Marinha do Chile destaca submarino para vigiar pesca ilegal
Marinha do Chile destaca submarino para vigiar pesca ilegal
A pesca ilegal segue rondando a América do Sul. Vários países já enfrentaram o problema. A Marinha da Argentina afundou um pesqueiro chinês, mas os navios continuaram voltando. O Equador luta para manter Galápagos livre da pesca ilegal. Chineses procuraram autoridades de Rio Grande – RS – para instalar um terminal pesqueiro. Fizeram proposta semelhante ao Uruguai, que também recusou. Agora, o Diálogo Américas revelou que, em dezembro de 2023, a Marinha do Chile enviou um submarino de ataque ao arquipélago Juan Fernández para vigiar navios estrangeiros na região.
Submarino da Marinha do Chile investiga pesca ilegal. Imagem, Marinha do Chile.
A pesca ilegal no mundo
A pesca ilegal é um problema grave e ainda sem solução. Chile, Peru, Equador e Colômbia se uniram para enfrentar as frotas estrangeiras que invadem suas águas. O tema já ganhou destaque global.
Em 2022, a Economist, informou que a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (IUU) representa entre 20% e 50% do total mundial. No Indo-Pacífico, os índices podem ser ainda maiores.
Apenas 20% das espécies comerciais são pescadas de forma sustentável. Essa crise gera perdas de mais de 20 bilhões de dólares por ano e ameaça o sustento de milhões de pequenos pescadores.
Em julho de 2023, o Woods Hole Oceanographic Institution classificou a pesca ilegal como uma epidemia mundial. Mesmo assim, apresentou números mais conservadores que os da Economist. A instituição estima que 20% da pesca global ocorre de forma ilegal. Esse volume gera perdas de 10 a 23 bilhões de dólares por ano para a comunidade internacional.
A questão das Ilhas Juan Fernandez
Em 2017, o Chile criou o Parque Marinho Nazca-Desventuradas, com 297,5 mil km². A área fica ao redor da Ilha de Páscoa, uma das maiores zonas marinhas protegidas do mundo. No mesmo ano, o país também protegeu o arquipélago Juan Fernández, a 670 km de Valparaíso. Conhecida como Mar de Juan Fernández, a região é um dos 11 locais prioritários para a conservação marinha global. Ali, cientistas identificaram cerca de 735 espécies — muitas delas endêmicas.
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Mesmo sendo uma área marinha protegida dentro da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do Chile, a pesca ilegal continua nas proximidades da costa. Para enfrentar o problema, o Diálogo Américas informou que, no fim de dezembro de 2023, a Marinha chilena enviou um submarino da classe Scorpène para patrulhar a ZEE próxima às ilhas Juan Fernández. O objetivo foi monitorar e conter as atividades da frota pesqueira chinesa na região. O arquipélago é território chileno e reserva da biosfera da UNESCO desde 1977. A área abriga uma biodiversidade valiosa e única.
Por falar em pesca ilegal, recentemente descobriram que a frota pesqueira é 75% maior do que falam as estatísticas oficiais.
“O destacamento do submarino Scorpène da Marinha do Chile tem como principal objetivo enviar uma mensagem geopolítica para dizer diretamente ao governo chinês: ‘vocês estão cruzando nossa ZEE; nós permitimos que passem, porque há liberdade de trânsito, e a lei do mar permite isso, mas não vamos permitir que realizem atividades ilegais em nosso mar. Vamos proteger nossos recursos”, disse à Diálogo, em 23 de janeiro, Milko Schvartzman, um investigador independente argentino de pesca ilegal e crimes ambientais, “Há uma mensagem pública para a sociedade: dizer à população que a Marinha do Chile está cumprindo seu dever de proteger seu território.”
Chineses e russos em Juan Fernandez
A pesca IUU praticada por embarcações pesqueiras estrangeiras, incluindo chinesas e russas, tem sido uma ameaça predominante e duradoura à segurança das Ilhas Juan Fernández por muitas décadas, principalmente devido ao isolamento das ilhas, informou Naval News.
“Com relação aos navios fiscalizados pela Marinha, pode-se ver uma linha quase perfeita, um desfile de centenas de quilômetros de aproximadamente 90 navios, um após o outro em caravana, e todos eles eram chineses”, confirmou Schvartzman. “Muitos deles eram barcos que pescavam ao sul das Ilhas Galápagos, ao largo da ZEE do Equador ou do Peru. Às vezes, eles chegam à borda da ZEE do Chile, para pescar a lula gigante de Humboldt; depois, uma grande parte cruza para o Atlântico Sul.”
O Diálogo Américas mostra que a proteção do mar chileno é algo importante para o governo: Em janeiro, o Chile se tornou o primeiro país do mundo a aprovar o Acordo sobre Biodiversidade Marinha além da Jurisdição Nacional (o Tratado dos Oceanos). O Acordo busca designar 30 por cento dos oceanos do mundo como áreas protegidas, destinar mais dinheiro para a conservação marinha e salvaguardar o acesso e o uso dos recursos marinhos.