Mitos e verdades sobre a campanha de despoluição do rio Tietê
1 – Tudo começou na redação de uma ‘radinho AM da Aclimação’; verdadeiro, ou mito? 2 – A ideia não era uma campanha, mas um programa que demonstrasse a importância da prática da cidadania numa recém democracia, e depois de 21 ‘anos de chumbo’. Mito, ou verdade? 3 – Considera-se a campanha de despoluição do rio Tietê como a maior obra de saneamento básico já feita no Brasil. Mito, ou verdade? 4 – Mais de 20 milhões de paulistanos tiveram o benefício da limpeza do Tietê via o saneamento básico. Mito, ou verdade? 5 – O investimento na despoluição ultrapassou US$ 4 bilhões de dólares, na maior obra de saneamento jamais feita no País. Mito, ou verdade?
Mais cinco dúvidas sobre o movimento
6 – A campanha pela despoluição do Tietê teve o engajamento direto de 10% da população da cidade de São Paulo à época; mito ou verdade? 7 – A ONU, em relatório publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), destacou os avanços na despoluição do Tietê, em São Paulo, nas últimas décadas. Mito, ou verdade? 8 – Em 1991 o Núcleo União Pro-Tietê conseguiu a maior doação até então feita pela iniciativa privada em prol de uma campanha ambiental, arrecadando US$ 350 mil dólares (de acordo com o simulador do Clube dos Poupadores, se fosse hoje o valor representaria US$ 810.000). Mito ou verdade? 9 – Na época falou-se muito que ‘em breve poderíamos nadar no Tietê’; mito, ou verdade? 10 – A campanha não deu em nada, o Tietê continua o mesmo esgoto a céu aberto; mito ou verdade?
Dez mitos ou verdades: conheça os resultados
A história de hoje é abusada em exemplos raros. Um súbito sopro de grandeza envolveu milhares de pessoas. Grandes empresários, políticos, estudantes, faculdades, instituições, artistas, gente pobre e humilde deram-se as mãos pela mesma causa.
Do Nº 1 até o Nº 9, todas as respostas são verdadeiras. O Nº 10, é o único mito. Contudo, a questão Nº 9 merece um reparo. Quem alardeava que ‘em breve poderíamos nadar no Tietê’ era o governador Antônio Fleury (março de 1991- janeiro de 1995), de triste memória. Como bom ‘animal político’, Fleury farejou a vontade da população, percebeu a catarse e quis dela se aproveitar.
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Mas, por que este assunto agora? Bem, porque considero que já é tempo de colocar os pingos nos ‘is’, passados 33 anos da depuração. Cansei de ouvir que a ‘campanha do Tietê não deu em nada’. A gota d’água foi um evento em que estive recentemente, com o auditório lotado de formadores de opinião. Às tantas, um deles, nem lembro por qual motivo, repetiu ‘o Tietê não deu em nada’, encarei a plateia para ver a reação e percebi muitos maneando a cabeça, como que dizendo…’é, não deu em nada’.
Em outras palavras, esse ilustre cidadão, muito envolvido com questões ambientais do Estado, desconhecia os resultados reais e efetivos da campanha. Assim como muitos outros, ele havia cristalizado em sua mente a ideia de que a Campanha do Tietê não deu certo. De certa forma, ele até me prestou um favor. Ao perceber a plateia concordando silenciosamente, pensei comigo mesmo: Chega! Decidi que não vou mais deixar essa afirmação passar sem reação. E continuarei firme nessa posição enquanto minha lucidez permitir.
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O que o Mar Sem Fim tem a ver com isso?
Mas, o que um site especializado no bioma marinho tem a ver com isso? Rigorosamente nada. Acontece, que antes deste site existir eu era diretor da rádio Eldorado AM/FM, do Grupo Estado, na redação da qual nasceu a ‘Campanha do Tietê’ (verdade Nº 1). Num dos capítulos do livro Eldorado – A Rádio Cidadã de minha autoria, e publicado pela Terceiro Nome, contei como aconteceu, e quais objetivos foram alcançados. Mas não foi suficiente…Hoje, percebo que os sucessivos governos, desde o início da campanha, pecaram sem querer, por omissão, ao não informarem satisfatoriamente à população.
Sei disso porque desde 1990 frequento a Sabesp. Fiquei amigo de vários funcionários graduados como o diretor de marketing, Adriano Stringhini (que saiu há pouco tempo), além de engenheiros, técnicos de diversas especialidades relacionadas ao saneamento básico, etc. Também conversei longamente com dois ex-presidentes, Gesner Oliveira e Jerson Kelman. Os assuntos eram sempre dois: o Tietê, e o andamento do saneamento básico no litoral paulista.
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Em 2019, quando João Dória prometeu que entregaria o Pinheiros limpo para a população em 2022, quase tive uma síncope. Como assim? Corri na Sabesp para falar com meus amigos. Gente, o que deu neste cara, ficou louco?
Então, mais uma vez explicaram que ‘há muito pesquisas já apontavam que a população não acreditava na despoluição do Tietê. Para a grande maioria foi mais uma mentira do poder público. Esta parcela da população, entretanto, é formada por gente que só vê o Tietê na região metropolitana’. Por isso, disseram, ‘João Dória não quis investir diretamente no Tietê, ele preferiu mirar no Pinheiros que é muito pequeno em comparação, e que por isso pode, sim, ser limpo em quatro, no máximo cinco anos’.
