John Kennedy e o naufrágio da PT-109 nas Ilhas Salomão
John Kennedy é um dos personagens mais conhecidos do mundo moderno. Mas, ao relembrarmos sua carreira, é inevitável que nossa memória busque o período em que presidiu os Estados Unidos durante a Guerra Fria, quando o mundo quase entrou em nova guerra desta vez atômica. Os famosos mísseis soviéticos em Cuba, em 1962, foram o pretexto. Com punho firme, Kennedy conseguiu não só evitar a hecatombe, como também que os mísseis fossem retirados da ilha.
Pouco depois, veio a tragédia quando foi assassinado em 22 de novembro de 1963, em Dallas. Nosso assunto hoje não é sobre o político que presidiu a mais rica nação do mundo num período assustador. Mas a história do navegador John Kennedy, e sua saga do naufrágio da lancha torpedeira que comandava nas Ilhas Salomão, Pacífico Sul, em 1943.
John Kennedy, o marinheiro
“Eu realmente não sei porque todos nós somos tão comprometidos com o mar… talvez porque todos viemos do mar. E é um fato biológico interessante que todos tenhamos em nossas veias a mesma porcentagem de sal que existe no oceano e, portanto, em nosso suor, em nossas lágrimas, há sal. Estamos ligados ao oceano. E quando voltamos ao mar, seja para navegar ou para vigiá-lo, estamos voltando de onde viemos ”.
Esta foi uma de suas declarações em discurso feito às vésperas da largada de uma das mais emblemáticas regatas do mundo, a America’s Cup, em Newport, em 1962.
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Ele começou a velejar muito jovem com sua família. Como comandante, JFK venceu várias regatas, incluindo a Nantucket Sound Class Championship Cup em 1936, e a MacMillan Cup e East Coast Collegiate Championships em 1938. Mesmo como presidente, reservou tempo para navegar nas águas de Hyannis, Palm Beach e no Potomac.
Para JFK, navegar era uma trégua, uma forma de escapar (pelo menos temporariamente) dos pesados fardos do cargo.
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O primeiro barco
Em seu 15º aniversário, seu pai Joseph Kennedy deu a ele um Wianno Senior de 25 pés, um clássico veleiro de madeira, um sloop (um só mastro) feito nas proximidades em Cape Cod.
JFK gostou de velejar no Victura, assim batizado por ele mesmo (significa “prestes a conquistar” em latim) por sua simplicidade, facilidade de manuseio e desempenho.
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Houthis ameaçam Mar Vermelho com 1 milhão de barris de petróleoNaufrágio do Bayesian: erro humano não é descartadoSuperiate Bayesian afunda no porto em PalermoFoi a bordo do Victura que ele ensinou Jackie e os filhos Caroline e John Jr. a velejar. Há muitas fotos da família Kennedy navegando no Victura, e nelas não há como confundir o enorme sorriso no rosto de JFK. É o sorriso de um homem que amou seu barco, e nele soube velejar.
Até os dias atuais, com toda a tecnologia que temos, quem quer ser marinheiro tem que aprender na vela, como faziam os antigos. Não por outro motivo as marinhas mais modernas do mundo, e mesmo as não tão poderosas assim, mantêm ao menos um navio à vela para que os aprendizes possam se aperfeiçoar.
Foi velejando que Kennedy ganhou a ‘mão’, mão de marinheiro experiente. E, como todos os outros, passou a ter uma relação especial com seus barcos e com o mar.
Que falta que faz não termos líderes mundiais como ele, ligados ao mar, neste período de aquecimento global e pandemia de lixo nos oceanos do planeta. Mas nosso assunto hoje envolve as peripécias de John Kennedy milhares de quilômetros longe de casa, navegando por ermas ilhas do Pacífico Sul.
John Kennedy e a Segunda Grande Guerra
Ao contrário de muitos que preferiam fugir da guerra, JFK quis dela participar. “Acredito que qualquer homem a quem seja perguntado neste século o que fez para tornar sua vida valiosa, pode responder com muito orgulho e satisfação: ‘Servi na Marinha dos Estados Unidos'”, escreveu o presidente John F. Kennedy em Agosto de 1963.
A vida do jovem John foi um privilégio pela oportunidade de sua graduação na Universidade de Harvard em 1940. Ele havia frequentado a London School of Economics e estava entrando na escola de pós-graduação na Universidade de Stanford quando fez uma pausa, um ano depois, numa data que ‘viverá na infâmia’.
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A nação do jovem Kennedy entrava em guerra.
O irmão mais velho, Joe, ingressou na Marinha e estava treinando para ser piloto. John também queria ação. O problema é que tinha limitações físicas nas costas. Era duvidoso que a Marinha o aceitasse.
Sei pai interveio, e conseguiu que fosse aceito. John foi designado alferes e começou servindo na inteligência.
No verão de 42 frequentou a escola de treinamento de oficiais que o preparou como oficial. Confirmava-se a vocação nascida das habilidades náuticas de um jovem rico em Cape Cod.
