedimentos por ano, contribuindo para a erosão da praia de Montgat, oito milhas ao norte de Barcelona, que encolheu cerca de 80%.’
Em sua matéria, o Guardian anexou uma entrevista com Jorge Guillén, especialista no estudo da morfodinâmica das zonas costeiras. Ele é geólogo de profissão e sua pesquisa se concentra no monitoramento da evolução de curto e médio prazo de sedimentos e estruturas sedimentares.
Ao responder à pergunta, qual o papel das mudanças climáticas em tudo isso? Jorge Guillén reforçou o estrago produzido pelo ser humano, e agora anabolizado pelo aquecimento:
O maior impacto na morfodinâmica das praias associado à mudança climática é o aumento do nível do mar e, em algumas áreas, o aumento da intensidade das tempestades. Em ambos os casos, a praia responde recuando. Até agora, a principal causa do recuo da praia tem sido a intervenção humana, que reduziu a entrada de sedimentos e ocupou espaço que antes pertencia à praia. No entanto, nos próximos anos, o aumento do nível do mar será a principal causa do recuo das praias.
Recado os prefeitos de municípios costeiros brasileiros
Oxalá as autoridades brasileiras pensem sobre a questão. Especialmente os prefeitos de municípios costeiros, entre eles, Topázio Neto (PSD), de Florianópolis, que acabou de aprovar um Plano Diretor que é um golpe do setor imobiliário. Entre outras sandices, permite a ocupação de dunas, flexibiliza ocupação de terrenos confrontantes com a orla marítima, e até mesmo a possibilidade de uso e ocupação de áreas de declividade natural entre 46,6% e 100%, consideradas APP pelas leis anteriores.