O rio Pinheiros e seus 25 km de extensão
Na hora fiquei muito decepcionado, liguei para Malu Ribeiro, Diretora de Politicas Públicas da SOS Mata Atlântica, para entender. Ela também estava desapontada, e explicou que o Pinheiros, por ser tão pequeno, não tem quase influência na bacia do Tietê. Isso significa que nosso sonho – de vê-lo limpo também na região metropolitana – iria atrasar um pouquinho mais.
Mais tarde, compreendi a postura de Dória. Pelo menos, ele conseguiu deixar o Pinheiros mais limpo, além de proporcionar saneamento básico para milhares de pessoas, conectando 650 mil imóveis à rede coletora. As margens do rio também ganharam duas ciclovias.
‘O programa agora trata 2,8 mil litros de esgoto por segundo’
De acordo com o site do governo, ‘em dezembro de 2022, a Unidade de Recuperação Jaguaré, uma das cinco estações de tratamento de esgoto do Novo Rio Pinheiros, foi entregue à população’.
Com isso, ‘o programa agora trata 2,8 mil litros de esgoto por segundo, o equivalente à cloaca de uma cidade como Curitiba. Em seguida, o Governador Rodrigo Garcia visitou o Parque Bruno Covas e as obras da Usina São Paulo, que será transformada em um projeto de lazer para revitalizar as margens do rio’.
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Como se vê, apesar das obras estarem atrasadas os trabalhos no Pinheiros também prosseguem depois da saída de seu idealizador. E, de acordo com o site do TCU, ‘até outubro de 2021, foram investidos 3,6 bilhões de reais’. Portanto, somando os valores do Tietê e os de Dória no Pinheiros, o investimento nas obras de saneamento ultrapassa os US$ 4 bilhões de dólares!
Parágrafo para a população que ainda resiste a acreditar
A população precisa ter uma certeza: despoluir um rio metropolitano em uma das maiores, mais caóticas e desiguais cidades do mundo é um processo extremamente caro e demorado. E o atual governo do Estado não pode repetir o erro dos anteriores ao deixar de informar a população de maneira constante, seja sobre os avanços na despoluição dos rios Tietê e Pinheiros, seja sobre eventuais retrocessos. A transparência e a comunicação contínua são essenciais para reverter a percepção negativa que ficou. Se os insatisfeitos souberem que mais de 20 milhões de paulistanos finalmente têm acesso ao saneamento básico, tenho certeza de que o governo conquistará milhões de aliados. A história dos primeiros 10 anos da campanha do Tietê está aí para provar.
Breve histórico de como nasceu o programa ‘Encontro dos Rios’
Em meados de 1990 lançamos a Nova Eldorado AM. Eu acabava de contratar um chefe de redação, Marco Antonio Gomes. Pedi que evitasse pautas repetitivas. ‘Minha rádio’ não seria mais uma a ‘requentar notícia de jornal’. Pouco depois, uma lista de reportagens foi apresentada. Uma sobressaiu pela ousadia. A ideia era demonstrar a importância de praticar cidadania.
Estávamos havia cinco anos da redemocratização. Era 1990, nossa democracia engatinhava, mas era também a véspera da Eco-92, quando a questão ambiental ocupava as manchetes todo dia. Isso atiçaria o brio dos paulistanos.
BBC, Eldorado; Tâmisa e Tietê
“Encontro dos rios”, foi ao ar em agosto de 1990, com trilha sonora própria (uma raridade na época) e ousados objetivos: reforçar o credo que a sociedade tem o dever de pressionar os governantes; e lembrar que debaixo de nossos narizes havia uma vergonha, um esgotão a céu aberto para o qual ninguém dava bola (‘Verdadeiro – Nº 2).
Uma equipe da BBC, com quem tínhamos parceria, navegaria pelo Tâmisa, enquanto uma dupla de repórteres da Eldorado faria o mesmo no Tietê. E trocariam informações. Durante as três horas de transmissão, o repórter da BBC contou sobre protestos dos londrinos que, desde o século 19, apelidaram o Tâmisa de ‘O Grande Fedor’. E relembrou das seguidas manifestações até que o governo, pressionado, começou o longo trabalho de despoluição.
Enquanto isso, desviando de ilhas de lixo no Tietê, os repórteres Rosely Tardelli e Marco Antonio Sabino descreviam cenas macabras: animais mortos boiando, o cheiro fétido que emanava do rio; o aspecto gelatinoso da água que, de tão pegajosa, dificultava o avanço do barco, etc. Três horas descrevendo as repugnâncias daqui, e a solução, do lado de lá. Ao final, o improvável aconteceu. O recado subliminar teve maciça aceitação, o Tietê dependeria de nós e da pressão da população.
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Os telefones da rádio começaram a tocar assim que o prefixo confirmou o fim do programa, e não pararam mais por meses seguidos.
O inicio da catártica reação que impedia meu trabalho
Nas semanas seguintes eu mal conseguia trabalhar. Atônito, recebia ouvintes em minha sala, atendia ligações daqueles que “queriam participar da campanha” e recebia uma enxurrada de faxes diariamente. O movimento, que tinha tudo para murchar, inflou. Em setembro o Estadão deu em manchete: “Campanha por rio ganha a cidade”. Em qualquer lugar o assunto era um só: como fomos capazes de tamanha degradação.
