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Polinésios e a colonização das ilhas do Pacífico

Polinésios e a colonização das ilhas do Pacífico E…galinhas? Sim, galinhas!

O texto trata da expansão e colonização do Pacífico pelos indonésios. O que a galinha tem a ver com isto? Quem explica, logo mais abaixo, é o biólogo Fernando Reinach, dono de uma coluna sempre interessante publicada no Estadão aos sábados. Já, já, você vai entender o que isso tem a ver com os polinésios e grandes navegações.

embarcação de Fiji.
Embarcação de Fiji. Domínio Público.

Barcos desde tempos imemoriais

Antes ouso fazer pequenos reparos ao texto do mestre. Ao contrário do que ele diz, os antropólogos modernos consideram que a primeira das grandes migrações humanas, aquela que levou o homo erectus (espécie extinta de hominídeo – entre 1,8 milhões de anos e 300 000 anos atrás) a sair da África marchando vagarosamente para “o Oriente Médio, de lá para a Europa e Ásia”, não foi apenas “por terra caminhando”. Também usaram barcos. Sim, barcos, desde aqueles tempos imemoriais (Saiba mais sobre nossos ancestrais).

Polinésios e grandes navegações há 800 mil anos, acredite se quiser

Em minhas pesquisas para escrever o livro “Embarcações Típicas da Costa Brasileira” descobri que esta migração nem sempre foi feita a pé. Goefrey Blainey, professor nas Universidades de Harvard e Melbourne e autor do best-seller “Uma Breve História do Mundo” revela que na ilha de Flores, arquipélago da Indonésia, foram encontrados resquícios de presença humana de mais de 800 mil anos.  O autor considera que a travessia deve ter sido de pelo menos dezenove quilômetros, e que esta talvez tenha sido a mais longa viagem marítima realizada até então.

Pequeno reparo à crônica de Fernando Reinach

Fernando Reinach fala em sua crônica que “para chegar à América atravessamos (nossos ancestrais) o estreito de Bering e de lá, ainda caminhando, chegamos à América do Sul (entre 10 e 15 mil anos atrás, acrescento).

Outro equívoco. Antes de seguir para o resgate do Mar Sem Fim na Antártica, entrevistei especialistas da USP para os documentários. Um deles foi Walter Alves Neves, professor Titular do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva. Eu queria saber porque os ‘andarilhos’ desta grande migração haviam se fixado num local tão ermo para a sobrevivência como a região dos Canais da Patagônia.

“Apenas andarilhos, não”, corrigiu. “Hoje é consenso entre especialistas que eles desceram pela América do Norte, depois a Central para atingirem a do Sul, também usando pequenas embarcações costeando parte do trajeto até atingirem a região dos canais.”

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Feitas as ressalvas, vamos ao que me levou a publicar o texto de Fernando Reinach. Aí é que entram as galinhas.

A colonização das ilhas do Pacífico, ou a grande aventura da humanidade

O Mar Sem Fim intercalou outras informações ao longo do artigo de Fernando Reinach em O Estado de S.Paulo, com o objetivo de informar ao leitor aspectos não mencionados por Reinach. Para a identificação do leitor, eles estarão em itálico.
Contudo, a tese dele é interessante e pode determinar a ordem de colonização das muitas ilhas, e isto ninguém sabe ao certo como foi. Com a palavra, Fernando Reinach.

Eu cresci acreditando que passear na Lua havia sido a maior aventura da humanidade. Mas descobri que nossos ancestrais estiveram envolvidos em uma aventura ainda maior, colonizar as ilhas do Pacífico. Aos poucos estamos apreciando o desafio tecnológico desta aventura cercada por mistério. Agora, estudando o genoma das galinhas, os cientistas estão começando a entender o que realmente aconteceu.

Surgimos na África

Nós somos animais terrestres. Surgimos na África e ao longo de centenas de milhares de anos nos espalhamos pelo Oriente Médio, de lá para a Europa e Ásia. Tudo por terra, caminhando. Para chegar à América atravessamos o estreito de Bering e de lá, ainda caminhando, chegamos à América do Sul. Tudo sem atravessar um oceano. A grande aventura ainda não tinha começado.

33 mil anos atrás, tomamos coragem para navegar

Por volta de 33 mil anos atrás, tomamos coragem para navegar por distâncias maiores. Pulando de ilha em ilha, saímos do que é hoje a Malásia e o Vietnã e chegamos à ilha de Nova Guiné. Foram quase 30 mil anos conquistando ilhas separadas por centenas de quilômetros. Por volta de 3.200 anos atrás, estávamos no Arquipélago de Bismark. A parte oeste da Polinésia estava colonizada. Foi aí que começou a grande aventura, a colonização da parte leste da Polinésia.

