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Orcas da Península Ibérica afundam veleiros por brincadeira

Orcas da Península Ibérica afundam veleiros por brincadeira

A partir de 2020 um grupo de cerca de 40 orcas da Península Ibérica, assim chamadas por habitarem as águas desta região da Europa, passaram a colidir principalmente com veleiros numa sucessão de centenas de choques em que vários barcos afundaram.

Nos encontros, quase sempre idênticos, os animais demonstram  preferência pela região do leme das embarcações.

Apesar de ser o mais letal predador dos oceanos, jamais houve registro de um ataque de orca contra seres humanos na natureza. Mesmo assim, os casos da Península Ibérica chamaram a atenção de pesquisadores e aterrorizaram marinheiros que navegam na região. Agora, pesquisadores consideram que descobriram os motivos pelos quais este grupo de animais tem afundado veleiros: as orcas estariam brincando.

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Saiba mais sobre as orcas

Segundo a NOAA, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, as orcas (Orcinus orca) vivem em todos os oceanos em grupos de até 50 animais. Elas aparecem com mais frequência em águas frias, como as da Antártida, e do Ártico. Mas também habitam regiões tropicais e subtropicais.

A distribuição das orcas nos oceanos segundo a NOAA.

As orcas são os maiores membros da família dos golfinhos oceânicos, Delphinidae. Os animais são mamíferos marinhos altamente sociais e podem nadar a velocidades de até 48,3 quilômetros por hora. Um adulto pode pesar até 11 toneladas e atingir 9,7 metros de comprimento.

Orcas se alimentam de uma variedade de presas diferentes, incluindo peixes, focas, golfinhos, tubarões, raias, baleias, polvos e lulas. Os animais podem viver até 90 anos na natureza. A população global soma cerca de 50 mil indivíduos.

A ‘inteligência’ das orcas fascina

As orcas demonstram alta inteligência por meio de comunicação complexa, estratégias de caça sofisticadas, estruturas sociais intricadas e profundidade emocional. Por exemplo, orcas têm comportamentos como transmissão cultural de conhecimento, empatia e até mesmo luto. Isso sugere uma complexidade cognitiva que rivaliza ou supera algumas habilidades intelectuais humanas em certos aspectos.

Estudos e observações indicam que as orcas podem demonstrar emoções como felicidade, tristeza e amizade, com estruturas cerebrais relacionadas ao raciocínio emocional.

Elas foram observadas prestando cuidados e apoio a membros feridos ou em sofrimento de seu grupo. Um exemplo notável é o caso de Tahlequah, uma orca fêmea que carregou seu filhote morto por mais de 1.600 km no que foi descrito como uma “jornada de tristeza”.

Técnicas de caça distintas e inigualáveis

São várias as técnicas, dependendo da situação que encontram onde vivem. Por exemplo, o grupo que vive na Península Valdez, na Argentina,  usa a técnica de caça chamada “encalhe intencional”, avançando até à praia para capturar filhotes de leões e elefantes marinhos. Já na Antártica, outros grupos aprenderam a caçar em conjunto, batendo as caudas para criar ondas que derrubam focas de blocos de gelo e as arrastam para o mar.

Esse comportamento coordenado revela não só a capacidade das orcas de trabalhar em equipe, mas também de planejar e executar táticas de caça.

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Da mesma forma, apenas as orcas da Península Ibérica mantêm o hábito de interagir com barcos.

Por que as orcas são chamadas de baleias assassinas?

Infelizmente, esses magníficos animais carregam até hoje o apelido de “baleias assassinas”, um erro secular que os estigmatiza. O nome nasceu com antigos caçadores, que presenciavam orcas caçando baleias em grupo. Daí surgiu a expressão “whale killers”, ou “matadoras de baleias”. Com o tempo, o termo virou “killer whale”, traduzido como “baleia assassina”.

Agora, manter este nome reducionista e rotulado até hoje é algo que este site não compreende.

As orcas da Península Ibérica

Segundo o site Orca Iberica, o tamanho dos adultos está entre 5 e 6,5 m. É um tamanho pequeno em comparação com outras orcas em todo o mundo, como as antárticas que chegam a 9 metros ou mais. O grupo foi listado como criticamente ameaçado na Lista Vermelha da IUCN desde 2019.

A subpopulação de orcas ibéricas migra do Estreito de Gibraltar para o norte durante o verão, uma vez que é onde vai o atum.

No outono, elas se espalham do norte para águas profundas. Durante o inverno, retornam para a área do Estreito de Gibraltar onde permanecem até o final da primavera, repetindo o ciclo. 

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673 barcos abalroados desde 2020

De acordo com o GT Atlantic Orca, que acompanha os incidentes, pelo menos 673 barcos relataram ter sido abalroados por este grupo de baleias perto de Portugal e Espanha, desde 2020. Enquanto isso, a Comissão Baleeira Internacional (CBI) alertou contra chamar o comportamento de um ataque, já que as orcas estão mais propensas a se envolver em alguma forma de jogo.

No mesmo ano em que os encontros começaram, o Mar Sem Fim gravou um podcast com Marcos Cesar de Oliveira Santos, professor do Instituto Oceanográfico da USP. Ele explicou que as orcas vivem em sociedades matriarcais e exibem comportamentos distintos entre grupos e até entre gerações. Marcos sugeriu que uma das possiblidade seria uma brincadeira.  Hoje, especialistas europeus confirmam a mesma hipótese.

Brincando com o leme de veleiros

Pesquisadores que estudam os incidentes descobriram que são principalmente as orcas jovens que perseguem os veleiros, mas às vezes os adultos parecem estar ensinando os membros mais jovens do grupo a fazer o mesmo.

Para Renaud de Stephanis, presidente da Conservação, Informação e Pesquisa em Cetáceos da Espanha (CIRCE), esse comportamento faz parte da natureza “brincalhona” das orcas.

Outro especialista, Bruno Díaz López, biólogo-chefe do Instituto e Pesquisa de Golfinhos de Sorrambose, na Espanha, disse ao New York Times que as orcas também descobriram que o leme é macio o suficiente para morder, e que a fibra de vidro faz um bom barulho. “É como um brinquedo de treinamento”, disse Díaz López. “É uma pena que nós, humanos, estejamos no meio desse jogo, mas elas estão aprendendo.”

Assista um encontro entre orcas e um veleiro

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