De repente, os paulistanos se deram conta do esgoto em que transformamos o rio, em cujo vale os jesuítas decidiram fundar uma paupérrima vila no século 16. O curso d’água, usado pelos Bandeirantes para alargar as fronteiras da então colônia de Portugal, tinha apodrecido. E todos nós tínhamos alguma responsabilidade, seja por ação ou omissão.
O frenesi durou o resto de 1991, e avançou ainda mais impulsivo 1992 adentro, na medida em que todo dia recebíamos algum apoio totalmente inesperado.
SOS Mata Atlântica abraça a despoluição do rio Tietê
Atordoado, senti a barra pesar. Eu não podia perder a oportunidade, a chance era aquela. Corri a pedir ajuda. A mais respeitada ONG do Brasil, a SOS Mata Atlântica, era presidida por meu irmão, Rodrigo Lara Mesquita, um de seus fundadores ao lado de Fábio Feldmann, João Paulo Capobianco, Plínio Bochino, Dr Paulo Nogueira Neto (este, um titã do ambientalismo tupiniquim), Aziz Nacib Ab’Saber, Roberto Klabin, Yara Novell, e outros. Procurei-o. Eu não entendia de despoluição, mas não podia perder aquele mágico momento de união por uma causa justa. Rodrigo convocou João Paulo Capobianco (atual assessor de Marina Silva) que ouviu meu relato e pediu tempo.
Dias depois, Capô me chamou e apresentou um plano: criariam um núcleo com equipe própria para cuidar do rio. Ôbaaa! Mas desde que eu conseguisse a grana para financiá-lo. Vixe! Montamos um orçamento para a equipe e o dolarizamos: custaria cerca de US$ 350 mil para três anos de ação.
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Fazendo ‘cara de paisagem’ enquanto era ignorado em agências de publicidade
Preparei a apresentação, treinei o discurso e passei a visitar agências e empresas. Demorou mais de um ano. Cansei de ouvir ‘nãos’. Estive em dezenas de agências onde os ‘Nizans’ da época não se constrangiam em demonstrar seu enfado, bocejando enquanto eu entusiasmado falava das possibilidades que o programa levantara. Foi o maior treino de cinismo que tive na vida.
Mas nunca dei bobeira, fingia que não entendia e terminava meu discurso, mesmo sabendo que a chance era zero.
Um dia bati na porta do Unibanco…
Um dia bati na porta do Unibanco, onde fui atendido pelo diretor Paulo Bravo. Ele era bem informado, percebia claramente a São Paulo inflamada pelo tema. Ao mesmo tempo em que me ouvia, fazia sugestões. ‘Vocês têm previsão de criar um conselho (para o Núcleo)? Tem que ter!’
‘Este conselho deve dar prioridade, desde o primeiro dia, a trabalhar para conseguir verbas próprias de modo que a mobilização não pare quando acabar o patrocínio’. Ok, eu dizia, ele tinha razão. Numa das últimas reuniões, depois de apresentarmos a ele Mário Mantovani, que cuidaria do Núcleo, Paulo Bravo fez mais duas exigências: que eu fosse o responsável pela formação do conselho, que fizesse parte dele durante os três anos de patrocínio, e que o Unibanco tivesse um representante pelo mesmo período. OK, por que não?
Com o polegar para cima
As conversas devem ter demorado uns seis meses, ou mais. Mas o progresso era constante, valia continuar. Certo dia Paulo, já amigo e fã da Eldorado, disse que recomendaria a aprovação ao conselho do banco, e informou data e horário da decisiva reunião. Naquela manhã vesti terno e cheguei bem cedo.
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Eu não acompanharia a reunião, mas aguardaria o final. Horas depois as portas se abriram e um grupo de ‘engravatados’ deixou a sala meio embolados. Meu coração quase saiu pela boca enquanto eu procurava distinguir meu contato, de repente, ao me ver, Paulo, ainda em meio aos demais, levantou o braço, fechou a mão, e colocou o polegar para cima.
A maior doação para a causa ambiental já feita no País
O Unibanco nos deu US$ 350 mil dólares (‘Verdadeiro’ Nº 8). Foi a maior doação para a causa ambiental até então feita no Brasil. À esta altura, o sonho dos ouvintes da Eldorado já era o de quase todos os paulistanos.
Mário Mantovani passou a organizar reuniões em praça pública, palestras, shows musicais em benefício da causa, projetos de educação ambiental, etc.
Um destes eventos no Ibirapuera teve voo de balão, presença da prefeita Erundina apoiando a campanha, e centenas de manifestantes. O ‘barulho’ crescia dia a dia. A garotada da redação, em primeiro emprego, se extasiava com a repercussão.
Um abaixo-assinado a favor do Tietê, ideia do Mário, começou a correr e surpreendeu outra vez. Empresas, entidades de classe, funcionários públicos, escolas, passavam as listas entre seus pares. Quando o número de assinaturas superou 200 mil, mais uma alegria. Quase na mesma semana assinaram, Antonio Ermírio de Morais, um dos maiores e mais sérios empresários do País; Emerson Fittipaldi, bicampeão mundial da Fórmula 1, campeão da Indy em 1989, e bicampeão das 500 milhas de Indianápolis; Maurício de Souza, o pai da turma da Mônica e, pasmem, a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello. Caraio! A coisa tá ficando grande…
Nos primeiros anos foi assim, uma linda surpresa agradável, no mínimo uma vez por semana, enquanto as adesões aumentavam sem dar mostras de parar.