Segundo historiadores, estes pioneiros  são chamadas de Lapita e foram os ancestrais dos polinésios, incluindo os Maori. Eles eram, no entanto, marinheiros habilidosos que introduziram estabilizadores e canoas duplas, o que possibilitou viagens mais longas pelo Pacífico, e sua cerâmica distinta – Lapita ware – apareceu no Arquipélago de Bismarck já em 2000 a.C. 

Entre 1100-900 a.C, houve uma rápida expansão da cultura Lapita na direção sudeste através do Pacífico, e isso levanta a questão da migração intencional.

Mapa da migração polinésia de colonização das ilhas do Pacífico (fonte:Guia do Estudante.abril.com.br)

Polinésios e grandes navegações: um triângulo com 10 mil Km 

Na parte leste da Polinésia medem-se as distâncias entre arquipélagos em milhares de quilômetros. É uma região triangular, do tamanho do Brasil. No norte o Havaí, no sul a Nova Zelândia e no leste a Ilha de Páscoa (cuja auto destruição é uma parábola de nossa época, Obs. do MSF). Os lados deste triângulo têm 10 mil quilômetros de comprimento. No centro, a Polinésia Francesa, um conjunto de ilhas que inclui o Taiti, o arquipélago mais próximo da ilha de Samoa, onde nossos antepassados chegaram mil anos antes do nascimento de Cristo e de onde partiram para conquistar o leste da Polinésia.

Uma réplica dos navios polinésios que chegaram até o Havaí, mais de mil anos atrás.

O capitão James Cook (1728-1779), no entanto, tinha poucas dúvidas de que a navegação indígena demonstrava um alto grau de habilidade. No diário de sua primeira viagem ao sul do Oceano Pacífico em 1768-1771 EC, ele escreveu:

…essas pessoas navegam nesses mares de ilha em ilha por várias centenas de léguas, o Sol servindo-lhes de bússola durante o dia, e a lua e as estrelas à noite. Quando isso for provado, não ficaremos mais perdidos em saber como as ilhas situadas naqueles mares vieram a ser povoadas.

Polinésios e grandes navegações: 2.400 Km em mar aberto…

De Samoa à Polinésia Francesa são 2.400 quilômetros de mar aberto. Na época uma distância mais difícil de cruzar do que a que separa a Terra da Lua. Não é à toa que demoramos quase 1.800 anos para cruzar esta distância. Foi provavelmente o tempo necessário para desenvolvermos a tecnologia da navegação de longa distância. Enquanto no Ocidente os Romanos se espalhavam pela Europa, eram derrotados e a Idade Média começava, em Samoa começa o desenvolvimento da tecnologia de navegação.

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Desenho de antigo barco polinésio (fonte: causosdeviajante.blogspot.com)

1.200 anos atrás iniciamos a  aventura, conquistar a Polinésia do Leste

Finalmente, por volta de 1.200 anos atrás (ano 800 em nosso calendário) iniciamos a grande aventura, conquistar a Polinésia do Leste. Foi rápido. Em 300 anos chegamos à Polinésia Francesa atravessando os 2.400 quilômetros.

Canoa de guerra de casco duplo do Taiti. Domínio Público.

Chegamos às ilhas Marquesas (mais alguns milhares de quilômetros) e ao Havaí, milhares de quilômetros ao norte. E, por volta do ano 1.000, finalmente conseguimos chegar à Ilha de Páscoa.

Mas, como foi essa aventura?

O homem, que só caminha, havia conquistado praticamente as ilhas mais remotas do planeta. Mas, como foi essa aventura? Que barcos eram usados, qual o tamanho das expedições? Qual a sequência da conquista das ilhas? Sem registros históricos é difícil saber, mas por sorte há as galinhas.

A engenhosidade polinésia foi responsável pela invenção do catamarã (fonte: catamrasamej.blogspot.com)

Polinésios e grandes navegações…e as galinhas

As galinhas não voam, não nadam e tampouco existiam na Polinésia antes da chegada do homem. Mas em cada ilha conquistada existem galinhas. Os cientistas acreditam que elas foram levadas por nós, muito provavelmente nos barcos originais. Como as populações de galinhas de cada uma das ilhas ficaram isoladas durante séculos, elas se diferenciaram durante esse tempo. Portanto, se for possível determinar a relação genética entre as galinhas ancestrais que viviam em cada ilha, será possível determinar a ordem de colonização das ilhas e o tempo que separa cada viagem.

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