Operação Verde Brasil 2 é encerrada na Amazônia. Valeu a pena?
Tudo começou com uma reunião ministerial que entrou para a história. A da famosa ‘passada da boiada’, em 22 de abril de 2020. De lá para cá houve mudanças no governo federal. Um mês depois da fatídica reunião, o vice-presidente Hamilton Mourão retirou o ‘ministro’ da presidência do comitê orientador do Fundo Amazônia. Foi uma tentativa de volta do financiamento proporcionado por Alemanha e Noruega, o que até hoje ainda não aconteceu. Post de opinião Operação Verde Brasil 2 é encerrada. Valeu a pena?
Consequências da ‘passada da boiada’
Além da saída do ‘ministro’ do comitê orientador do Fundo Amazônia, a ‘passada da boiada’ também provocou um racha no setor do agronegócio que o governo pretende proteger. Dias depois da reunião houve uma ‘guerra de anúncios’ entre entidades do agronegócio, que aplaudiam a declaração do ‘ministro’; e ONGs, que a condenavam.
Uma das maiores lideranças do setor, Pedro de Camargo Neto, que ocupava a vice-presidência da Sociedade Rural Brasileira (que presidiu nos anos 90) renunciou ao posto depois que a SRB assinou um dos anúncios. E esta não foi a única defecção no seio do agronegócio.
A Associação Brasileira de Agronegócio (Abag), presidida por outro expoente do setor, Marcello Brito, não assinou o anúncio que funcionou como jogar gasolina no fogo em meio a tanta polarização.
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Para encerrar a onda das consequências da reunião ministerial, a imagem externa do Brasil caiu a níveis jamais vistos. De líder nas questões ambientais em fóruns internacionais, o Brasil passou a pária.
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Operação Verde Brasil 2 encerrada
Com o ‘ministro’ do Meio Ambiente excluído da questão Amazônia, e a imagem do País arranhada, era preciso uma resposta do governo para demonstrar ‘cuidado’ com nossos biomas. Nasceu a Operação Verde Brasil 2 liderada pelas Forças Armadas, em maio de 2020.
O objetivo era deter as queimadas e o desmatamento ilegais depois de um primeiro ano de governo em que a Amazônia perdeu 10.129 km2. Um aumento de 34% sobre os dados de 2018.
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Caiçaras do Lagamar emitem nota aos Governos de SP e PRCOP16, Quadro Global para a Biodiversidade: situação críticaLula agora determina quem tem biodiversidade marinha: GuarapariEnquanto Mourão estudava o que fazer na Amazônia, o ‘ministro’ do Meio Ambiente prosseguiu em sua jihad contra a conservação, trocando técnicos do Ibama e ICMBio por militares amadores no assunto.
E ao mesmo tempo em que as Forças Armadas se embrenhavam na floresta à procura de desmatadores ilegais, as multas do Ibama, demonizadas pelo presidente desde a campanha, caíram por determinação do ministro em mais de 37% no período de maio a dezembro de 2020.
Cabeçadas do alto escalão do governo
Em meio às cabeçadas do alto escalão do governo, em setembro de 2020 oito países da Comunidade Europeia assinaram uma carta-ultimato endereçada ao vice-presidente. Eles exigiam ação na Amazônia. E sugeriram retaliar comercialmente o Brasil, caso o desmatamento ilegal não fosse combatido. O período das secas estava apenas começando.
Um mês depois, em 22 de outubro, auge da seca e das queimadas ilegais, o ‘ministro’ do Meio Ambiente, sem aviso prévio, anunciou que retiraria da floresta os 1.400 brigadistas do Ibama que trabalhavam com as FA.
Foi um deus nos acuda. E tudo para, dois dias depois, deixar o dito pelo não dito. Apesar da Amazônia estar fora de sua alçada, o ‘ministro’ do Meio Ambiente faz o que pode para atrapalhar. Mesmo que o maior prejudicado seja o Brasil.
O resultado da Operação Verde Brasil 2, que se encerra em 30 de abril, foi um tremendo fiasco. Em 2020, a devastação na Amazônia foi de 11 mil km2, 10% a mais que no primeiro ano desta administração.
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Para não falar na devastação do Pantanal, que já sofre os efeitos da mutilação da floresta amazônica.
Valeu a pena?
Para manter de pé a operação o governo, em momento de penúria econômica, gastou R$ 410 milhões de reais. O montante representa mais de três vezes o orçamento do Ibama e ICMBio para a fiscalização e combate a incêndios proposto para 2021.
Os resultados? Em 2020 a Amazônia perdeu 11 mil Km2. Foram 9,5% a mais que no primeiro ano da gestão Bolsonaro. Ou seja, medíocre, além de caro. As Forças Armadas não têm treinamento para conter grilagem, ou desmatamento ilegal.
Quem sempre cuidou do combate aos ilícitos ambientais foram Ibama e ICMBio. Ambos, com investimentos e vontade política, deram cabo da tarefa quando assim exigiam os governos.
Não é preciso reinventar a roda. Basta o governo dar suporte aos órgãos que existem para este fim. Mas Bolsonaro preferiu o contrário. Semeou vento, demonizando as multas por infrações ambientais. E colhe agora tempestade.
Não poderia ser diferente.
Agora, com a retirada das Forças Armadas, os mutilados e deficitários (em pessoal) Ibama e ICMBio voltam a cuidar da floresta com ações, segundo Mourão, concentradas em 11 municípios onde acontecem a maior parte dos crimes ambientais.
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Enquanto isso, a regularização de terras não avança. Em 2019, o Programa Terra Legal emitiu apenas seis títulos de propriedades rurais, contra 3 a 4 mil em 2018.
Outra novidade do ‘ministro’ foi a criação em 2019 dos Núcleos de Conciliação para avaliar multas ambientais antes de serem contestadas. Em 2020, o Ibama realizou apenas cinco audiências de um total de 7.205 agendadas.
Não se pode esperar muito deste 2021. Não à toa, pesquisadores que estudam o bioma há mais de 20 anos alertam para o início do processo de savanização da maior floresta úmida do planeta.
Ah, antes de encerrar, é oportuno lembrar que nas contas congeladas do Fundo Amazônia estão depositados R$ 1,4 bilhão de reais que poderiam ser usados nas operações contra o desmate e grilarem ilegais não fosse a atitude unilateral do ‘ministro’ do Meio Ambiente.
Voltamos, então, a pergunta inícial: valeu a pena?
Imagem de abertura: diariodoestadogo.com.br.