A campanha de despoluição do rio Tietê na Eco-92
Ainda em 1992, parte do abaixo-assinado, já encadernado, foi levado à Eco-92, em uma Unidade Móvel de Monitoramento da Qualidade da Água, também chamado ‘furgão do Núcleo União Pró-Tietê.
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Em 1993 um milhão e duzentas mil assinaturas, divididas em 124 grossos volumes encadernados, foram entregues em solenidade ao governador do Estado, Antônio Fleury. Dez por cento da população paulista, à época, assinaram o manifesto (‘Verdadeiro’ Nº 6).
Fleury cria o Projeto Tietê e tenta se aproveitar do movimento
Em resposta, o governo criou o Projeto Tietê e iniciou reformas na estação de tratamento de esgotos de Barueri. Aproveitando a situação, Fleury prometia que o rio ficaria limpo durante seu mandato e que o povo poderia nadar no Tietê (Verdadeiro Nº 9).
Essas promessas, no entanto, eram prontamente desmentidas pelo Núcleo. Uma obra dessa magnitude não se presta à demagogia; exige tempo e grandes investimentos. E, no fim, foi praticamente só o que Fleury fez.
Mário Covas, eleito, “assume” o Projeto Tietê
Em 1995, Mário Covas foi eleito e o recado da opinião pública, respeitado. Pela primeira vez na história política de Pindorama, uma obra iniciada pelo governo anterior, de outro partido, teve continuidade. Covas revisou o projeto, estruturou-o em três fases e investiu fortemente com o apoio de instituições internacionais.
Conforme o site da Sabesp, ‘entre 1995 e 1998, o governo planejou e implementou a primeira etapa do Projeto Tietê que inaugurou três estações de tratamento de esgoto (ETEs) e ampliou a ETE Barueri, com um investimento de US$ 1,1 bilhão’.
Segunda etapa
Na segunda etapa, iniciada em 2002 e concluída em 2008, o governo destinou US$ 400 milhões para a construção de 36 km de interceptores, 110 km de coletores tronco, 1,2 mil quilômetros de redes coletoras e 290 mil ligações domiciliares, segundo dados da Sabesp.
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Terceira etapa
Sabesp: ‘Os resultados dos investimentos das Etapas I e II foram expressivos. A coleta de esgoto na RMSP subiu de 70% para 84%; e a população beneficiada foi 8,5 milhões de pessoas. Ampliação do Sistema de Coleta, totalizando 550 km de interceptores e coletores-tronco em 2.900 km de redes coletoras com 540 mil ligações domiciliares. Duplicação da capacidade de tratamento de esgotos (de 8,5 para 18 m³/s); a construção de 3 ETEs (ABC, Parque Novo Mundo e São Miguel) e ampliação da ETE (estação de tratamento de esgoto) Barueri’.
‘A terceira etapa, iniciada em 2010 e com término previsto para 2020, teve foco na ampliação do sistema de coleta e tratamento de esgotos na Bacia do Alto Tietê (RMSP), com investimento estimado de US$ 2 bilhões’.
‘A Etapa III do Programa focou na ampliação do sistema de coleta e tratamento de esgotos na Bacia do Alto Tietê (RMSP). Com a culminação dos desembolsos desta terceira fase prevista para setembro de 2018. Com a finalização de todas as obras, o resultado foi expressivo: mais de 13 milhões de habitantes foram beneficiados com as três etapas, alcançando 87% de cobertura de esgotamento sanitário e 84% de tratamento de águas residuais’.
A quarta etapa
‘Desta forma, o Programa avançou para a quarta etapa, batizada de Tietê IV, que também contará com financiamento do BID, visando à universalização do serviço de esgotamento sanitário na área de atuação da Sabesp na Região Metropolitana’.
Neste meio tempo a nascente do Tietê ‘viralizou’. Quando saiu a notícia da aquisição do local, todo mundo queria conhecer. Organizavam-se excursões, colégios levavam os alunos de ônibus. Às vezes, dezenas de pessoas ao mesmo tempo lá se encontravam.
Em 2001, Covas deixou o governo em razão de um câncer. Assumiu o vice, Geraldo Alckmin, e mais uma vez a obra prosseguiu.
A importância da Sabesp e a criação do Dia do Tietê
Segundo o site da Sabesp, ‘em 1992 a mobilização social seguida de um abaixo-assinado com mais de 1 milhão e 200 mil assinaturas, ocorrida na capital, iniciativa da rádio Eldorado, com apoio do Jornal da Tarde e da ONG SOS Mata Atlântica, teve origem o Projeto de Despoluição do Rio Tietê. O objetivo é ampliar a coleta e o tratamento de esgotos, reduzindo o lançamento de poluentes nos principais rios e córregos que percorrem a Região Metropolitana de São Paulo. A lei estadual nº 7.815, de 23 de abril de 1992, instituiu o dia 22 de setembro como Dia do Tietê’ (o Dia do Tietê é mais uma vitória da campanha da ‘radinho da Aclimação’).
