Parlamento norueguês vota pela mineração submarina
Parlamento norueguês vota pela mineração submarina
Em 9 de janeiro, o parlamento da Noruega votou a favor da mineração submarina no Ártico. O governo afirma que pode minerar de forma sustentável, mas críticos alertam sobre riscos aos ecossistemas marinhos e à biodiversidade do Mar da Noruega. Desde 2001, o governo trabalha em uma avaliação de impacto ambiental da mineração, divulgada para consulta pública em outubro de 2022. Ela recebeu mais de 1.000 respostas, a maioria contrárias à mineração em alto-mar, vindas de indivíduos, institutos de pesquisa e agências ambientais. Com isso, a porteira para a mineração está se abrindo. A Noruega não está sozinha nessa jornada. Em 2021, Nauru, um pequeno país insular, solicitou à Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, ou ISA, um prazo de dois anos para finalizar as regras de mineração no mar. Esse pedido acionou um gatilho, iniciando uma contagem regressiva que preocupa os cientistas.
Magnésio, cobalto, cobre, níquel e metais de terras raras
De acordo com o Mongabay, a Noruega planeja explorar minerais como magnésio, cobalto, cobre, níquel e metais de terras raras. Esses minerais são encontrados em crostas de manganês em montes submarinos e em depósitos de sulfureto em fontes hidrotermais ativas, inativas ou extintas. O governo norueguês defende que a mineração dos fundos marinhos é essencial para assegurar o sucesso da Noruega em uma “transição verde”.
O Mongabay, entrevistou Astrid Bergmål, ministra da Energia da Noruega, que disse: “Precisamos reduzir 55% das nossas emissões até 2030 e cortar as demais emissões após 2030. Por isso, estamos de olho nos minerais do fundo do mar, devido à grande quantidade de minerais críticos necessários por muitos anos.”
No entanto, dentro do próprio país, há oposição científica ao plano. Peter Haugan, cientista e diretor político do Instituto de Pesquisa Marinha da Noruega, bem como diretor do Instituto Geofísico da Universidade de Bergen, afirmou que os planos da Noruega contrariam os conselhos científicos e podem ameaçar a biodiversidade marinha.
“Destruir áreas muito sensíveis e vulneráveis e eliminar a biodiversidade… é um risco real”, disse Haugan à Mongabay. “É realmente um dia triste para a Noruega.”
Extração de “maneira confiável e responsável”
O New York Times, que em março de 2023 pediu o fim da mineração, informou que o primeiro passo da Noruega envolverá coletar informações sobre a quantidade de metais no fundo do mar e os impactos da mineração em larga escala na vida aquática. Antes de autorizar a mineração em escala industrial, o Parlamento norueguês precisará revisar o plano.
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Segundo o Times, o Ministério da Energia da Noruega só permitirá a mineração se puder ser comprovado que a extração é confiável e responsável. As áreas com aberturas vulcânicas submarinas ativas, consideradas especialmente sensíveis, não serão incluídas na mineração.
O jornal também reporta que a mineração de leitos marinhos na Noruega abrangerá uma área de 280.000 quilômetros quadrados no Mar da Noruega, estendendo-se até o Mar de Barents, entre a Noruega e a Groenlândia.
Conforme relatado pelo New York Times, até uma empresa norueguesa com maioria de ações estatais expressou ceticismo. A Equinor, que tem a Noruega como acionista majoritária, admitiu em um comunicado no ano passado os possíveis riscos ambientais ligados à exploração e extração de minerais no fundo do mar.
Noruega e Nauru não estão sozinhas
A Noruega agora faz parte de um grupo de países, incluindo Japão, Nova Zelândia, Namíbia e Ilhas Cook no Pacífico Sul, que nos últimos anos consideraram ou iniciaram a mineração no fundo do mar.
A BBC informou que a decisão da Noruega contraria a União Europeia e o Reino Unido. Ambos pediram uma proibição temporária da mineração submarina por preocupações ambientais. Essa mineração pode causar ruído, poluição luminosa e danificar habitats marinhos, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Em um movimento atípico, informa a BBC, 120 parlamentares da UE enviaram uma carta aberta ao parlamento norueguês em novembro, pedindo a rejeição do projeto devido aos riscos para a biodiversidade marinha e a aceleração das mudanças climáticas. A carta também mencionou que a avaliação de impacto ambiental feita pela Noruega apresentava várias lacunas de conhecimento.
As porteiras estão agora abertas, e só nos resta aguardar as consequências.