Os estuários, berçários marinhos, estão desaparecendo
Segundo a NOAA, os estuários são alguns dos ecossistemas mais produtivos do mundo. Muitas espécies animais dependem de estuários para alimentação e como locais para nidificar e procriar. As comunidades humanas também dependem de estuários para alimentação, recreação e empregos. Das 32 maiores cidades do mundo, 22 estão localizadas em estuários. Não é surpreendente que as atividades humanas tenham levado a um declínio na saúde dos estuários, tornando-os um dos ecossistemas mais ameaçados da Terra. Agora, um novo estudo revela que os seres humanos alteraram quase metade dos estuários do mundo, e 20% dessa perda ocorreu nos últimos 35 anos.
O estudo publicado na Earth’s Future
Segundo o estudo publicado na Earth’s Future, quantificamos as mudanças na área de 2.396 estuários em resposta aos recentes impactos humanos (por exemplo, recuperação de terras, construção de barragens) e ao desenvolvimento econômico entre 1984 e 2019, e descobrimos que a área estuarina diminuiu 5.372 km2.
Mais uma vez, o Brasil não foge à regra. Grandes cidades como o Rio de Janeiro e Santos ficam dentro de enormes estuários. Um dos nossos mais importantes estuários é o Lagamar, um gigantesco estuário cercado pelo maior trecho contínuo de mata-atlântica do Brasil.
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Dados de satélites no estudo
O Guardian informou que, usando dados de satélite, os pesquisadores mediram as mudanças que ocorreram em 2.396 estuários entre 1984 e 2019. Os resultados, publicados na revista Earth’s Future, descobriram que, nos últimos 35 anos, mais de 100.000 hectares de estuário foram convertidos em terras urbanas ou agrícolas, com a maior parte da perda (90%) ocorrendo em países asiáticos em rápido desenvolvimento.
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Por outro lado, muito pouca perda de estuário ocorreu em países de alta renda nos últimos 35 anos – principalmente porque a extensa alteração aconteceu muitas décadas antes, durante a própria fase de desenvolvimento rápido desses países.
É a velha história, os países ricos já queimaram seu estoque de ecossistemas e/ou florestas para crescerem. Hoje fazem replantio, entre outras. Já os países pobres, ou em desenvolvimento, estes terão que encontrar um modo de crescer sem contudo perder os seus ecossistemas e suas florestas.
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Europa repudia o turismo de massa neste verãoPrefeitura de Ubatuba arrasa restinga da praia de ItaguáO mundo planta árvores de mangue enquanto o Brasil cortaEnquanto isso, a vida marinha segue em grande ameaça. No mesmo momento que ficamos sabendo da perda de estuários, os corais do mundo enfrentam o quarto, e mais perigoso, fenômeno de branqueamento que pode matar grande parte deles.
Estuários importantes no Brasil
Além dos já citados na baía de Santos, Baía de Guanabara, e o Lagamar, no sul de São Paulo, há outros, e quase todos ameaçados pelo crescimento urbano. Este é o caso do estuário da baía da Babitonga, que conta com dois portos, e ainda querem construir mais um num hotspot da costa brasileira.
Outro estuário do Brasil que agoniza fica na baía de Sepetiba, Rio de Janeiro, com cerca de 440 quilômetros quadrados. Suas fronteiras são a Serra do Mar, a Baixada Fluminense, e a Restinga da Marambaia. O motivo da morte de mais este estuário é a brutal poluição.
Como se vê, não é nada fácil conciliar o progresso econômico com a conservação. Possível é, mas antes há que se discutir cada caso com os vários atores envolvidos. Num momento de pressa que vivemos, em razão do aquecimento do planeta, e a queda drástica de biodiversidade, isso fica ainda mais difícil.