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Mais de US$ 4 bilhões de dólares investidos na maior obra de saneamento já feita no Brasil, com mais de 20 milhões de pessoas beneficiadas
Após Alckmin, o Estado foi governado por Cláudio Lembo, José Serra, Alberto Goldman, novamente Geraldo Alckmin, Márcio França, João Dória, Rodrigo Garcia e, finalmente, Tarcísio de Freitas.
Em nenhum momento os investimentos foram interrompidos. Até hoje, mais de US$ 4 bilhões foram investidos na maior obra de saneamento já realizada no País (“Verdadeiro” Nºs 3 e 5).
A ONU e a Campanha de despoluição do Tietê
A campanha paulista teve repercussão internacional. Lembro-me perfeitamente o dia em que recebi em minha sala um embasbacado repórter da BBC. Ao entrevistar-me, ele mesmo comparou nossa campanha à do Tâmisa. Pouco depois, a ONU publicou um relatório destacando os avanços na despoluição do Tietê. Mas lembrou que o rio “continua poluído” e que sua recuperação requer investimentos de longo prazo (‘Verdadeiro’ Nº 7).
Vejamos o que diz a introdução do relatório da ONU (não tão atualizado como este post).
O Alto Tietê atravessa a Região Metropolitana de São Paulo, no sudeste do Brasil, a maior aglomeração urbana e industrial da América do Sul. Desde a década de 1950, o crescimento da população e das atividades industriais levou a uma grave deterioração da qualidade da água do rio Tietê. Em 1991, foi lançado um Programa de Despoluição e, desde então, o nível de tratamento dos esgotos domésticos e industriais aumentou significativamente. O trecho do rio afetado pela poluição severa a jusante da Região Metropolitana de São Paulo diminuiu de 260 km para 100 km. Este é o maior projeto de despoluição de rios no Brasil e mostra a importância da participação pública, de investimentos contínuos e da criação de mecanismos de governança e financiamento.
Saltamos agora para o tópico 4.2.3 do relatório da ONU.
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4.2.3 Soluções e ensinamentos transferíveis
No final da década de 1980, as ONGs e os meios de comunicação organizaram diversas ações contra a degradação do rio Tietê, como parte de uma campanha pela sua despoluição. Em 1991, 1,2 milhão de pessoas assinaram uma petição pedindo ao governo do Estado que limpasse o rio, e em 1992 o governo de São Paulo lançou o Programa de Despoluição do Rio Tietê.
O programa é financiado por empréstimos do Banco Interamericano de Desenvolvimento e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, e por recursos da SABESP, e inclui a construção de novas estações de tratamento de águas residuais, a ampliação das estações existentes, a construção de redes de recolha de esgotos e o controle da poluição industrial.
Afinal, o Tietê está limpo ou sujo?
Na região metropolitana de São Paulo ele passa a impressão de ser o mesmo e doente rio. Porém, quando começamos a campanha a CETESB publicou um relatório onde mostrava os três tipos de poluição que havia: poluição química por cerca de 1.200 empresas que jogavam seus efluentes no rio, poluição por esgotos despejados in natura, e o terceiro, a poluição ‘difusa’ provocada pelas chuvas e a falta de educação da população que joga de bitucas de cigarros a carros, sofás, animais mortos, etc, na rua ou na calha do rio.
Os excepcionais e desconhecidos resultados da campanha que prossegue até hoje
Poucos anos depois, as 1.200 empresas instalaram filtros. Hoje não existe poluição química no rio, outra grande vitória.
Entre 1991 e o ano 2000, o índice de residências paulistanas com rede de esgoto ou fossa séptica, água encanada e coleta de lixo domiciliar saltou de 79,4% em 1991 para 85,7% em 2000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Instituto Trata Brasil, referência no País, revelou que segundo dados do SNIS 2020, 98,8% dos habitantes da capital do Estado são abastecidos com água potável e 93,5% têm atendimento à coleta de esgoto. Mais de 20 milhões de paulistas tiveram finalmente o sonhado acesso ao saneamento básico (‘Verdadeiro’ Nº 4).
Tâmisa ou Tietê, ou Tietê e Tâmisa?
Desde o início da campanha do Tietê, há comparações com a despoluição do rio Tâmisa, mas poucos sabem exatamente quando esse processo começou e terminou. Aproveitando a oportunidade, vamos aos fatos. As informações são um resumo do ensaio da Dr.ª Hannah Stockton, curadora do Maritime London and Merchant Marine, do Royal Museums Greenwich.
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Já no século XIII, havia queixas sobre o abastecimento de água de Londres (água do Tâmisa) considerado inadequado, e com água suja. À medida que Londres crescia, aumentava a procura de água potável.
O verão de 1858, excepcionalmente quente, agravou o cheiro do rio cheio de esgotos.
Era comum flagrar políticos saindo da Câmara dos Comuns com lenços tapando boca e nariz para amenizar o cheiro. Os cartoons nos jornais exprimiam o horror do mau cheiro e os políticos foram levados a agir imediatamente.
Despoluição do Tâmisa começa ao tempo da Rainha Vitória
O primeiro projeto de lei para a limpeza do Tamisa, proposto pelo futuro Primeiro-Ministro Benjamin Disraeli, tornou-se lei em apenas 18 dias.
“Quase todos os seres vivos que existiam nas águas do rio desapareceram ou foram destruídos”, afirmou Disraeli. Há uma apreensão generalizada de pestilência nesta grande cidade”.
