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Pesca sem controle no Brasil diminui populações de recifes de corais

Pesca sem controle no Brasil diminui populações de recifes de corais

Já faz algum tempo que chegamos à avaliação de que a pesca no Brasil é uma esculhambação total. Para começar, desde 2008 não temos estatísticas da pesca. Ou seja, não se sabe quais espécies são pescadas, muito menos as quantidades. Só isso já demonstra a baderna que ocorre no setor. Contudo, isso não é motivo para não comentarmos novos estudos sobre o tema. O grupo ReefSYN, um grupo de síntese em ecologia, formado em 2019, e vinculado ao CNPq, foi o responsável pelo artigo Complexidades da pesca dos recifes no Brasil: uma abordagem retrospectiva e funcional, na revista Reviews in Fish Biology and Fisheries”. Adivinhe qual a principal conclusão? Os pesquisadores de nove universidades públicas que fazem parte do grupo ReefSYN chegaram à conclusão que a ‘pesca sem controle no Brasil diminui populações de recifes de corais.’

Corais
Acervo MSF.

‘Brasil não tem continuidade de investimentos para a proteção oceânica’

Outra das conclusões do estudo é que ‘o país não tem, tradicionalmente, uma continuidade de investimentos para a proteção oceânica. Estimativas de estudos recentes apontam que apenas 4% desse território conta com algum grau de proteção ambiental’.

Os leitores deste site já estão acostumados com este fato. Já cansamos de falar que o único presidente a olhar para o litoral e o mar brasileiros, foi Michel Temer. Ele foi o presidente que mais criou áreas marinhas protegidas. Entretanto, ainda faltam muitas outras. Recentemente cobramos mais ação de Marina Silva que até agora ainda não se pronunciou. Há pelos três áreas marinhas prontas para saírem do papel, com os estudos já feitos, e que conseguiram o consenso entre técnicos, ambientalistas e academia. Nem assim Marina os tira da gaveta.

Martin Dias, oceanógrafo e diretor científico da Oceana, faz um breve comentário que resume muitos problemas:

Há um apagão de dados e estamos pescando às escuras sem saber o quanto se produz, de quais espécies, por quantos barcos, gerando qual receita. Essas lacunas existem há muito tempo e evidenciam que o governo brasileiro não imprime a essa atividade os atributos de uma política de Estado, que possa promover o desenvolvimento sustentável

Com esta declaração, o diretor da Oceana confirma o que vimos repetindo a esmo: o litoral, onde vivem 50,7 milhões de pessoas, está ao deus-dará, faltam políticas públicas.

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‘De 1950 até 2015, o Brasil tem reduzido as populações de peixes’

Para o grupo ReefSYN ao longo de seis décadas, de 1950 até 2015, o Brasil tem reduzido as populações de peixes que habitam a costa, por conta do impacto das pescas em recifes. E por que este impacto acontece? Porque não há dados, como já dissemos, não se sabe o quê e quanto é retirado do mar. Segundo o estudo, ‘No Brasil, as informações sobre a pesca dos recifes são muitas vezes escassas e dispersas. Isto decorre de políticas inadequadas e de um valor social não reconhecido da pesca dos recifes.

Na região Nordeste, foram registradas as maiores capturas de peixes recifais, seguidas pelas regiões Sudeste e Norte. A falta de administração e fiscalização da atividade pesqueira contribuiu para o declínio das populações de peixes, especialmente a partir dos anos 2000.

O estudo identificou 110 espécies de ecossistemas recifais nos desembarques de pesca durante esse período. Em 2015, cerca de 50 mil toneladas de peixes de valor comercial foram pescadas, incluindo budiões (gênero Sparisoma), vermelhos e guaiúbas (gênero Lutjanus).

Entretanto o estudo alerta que ‘a falta de gestão adequada e a aplicação dos regulamentos existentes levou ao declínio da população, à diminuição das capturas totais desde o início dos anos 2000 e a numerosas espécies ameaçadas’. Para Mariana Bender, bióloga do Departamento de Ecologia e Evolução da UFSM e autora principal do artigo

Ao longo desses 65 anos, as pescarias atingiram também peixes herbívoros, caso dos budiões no Nordeste, além de peixes de tamanho pequeno. Estamos explorando uma grande variedade de espécies, consumindo praticamente todo e qualquer recurso marinho, sem reconhecer os efeitos da perda da biodiversidade

O estudo destaca ‘a necessidade urgente de estatísticas pesqueiras adequadas e o uso/aplicação de gestão e ações políticas baseadas na ciência para garantir a pesca produtiva e os ecossistemas de recifes saudáveis no Brasil.

Alerta para o óbvio

O estudo alerta que precisamos de políticas regionais urgentes para gerenciar a pesca nos recifes brasileiros. Os recifes têm características diferentes em cada parte do país. Os pesquisadores afirmam que dados atualizados sobre a pesca nos recifes são essenciais para gerenciar a atividade e proteger a biodiversidade.

Que Marina Silva e equipe se liguem, e deem mais atenção ao mar e litoral brasileiros.

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