O alferes John F. ‘Jack’ Kennedy estava finalmente no leme de seu próprio barco. Ele treinou a bordo da torpedeira PT-101, em Melville, Rhode Island e, posteriormente, foi mandado para se aperfeiçoar nos trópicos, no Panamá.
A promoção a tenente
Promovido a Tenente Júnior (JG), Kennedy entrou em combate com uma designação para o time do Motor Torpedo Boat Squadron Two com base nas Ilhas Salomão, em 1943.
Finalmente ele obteve seu primeiro comando de combate. Foi a PT-109.
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O tipo de barco comandado por JFK, as PT Boat, ou lanchas PT
De acordo com Rostand Medeiros – Escritor e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), em matéria do site tokdehistoria.com.br/.
“Era uma lancha muito veloz que tinha 24 metros de comprimento, com peso de 56 toneladas, fortes cascos de madeira de duas camadas de 1 polegada (2,5 cm) de tábuas de mogno, impulsionada por três potentes motores Packard de 12 cilindros e 1.500 cavalos de potência (1.100 kW) por cada eixo de hélice. A PT-109 alcançava a velocidade máxima projetada de 41 nós (76 km / h), e era abastecida com gasolina da aviação de alta octanagem.”
Uma espécie de bomba náutica feita de madeira, gasolina, e bombas.
“Estes barcos poderiam acomodar uma tripulação de três oficiais e doze a quatorze marinheiros, sendo equipados com metralhadoras e canhões de 20 m.m. Mas seu armamento principal eram quatro tubos para lançamento de torpedos de 21 polegadas (53 cm), contendo cada um deles 175 kg de explosivos.”
“Este armamento, associado às altas velocidades, dava aos pequenos barcos condições de conseguirem alguma capacidade de enfrentamento contra grandes navios blindados. Pelo menos teoricamente.”
Em patrulha, ao redor de ilhas remotas
A tripulação da PT-109 se viu em patrulhas ao redor das ilhas remotas, servindo como vigias para os maiores e mais formidáveis destróieres e cruzadores japoneses que podem atacar navios de guerra ou fuzileiros navais dos EUA em encostas de praias na área de New Georgia-Rendova.
A única arma real que a lancha tinha ao enfrentar os veneráveis destruidores muito maiores e mais pesados era a velocidade, o lançamento rápido de torpedos e uma saída ainda mais rápida antes que os canhões do destruidor nipônico pudessem acertar seus alvos.
Mas, na prática, a teoria é outra…Num daqueles dias tenebrosos, a ilha de Tulagi foi bombardeada pelos japoneses em 1 de agosto, destruindo duas PTs. Em revide, os norte-americanos se fizeram ao mar com 15 PTs atrás dos atacantes.
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Tokyo Express e uma noite escura
Os americanos deveriam atacar os comboios japoneses, conhecidos por eles como ‘Tokyo Express’. Mas as coisas não deram certo. Eles não conseguiram atingir sequer um dos navios inimigos. Pior que isso. Enquanto a maioria das lanchas retornaram ao porto, a de Kennedy e mais duas foram designadas para patrulhar aquelas águas repletas de inimigos.
A noite estava escura, sem lua, mal conseguiam enxergar. O barco de Kennedy reduziu sua marcha, enquanto a tripulação procurava os navios inimigos. De repente, um vulto enorme surgiu da escuridão. Não deu tempo nem pra acelerar. A PT-109 foi cortada ao meio pelo imenso contratorpedeiro Amagiri, enquanto navegava entre as ilhas de Kolombangara e Ghizo.
Quando passou o susto, dois tripulantes haviam morrido. Os outros agarraram-se a pedaços do barco que ainda flutuavam. E assim, exaustos e aturdidos, passaram sua primeira noite de sobrevivência no mar.
Na manhã seguinte…
Com o amanhecer, Kennedy foi capaz de avaliar a extensão do caos da noite anterior. Cercado por navios japoneses na área e enfrentando as incertezas do mar ponderou, ‘lutar ou render-se’?
Finalmente, tomou a decisão de comando que iria mudar sua trajetória de vida, abandonou os destroços do que uma vez fora a PT-109, e liderou seus homens, nadando cinco quilômetros em direção ao contorno de uma minúscula ilha no horizonte.
Deu a um dos marinheiros feridos um colete salva-vidas e, em seguida, rebocou-o prendendo o cabo em seus dentes para que tivesse os braços livres para nadar.
Duas horas de esforços depois, todos chegaram à ilha. Exaustos, desmaiaram na praia. Ao acordar, Kennedy se deu conta da enrascada em que estavam. A minúscula ilha não tinha água, nem qualquer alimento.
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O que fazer?
Depois de passar dias no ilhote, Kennedy avaliou as possibilidades de seus marinheiros. Não havia alternativa que não fosse sair de lá. Teriam força suficiente para mergulharem e nadarem até uma ilha maior que viu ao largo?
A tripulação suspirou fundo, e partiu para a segunda jornada aquática com Kennedy cuidando de seu colega ferido. Depois de dias sem comida ou água e exausta, a tripulação da 109 liderada por Kennedy rastejou até uma praia de uma segunda ilha.