A Junta Metropolitana de Obras Públicas foi criada em 1855, com a missão de criar um sistema de esgotos que evitasse o despejo de resíduos no Tamisa, “na metrópole ou perto dela”.
No entanto, o problema essencial de despejar os esgotos no rio não foi resolvido: foi simplesmente deslocado para mais longe. Em 1878, o vapor de passageiros Princess Alice afundou precisamente no local onde os esgotos lançavam os seus resíduos no Tamisa. Muitos dos sobreviventes morreram depois de ingerirem a água poluída.
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‘A atividade continuou até 1998′
Barcos especiais passaram a transportar os rejeitos da depuração do estuário do Tamisa para o Mar do Norte, eliminando-as aí. Esta atividade continuou até 1998, ano em que a legislação da UE a proibiu devido à contaminação das praias.
Na década de 1960, o cheiro do Tamisa em tempo quente voltou a ser notório, e a Autoridade do Porto de Londres e o Conselho do Condado de Londres começaram a melhorar o tratamento das águas residuais e a poluição industrial.
Embora ainda falte muito a fazer, a qualidade da água melhorou significativamente, e diversos projetos incentivam com sucesso a vida aquática. Ocasionalmente, pessoas avistam salmões, e estudos identificam 125 espécies de peixes e 400 espécies de invertebrados no rio Tamisa.
Ainda hoje se sente o cheiro dos esgotos, que continuam a entrar no Tamisa quando o sistema atinge a sua capacidade nos pontos de transbordo ao longo do rio, como em Blackfriars.
Apesar da teimosa percepção de que o rio é sujo e sem vida, já não é esse o caso. O Tamisa é atualmente um dos cursos de água urbanos mais limpos do mundo.
Vamos repetir o que disse a Dr.ª Hannah Stockton: Apesar da teimosa percepção de que o rio é sujo e sem vida, já não é esse o caso.
Por acaso esta última frase lhe diz alguma coisa? Não se apresse, tem mais…
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Junho de 2023, a BBC informa que um ‘Projeto de Limpeza do Tâmisa é lançado’
Parece incrível lançar um novo projeto de limpeza em 2023, não? Na verdade, nem tanto. Como explicou Malu Ribeiro, a cidade está em constante transformação: pessoas vêm e vão, novas construções surgem, a frota de carros aumenta exponencialmente, e o plástico, inventado nos anos 50, continua sendo um problema não reciclável. A cada mudança, surgem novos desafios ambientais, que exigem soluções atualizadas, e assim por diante.
BBC: ‘Um projeto em larga escala para limpar o rio Tâmisa, em Londres, foi lançado pela Port of London Authority (PLA). O “Manifesto do Tâmisa Limpo” é um plano colaborativo para reduzir a quantidade de esgoto e outros poluentes, como produtos químicos e lixo plástico no rio. Três empresas de água que operam na área concordaram em acabar com os derramamentos de esgoto no Tâmisa até 2040, antecipando a meta nacional em 10 anos’.
‘O Port of London Authority diz que a poluição é um problema complexo que requer mais de uma solução‘.
Depoimentos de Rosely Tardelli e Marco Antônio Sabino que comandaram o “Encontro dos Rio”
Depois deste panorama geral sobre o movimento pelo Tietê, chegou o momento de dar voz a dois dos protagonistas que estiveram à frente do programa que desencadeou a catarse coletiva.
Para Rosely Tardelli, o que mais a marcou no período, ‘foi quando apareceu o jacaré no Tietê, lembra? É que a gente tinha que manter o assunto no ar por anos, e não era nada fácil depois de muito tempo inventar algo novo. Então, quando o jacaré apareceu (Rosely era âncora do Jornal Eldorado) eu tive a ideia de conversar com ele. E foi o que fiz. Todo dia eu trocava ideia com o jacaré, passei uma semana conversando com ele. Muita gente gostou, curtiu; deu outro tempero pra manter a pauta no dia a dia, e sempre com um olhar mais humano, cidadão, criativo’.
Marco Antônio Sabino passou pelo mesmo ‘problema’ mencionado por Rosely, como inventar pautas novas? Sabino se interessou em conhecer todo o rio, em fases, desde a nascente até quase à foz.
Eis seu depoimento: ‘A reportagem que deu origem à Campanha de Recuperação do Rio Tietê foi uma das mais importantes de minha carreira. E também do ponto de vista emocional. Pude conhecer uma fauna e uma flora riquíssimas durante a viagem, da nascente à foz. Mas o mais legal foi a parada na cidade de Sabino, com uma linda praia e um peixe à beira d’água, delicioso’.
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A palavra de Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica
Entrevistei Malu Ribeiro, formada em jornalismo e especializada em políticas públicas e gestão de recursos hídricos. Em 1993, Mário Mantovani a convidou para coordenar a Rede das Águas no Núcleo União Pró-Tietê. Pouco depois, Malu e sua equipe se tornaram uma referência nacional em qualidade da água.
Malu contou que, quando começou a trabalhar, ‘a mancha anaeróbica (sem oxigênio para que haja vida) do Tietê se estendia por quase toda a extensão do rio. Ela chegava até Pereira Barreto, quase 800 km a jusante, cujas águas eram impróprias para qualquer tipo de uso’ (a extensão total do rio é de 1.136 km).
