Litoral norte (SP), novos deslizamentos à vista
Acabo de voltar de mais um giro pelo litoral norte (SP). Percorri atentamente a parte que vai da praia de Boracéia, Bertioga, até quase a divisa de Ubatuba com Paraty. Foi neste espaço que o evento extremo do carnaval de 2023 produziu nada menos que 693 cicatrizes na Serra do Mar, quando 65 desvalidos morreram soterrados pela lama por absoluta incúria do poder público. Tragédia mais que anunciada. Tanto a prefeitura de São Sebastião, como o governo do Estado, sabiam que havia milhares de pessoas morando em situação de risco, dependuradas nas encostas da Serra do Mar. A situação persiste desde o final dos anos 80. O que vi nesta viagem me convenceu que, se houver outra chuvarada como aquela, novos deslizamentos ocorrerão.
Mais tragédia no verão que se aproxima?
Acredito que sim. Faltam apenas dois meses para a estação das chuvas começar. E, com o aquecimento fora de controle, mais o forte evento El Niño, para falar a verdade, já tem chovido acima da média na região.
Em razão do El Niño, o inverno, estação seca, está sendo mais chuvoso no Sul e Sudeste este ano. Talvez por isso percebi que muitas das imensas cicatrizes da Serra do Mar mostram-se ainda encharcadas. E centenas delas permanecem como feridas abertas.
Em outras palavras, o Estado e as prefeituras dos municípios do litoral norte não conseguiram fechar, cimentar, ou escorar estes enormes veios. Não sou profeta, mas não tenho dúvidas de que, se a chuva forte se repetir, haverá novos deslizamentos.
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Para mim, tal situação apenas reflete o velho e conhecido bordão: No Brasil só negros e pobres vão pra cadeia. Traduzindo, os negros e pobres não sensibilizam nossos gestores.
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Ilhabela e o delinquente prefeito Antônio Colucci (PL)
Se os ricos tivessem morrido, cabeças teriam rolado, e providências efetivas teriam terminado a esta altura. Como são os pobres e negros que continuam sob ameaça, os trabalhos seguem a passos de cágado.
Novas habitações no bairro Baleia Verde só ficarão prontas em 2024
Aproveitei a viagem para conhecer as novas moradias que o governo do Estado prometeu entregar aos desabrigados em setembro. Depois, adiou para dezembro. Mas as obras estão longe de acabar.
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Presidente do STF intima Flávia Pascoal, prefeita de UbatubaMunicípio de Ubatuba acusado pelo MP-SP por omissãoVerticalização em Ilha Comprida sofre revés do MP-SPConversei com vários funcionários da CDHU que lá estavam. Prometi sigilo, e perguntei se os prédios seriam mesmo entregues em dezembro. Alguns deram uma risada sarcástica, e responderam: “na promessa do governo, sim. Na promessa…”
E nem precisava perguntar. Basta ver as imagens para perceber o quanto ainda os desabrigados terão que aguardar. Acredito que muitos não conseguirão ir para suas novas casas antes do fim do primeiro trimestre de 2024.
Tarcísio de Freitas e os prefeitos do litoral norte
O governador Tarcísio de Freitas até foi ágil nas horas seguintes à tragédia. Ele desceu para o litoral e comandou pessoalmente os trabalhos nos primeiros dias. Contudo, com o tempo, aquela energia foi se dissipando.
Antes mesmo das notícias da catástrofe saírem das manchetes, ele já deixava a desejar. Agora, aparentemente, não dá pelota às promessas que, no momento do clamor popular, fez aos infelizes que escaparam da morte mas perderam tudo.
Relatos dos atingidos
Dá pena ouvir os relatos dos atingidos. Por sinal, chovia razoavelmente durante esta viagem para produzir novos programas para o canal do Mar Sem Fim. Em breve você poderá conferir.
Mostraram-se desamparados e decepcionados com o aspecto (eu diria tenebroso) do Baleia Verde e os prédios em que vão morar. Muitos não querem ir, mas não têm outra opção. Irão a contragosto.
Visitei e conversei com vários favelados da Serra do Mar, aqueles que ainda moram em barracões indignos ao longo da BR 101, e nos ‘sertões’ das praias, hoje na mão das classes média alta, e alta.
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O desalento é total. O ressentimento, imenso, e mostra um início de uma reação que pode acender ainda mais o ‘fogo’ na região. Como sabem os prefeitos e o Estado, células do PCC e Comando Vermelho há tempos instalaram-se nestas áreas.
Litoral paulista, em breve um imenso Guarujá
A ausência de sensibilidade do poder público, e o interesse específico dos prefeitos em comandar a especulação imobiliária, podem facilitar a vida dos bandidos na catequese dos desvalidos para seus bandos.
Estes criminosos já estão financiando vereadores para a ‘bancada do crime’ das diversas Câmaras de Vereadores. Em breve poderão, com seu poder financeiro, eleger até mesmo alguns prefeitos.
Juntando tudo isso, mais o comodismo das apodrecidas elites paulistas, pode ser o fim do litoral do Estado. Um enorme Guarujá, com suas gangues matando-se mutuamente, e a policiais, pode tomar conta do que resta.
Eleições municipais em 2024
Não vejo outra solução para os amantes da zona costeira que não seja a união com aqueles que não suportam mais o constante desatino, para juntos nos aproximarmos dos vereadores, conhecê-los, demonstrar os prejuízos que os atuais algozes do litoral provocam, e praticarmos cidadania como propus no post Eleições municipais no litoral em 2024: é hora da reação. Não podemos mais deixar o caminho aberto para os corruptos.
Temos que escolher candidatos honestos, saber de seus planos caso vençam, e ajudar a elegê-los. O litoral paulista não aguenta mais 4 anos de banditismo.