Ali encontraram a salvação na forma de coqueiros que lhes deram sombra, comida, com a carne dos cocos, e hidratação com o leite.
A terceira jornada da tripulação
A situação havia melhorado, mas continuava crítica. Eles partiram para uma terceira jornada, desta vez, para a pequena ilha de Nauru, a vários quilômetros de distância, vista vagamente no horizonte, onde estavam confiantes de que encontrariam nativos amigáveis.
Foi a decisão mais difícil, porém mostrou-se correta. Desta vez só foram ao mar Kennedy e seu colega, o alferes George Ross. Os habitantes de Nauru devem ter ficado chocados quando testemunharam os dois homens chegando à costa. Felizmente os nativos confiavam nos americanos depois de testemunhar o mau tratamento por parte dos japoneses.
E agora, o que fazer?
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Havia a possibilidade de embarcarem numa das canoas de Nauru e tentarem chegar em sua base. Mas o trajeto estava repleto de inimigos. Não seria fácil, poderiam acabar mortos ou prisioneiros.
Então, o destino bateu à porta de Kennedy mais uma vez. Em vez de navegaram eles mesmos, Kennedy pegou um coco e escreveu com uma faca: “”NAURO ISL … COMANDANTE … NATIVO SABE POS’IT … 11 VIVOS … PRECISO PEQUENO BARCO … KENNEDY”.
Um Robinson Crusoé em plena Segunda Grande Guerra. Daria certo? Deu. Os nativos levaram o coco em sua canoa e desapareceram no horizonte. Na manhã seguinte, voltaram com alimentos e suprimentos.
Kennedy descobriu junto com as provisões uma carta do comandante da guarda costeira do acampamento da Nova Zelândia. A carta instruía Kennedy a retornar com os nativos por meio dos quais as forças da Nova Zelândia os levariam às forças dos EUA.
Não muito depois de seu encontro, o sentimento de euforia de Kennedy deve ter sido imenso, enquanto observava a PT-157 roncar para cumprimentá-lo. Pouco depois, pegaram Kennedy e sua tripulação de 10 marinheiros.
Depois de seis longos dias, eles estavam voltando pra casa.
Depois do naufrágio, Kennedy retorna à guerra
Ele era O CARA. Após alguns meses de cura na retaguarda, mas ainda querendo permanecer na luta, o tenente JG Kennedy solicitou outro barco PT. Em outubro de 1943, assumiu o comando do PT-59.
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Modificando a lancha
Kennedy, possivelmente em dúvida quanto ao desempenho dos torpedos, decidiu descartar seus tubos e convertê-la puramente em uma canhoneira. O novo barco PT provou seu valor quando a tripulação do 59 disparou em direção à Ilha Choiseul.
Cinquenta fuzileiros navais dos EUA do 1º Regimento de Paraquedas de Fuzileiros Navais estavam agarrados a uma praia com uma força japonesa avassaladora, a ponto de dominá-los e empurrá-los para o mar.
Kennedy e sua tripulação rugiram com armas de fogo por tempo suficiente para suprimir o fogo inimigo enquanto os fuzileiros navais se dirigiam para o 59. E, de lá, para a liberdade e a segurança.
Kennedy é promovido
John F. Kennedy foi promovido a tenente e continuou como capitão do PT-59, mas em 1944 os ferimentos sofridos com a colisão com o contratorpedeiro japonês o enviaram para os Estados Unidos para receber tratamento e fisioterapia no hospital militar Castle Hot Springs, no Arizona.
O irmão mais velho, Joe, foi morto em ação pilotando um caça noturno British Mosquito em uma operação ultrassecreta. John recebeu alta honrosa em 1945. Mais tarde, ele seria submetido a uma cirurgia nas costas como um jovem senador dos Estados Unidos.
Por seus serviços na Segunda Guerra Mundial, John Kennedy recebeu a Medalha da Marinha e do Corpo de Fuzileiros Navais e o Coração Púrpura. Ele também guardou e preservou a casca de coco com sua inscrição.
Os historiadores e biógrafos são unânimes ao afirmarem que foram estes terríveis eventos da guerra que transformaram o caráter do amante do mar que depois se tornaria um dos mais admirados presidentes dos Estados Unidos.
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John Kennedy, o amor pela vela e o dia 23 de novembro de 1963
John Kennedy havia sido assassinado no dia anterior. Em 23 de novembro, funcionários do hotel estavam limpando a suíte, quando souberam que JFK havia levado um tiro na cabeça em Dallas. No lixo, encontraram um desenho simples, a lápis, de um veleiro que se parecia com Victura deslizando sobre o mar.
Imagem de abertura: tokdehistoria.com.br
Fontes: https://www.nps.gov/articles/kennedyww2.htm; https://tokdehistoria.com.br/2017/01/23/john-kennedy-na-segunda-guerra-mundial-a-luta-pela-sobrevivencia-e-o-encontro-de-dois-mundos/; https://12degreeswest.com/jfk-the-sailing-president/; https://www.gentlemansgazette.com/president-john-f-kennedy/.
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