Cinco anos depois do início da campanha acaba a poluição industrial
‘Cinco anos depois do inicio da campanha a poluição industrial cessou completamente. Aquelas imagens terríveis que a gente tinha de Pirapora de Bom Jesus, com a espuma cobrindo a ponte e a igreja, diminuiu drasticamente, a gente passa a ter a mancha em momentos específicos na cidade de Salto’.
‘A partir de 2010, a mancha de poluição tem um recuo mais significativo, fica contida no trecho metropolitano até o médio Tietê. Esta mancha se estendia por quase 243 km. Ela alcançou a melhor marca em 2014/15, com apenas 71 km no trecho abaixo de Mogi das Cruzes, Suzano, Itaquaquecetuba e até a cidade de Cabreúva. E vem diminuindo, na medida em que se coleta e se trata mais esgoto na região metropolitana’.
22 de setembro, o ‘Dia do Tietê’
‘Todo dia 22 de setembro divulgamos, via o programa Observando o Tietê, a qualidade da água e os avanços nos afluentes do rio. Isto é feito para mostrar às pessoas que as obras que são enterradas, portanto fora da vista, dão resultado! É o único caminho, a única coisa a se fazer’.
Projetos de saneamento da América do Sul a partir da Eco-92
‘De todos os projetos de saneamento que foram contratados a partir da Eco-92, por exemplo, os projetos Baía de Guanabara, Baía de Todos os Santos, o próprio Tietê, e o projeto do rio Guaíba, o único que não parou é o do Tietê. Tornou-se uma causa, não é mais abandonada’.
‘É inadmissível alguém dizer que não adiantou’
‘Eu acho inadmissível que alguém diga que não deu em nada. O rio Tietê, em vários municípios paulistas, voltou a ter balneabilidade, a ser utilizado para recreação, para abastecimento público, e até para a produção de pescado que a gente consome, como a tilápia’.
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‘É falta de visão dizer que não adiantou nada. Quem diz isso só olha pro trecho metropolitano. Mas, mesmo na capital, melhorou. Por exemplo, quando apareceu o jacaré Teimoso, o que era aquele rio? Não dava pra respirar em suas margens! Hoje, mesmo nesta parte (metropolitana) não tem mais gás sulfídrico que fazia arder a garganta, entre outras melhorias’.
‘Ainda não é o rio que a gente quer. Mas também não dá pra dizer que não deu em nada. Numa região metropolitana, com todos os contrastes sociais e mais de 2 milhões de pessoas morando em moradias subnormais, a gente já tem a maior parte do rio limpo’.
A parte da região metropolitana, e os municípios a montante
Comentei que talvez o maior problema na região metropolitana se deve do fato de que apenas a cidade de São Paulo fez a sua parte, enquanto outras cidades a montante, não fizeram quase nada.
‘Olha, a Sabesp percebeu isso. Tanto é que a partir da terceira etapa, ela passou a assumir os serviços de saneamento de algumas cidades do Grande ABC. Eram serviços autônomos que a Sabesp passou a operar justamente por isso. Então houve um bom avanço nas sub-bacias do Tietê. Foi assim em Diadema, Santo André, Mauá, São Bernardo… mas faltou Guarulhos que é a maior cidade da região (1 milhão e 300 mil habitantes em 2022). Guarulhos não tratava nem 6% de esgoto. Portanto, isso que a gente vê na cidade vem de Suzano, Mogi, Itaquaquecetuba e, principalmente, Guarulhos’. Finalmente em 2019, diz Malu, a Sabesp assumiu também os serviços de Guarulhos.
‘Na verdade, João, é aquele velho problema político. O projeto do Tietê, que deveria ser um projeto do Estado e envolver todas as cidades da bacia, tem este problema político partidário. Por exemplo, numa hora São Paulo é de esquerda, e Guarulhos, direita; noutro momento, invertem-se as situações. Estas divergências políticas imperam, em vez do bem comum’.
‘Este desafio, quando a gente compara com o Tâmisa que era nossa referência, não acontece por lá. Independente de partidos políticos todos (municípios/cidades) fazem suas partes’.
O Tietê e os eventos extremos
‘Poderíamos ter resultados mais visíveis para a população? Com certeza. Só que hoje a gente ainda tem os eventos extremos que são gravíssimos (para os rios), isso contribui para piorar. Veja, estamos numa seca brava, não chove há mais de 100 dias. Durante este período o rio perde a capacidade de diluir os esgotos tratados. É por isso que outro dia o Pinheiros amanheceu verde. Com isso, este ano os dados a serem divulgados em 22 de setembro não serão melhores que os do ano anterior, mas por conta do fator clima. A cada década surgem novos desafios, a cidade cresce, as ocupações irregulares idem, assim temos novos poluentes que vão surgindo’.
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Diferença monumental entre Tâmisa e Tietê
Vale destacar uma grande diferença entre os dois rios. O Tâmisa tem a vantagem de desaguar no mar, o que significa que sua foz é “lavada” duas vezes por dia, todos os dias, pelas marés que sobem e descem. Esse processo natural contribui para a recuperação e a manutenção da qualidade das águas do rio inglês. Já o Tietê, que nasce no planalto e segue rumo ao interior, não conta com esse benefício, isso ajuda a compreender o aspecto atual na região metropolitana, e quase só neste espaço.
