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Novo antibiótico com o poder da penicilina pode sair do mar

Novo antibiótico com o poder da penicilina pode sair do mar

Fabio Favoretto, pós-doutorado da Scripps Institution of Oceanography da Universidade da Califórnia, em San Diego, falou ao The Guardian. Ele disse que a penicilina veio originalmente de um fungo, o Penicillium. Favoretto sugeriu que poderíamos encontrar algo semelhante nos fungos oceânicos. Estes fungos podem ter adaptações únicas. Isso pode levar à descoberta de novas espécies com propriedades bioquímicas únicas. Sua declaração veio após a publicação do maior estudo de DNA oceânico pela revista Frontiers in Science. Esse estudo revelou muitos segredos sobre fungos nas partes profundas do oceano, fora do alcance da luz solar. O jornal mencionou que o setor de biotecnologia marinha vale cerca de US$ 6 bilhões. Espera-se que esse valor quase dobre até 2032. A biotecnologia marinha é mais um dos muitos serviços ecossistêmicos dos oceanos.

Mergulhadores na zona do crepúsculo
Mergulhadores na zona do crepúsculo. Imagem, Alexis Rosenfeld/Unesco.

O maior estudo de DNA oceânico

O novo catálogo de DNA oceânico contém mais de 317 milhões de grupos de genes de organismos marinhos. Eles compilaram esses dados a partir de amostras coletadas em diversas viagens. Entre elas a expedição de quatro anos do Tara Oceans, que começou em 2009, e a circum-navegação Malaspina de 2010.

A Expedição Malaspina 2010 foi uma iniciativa científica espanhola. Uma equipe multidisciplinar participou dela por oito a nove meses entre 2010 e 2011. A bordo dos navios oceanográficos “Hespérides” e “Sarmiento de Gamboa”, o objetivo era explorar a biodiversidade marinha nos oceanos profundos. Eles se concentraram especialmente na zona crepuscular, que fica entre 200 metros e 1.000 metros abaixo da superfície.

A fundaçãoTara Oceans tem como objetivo promover o conhecimento sobre o oceano e aumentar a conscientização sobre sua importância vital. Essa fundação apoiou a expedição de quatro anos no veleiro Tara. Segundo o site da fundação, a expedição resultou em quase 35 mil amostras de vírus, algas e plâncton coletadas e analisadas. Foi a maior tarefa de sequenciamento genético já realizada em organismos marinhos. Ela trouxe à tona a maioria dos genes microbianos que até então eram desconhecidos.

Segundo a National Library of Medicine, o meio ambiente marinho representa inúmeros e diversos recursos para novos medicamentos no combate às principais doenças, como o câncer ou a malária. Esses organismos aquáticos são rastreados para propriedades antibacterianas, imunomoduladoras, antifúngicas, anti-inflamatórias, anticancerígenas, antimicrobianas, neuroprotetivas, analgésicas e antimaláricas.

A pesquisadora brasileira Letícia Lotufo explicou, em podcast, que a biotecnologia é uma ciência ainda nova, que  ‘engatinha’. Mesmo assim do início nos anos 60 até hoje, 13 medicamentos já nas farmácias mundiais foram alcançados devido à contribuição do espaço marinho. Destes, oito são para o câncer.

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Fungos vivendo na zona de crepúsculo

O Guardian conversou com a bióloga Elisa Laiolo, autora do artigo, que ficou surpresa com a quantidade de fungos vivendo na zona do crepúsculo. Para ela “Houve algumas indicações disso [com abundância de fungos neste nível] antes, então esta é outra peça do quebra-cabeça.”

Desenvolvimentos em tecnologias de supercomputação e sequenciamento, disse ela, significam que mais informações podem ser obtidas a partir de amostras existentes, a custos muito mais baixos.

O sul global fica de fora

O jornal inglês também ouviu Carlos Duarte, professor de ciências marinhas e autor sênior do estudo. Apesar dos benefícios do catálogo, Duarte disse que houve problemas com a propriedade de genes marinhos e compartilhamento dos benefícios, particularmente com os países do sul global que não tinham o mesmo acesso à supercomputação analítica e de sequenciamento de genes. “Atualmente, 10 nações possuem 90% das patentes de genes marinhos, os benefícios não estão sendo compartilhados”, disse ele.

Mudanças nas regras de propriedade estão sendo feitas, no entanto. “Desde outubro do ano passado, o tratado do alto-mar que entrou em vigor diz que aqueles que descobrem um gene marinho ‘passam a ter sua posse’, disse Duarte. “Eles têm que compartilhar os benefícios. O problema é que não está claro como esse compartilhamento de benefícios vai funcionar.”

A revista do Smithsonian Institute, que também repercutiu, informou que o catálogo descrito na revista é uma biblioteca digital de código aberto de códigos genéticos de organismos oceânicos – e os cientistas dizem que pode abrir portas para o desenvolvimento de medicamentos ou inovações em energia e agricultura. Agora, a maior coleção de genomas de micróbios marinhos está organizada numa base de dados online.

Alguns remédios importantes vindos do mar e já comercializados

A família de medicamentos antivirais, incluindo o AZT para tratamento da Aids, baseia-se em um grupo de compostos (arabinosídeos) extraídos da esponja Tethya crypta há mais de 40 anos. Esta história de sucesso da primeira onda da biomedicina marinha representa um mercado anual de mais de US$ 50 milhões.

No Brasil, segundo artigo de Roberto G.S.Berlinck, Organismos do mar e suas ações antivirais, são comercializados o halaven (mesilato de eribulina), que é um medicamento para tratar câncer de mama, e o yondelis (trabectedina) para tratar câncer de ovário. Ambos são de origem marinha. O halaven foi desenvolvido a partir da halicondrina B, uma substância isolada da esponja Halichondria sp. do Japão.

Assista ao vídeo e saiba mais sobre o novo banco de dados

Os últimos 10 anos foram a década mais quente dos oceanos

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