Para Malu, é preciso fazer uso de soluções baseadas na natureza, por exemplo, conectar o Parque Várzeas do Tietê ao parque Ecológico do Tietê, criar áreas verdes às margens dos rios para evitar a carga difusa cada vez que chove, etc.
Sobre este aspecto, veja o que diz o relatório da ONU (pag. 55).
A Região Metropolitana de São Paulo é afetada pelo efeito ilha de calor que contribui para a formação de tempestades convectivas (tempestades que decorrem de bolhas de ar quente em ascensão na atmosfera) de alta intensidade, causando enchentes.
Subprodutos da campanha
Malu Ribeiro e a equipe da SOS Mata Atlântica, responsáveis pelo programa Observando o Tietê, se especializaram e conquistaram notável reputação. Com essa expertise, passaram a prestar serviços em várias regiões do País. Quando ocorreram os irresponsáveis acidentes da Vale, que devastaram os rios Doce e Paraopeba – além de ceifar centenas de vidas, varrer cidades do mapa e destruir os sonhos de milhares de pessoas – a equipe de Malu foi novamente chamada para avaliar e monitorar os rios. Esse reconhecimento é mais uma vitória da campanha da ‘radinho da Aclimação’, carinhosamente apelidada pelos ouvintes de ‘Rádio Cidadã’.
‘A campanha do Tietê é precursora da Política Nacional de Recursos Hídricos que o Brasil tem hoje’
Malu Ribeiro: ‘Vou te dizer uma coisa: a campanha do Tietê é precursora da Política Nacional de Recursos Hídricos que o Brasil tem hoje. Tenho total convicção porque, ao mesmo tempo em que trabalhávamos, nós passamos a frequentar a Assembleia Legislativa de São Paulo para discutir a necessidade de uma política de recursos hídricos baseada nas bacias hidrográficas’.
‘Ou seja, aprendemos que não adianta olhar só para o rio. A nossa experiência demonstrou que era preciso monitorar as bacias hidrográficas. Por isso São Paulo foi o Estado pioneiro a adotar esta política. Depois, isso repercutiu na lei nacional que veio em 1997. Mário Mantovani e toda a nossa equipe transformaram-se nesta rede de organizações que lutam até hoje pela causa da água no País’.
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‘A campanha do Tietê é a melhor campanha ambiental que o Brasil já teve’
‘A campanha do Tietê é a melhor campanha ambiental que o Brasil já teve, não conheço outra igual’.
‘Veja Paris, agora nas Olimpíadas (referindo-se à despoluição do Sena), é um desafio enorme no mundo você recuperar grandes rios. Para nós, o desafio é hercúleo! E só chegamos onde chegamos porque tivemos a campanha da rádio, tudo aconteceu por uma pressão da Rádio Eldorado, não fosse isso, tenho certeza, nada teria acontecido (‘Verdadeiro’ Nº 10)
O tempo e o custo para despoluir o rio Sena
De acordo com JO (Jeux Olympiques) Paris 2024, ‘Os esforços para limpar o rio começaram na década de 1980. Mas é a partir de 2015 com o ‘Plano Balnear’ que as comunidades envolvidas investiram 1,4 bilhão de euros (algo em torno de R$ 8,5 bilhões de reais) em projetos de saneamento.
‘O Sena foi um depósito de lixo’
A National Geographic revelou que ‘durante séculos, o Sena foi um depósito de lixo, no qual as pessoas lavavam as suas roupas, despejavam dejetos humanos e os açougueiros, partes de animais descartados…Um projeto de revitalização de vários anos deu nova vida aos cais…A cidade planeja abrir três balneários públicos ao longo do rio no verão de 2025, transformando um lixão em um lugar sublime…
A água começou a melhorar em 1991
A qualidade da água no Sena começou a melhorar em 1991, quando a União Europeia adotou legislação relativa a uma das principais fontes de poluição: as águas residuais urbanas…O Syndicat inter-départemental pour l’assainissement de l’agglomération parisienne (SIAAP) tomou medidas importantes para modernizar as redes de saneamento, incluindo grandes investimentos na infraestrutura da estação de tratamento de águas residuais de Seine Aval, responsável por três quartos das águas residuais da região…O plano previa a conexão de mais de 23 mil residências, incluindo barcaças, com o sistema de esgoto que anteriormente descarregava águas residuais não tratadas nos rios.
“Há muita gente em Paris que não sabe que o Sena está com boa saúde”
O grand finale fica por conta da icônica National Geographic que ouviu Sandrine Armirail, diretora da Maison de la Pêche et de la Nature, um centro de educação ambiental: “Há muita gente em Paris que não sabe que o Sena está com boa saúde neste momento. Não digo que o rio esteja limpo, mas que é saudável para a vida aquática.”
Com a saída de Mário Mantovani da SOS Mata Atlântica, atualmente Malu é Diretora de Politicas Públicas da ONG.
E você, qual é a sua opinião sobre tudo isso? Você participou da petição ou acompanhou a campanha de longe? Como enxerga os resultados alcançados até agora? Sua voz é essencial para manter essa discussão viva. Compartilhe seus pensamentos no espaço dedicado aos leitores logo abaixo, em ‘Comentários’. Vamos juntos continuar essa conversa!
O que aconteceria com o clima se parássemos todas as emissões?