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Ilhas Canárias, um berçário dos ameaçados tubarões-anjo

Ilhas Canárias, um berçário de tubarões-anjo ameaçados de extinção

Em 2020, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), mais de 300 espécies de tubarões e raias corriam o risco de extinção. Ao mesmo tempo, quatro espécies de tubarões-anjo (família Squatina ) estavam ameaçadas ou criticamente ameaçadas de extinção, segundo a nova lista. A atualização da IUCN observava sombriamente que a primeira espécie de tubarão ou raia já pode ter sido extinta. Neste sentido, a matéria da hakaimagazine.com que vamos comentar é mais que auspiciosa: para surpresa geral as Ilhas Canárias tornaram-se berçários de tubarões-anjo. Nossa pegada é de tal forma violenta, que estamos conseguindo acabar com um animal com 400 milhões de anos, sobrevivente de várias extinções em massa.

Tubarão-anjo
Foto de abertura do site www.angelsharknetwork.com.

A localização do berçário

As Canárias ficam a  cerca de 100 quilômetros da costa noroeste da África. Sua criação aconteceu há milhões de anos por intensa atividade vulcânica. Assim, a maior e mais populosa ilha, Tenerife, ergue-se do fundo do oceano até uma série de picos, um dos quais é o terceiro maior vulcão do mundo.

Praia artificial em forma de meia-lua

Segundo a hakaimagazine.com, ‘Em contraste com a maior parte da geologia austera da ilha, ao norte da capital, Santa Cruz, há uma longa praia artificial em forma de meia-lua de areia macia e amarela, bem como palmeiras e uma baía calma criada por um longo quebra-mar. Esta é a Playa de las Teresitas, um ímã para os turistas do norte da Europa que desejam o sol do inverno.’

Praia artificial? Sim, as Canárias sempre foram local de férias de verão dos europeus. Contudo, faltava um detalhe: praias, para induzir ainda mais o turismo.

O hakaimagazine.com explica: ‘ Planejadores, em Tenerife, elaboraram um plano audacioso para transformar uma das praias de rochas vulcânicas expostas da ilha. Eles escolheram um trecho do litoral perto de Santa Cruz, simultaneamente expropriaram as fazendas de abacate e outras pequenas propriedades. Em seguida, os escavadores nivelaram a zona costeira e intertidal e construíram um quebra-mar com mais de um quilômetro de comprimento. E então, do Saara Ocidental na costa noroeste da África, embarcaram a pièce de résistance: 240.000 toneladas de areia.’

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Diversidade dos tubarões-anjo no mundo. Imagem, www.angelsharknetwork.com.

‘Em 1973, esse projeto gigantesco, e ambientalmente questionável do ponto de vista atual, estava concluído. Como previsto, os turistas chegaram. Entretanto, inesperado foi o que a presença deles deu a uma das espécies de peixes mais ameaçadas do mundo: a visibilidade. Talvez os tubarões-anjo sempre se reunissem aqui, mas, até recentemente, ninguém realmente sabia.’

Saiba mais sobre os tubarões-anjo

Quem explica é o Angel Shark Project : ‘Os tubarões-anjo ( Squatina squatina ) são grandes tubarões de corpo achatado que podem atingir 2,4m de comprimento. Pertencem à família dos tubarões-anjo ( Squatinidae ), que se classifica como a segunda família de elasmobrânquios (tubarões e raias) mais ameaçada do mundo. Tubarões-anjo ficam  normalmente submersos em habitats arenosos em águas costeiras.’

A camuflagem perfeita do tubarão-anjo japonês. Imagem, www.angelsharknetwork.com.

Hakaimagazine.com: ‘Os tubarões-anjo fêmeas migram regularmente para essas águas protegidas para dar à luz entre oito e 25 filhotes, que permanecem nas águas rasas por cerca de um ano. Alimentando-se de chocos, bem como outras pequenas presas, crescem até cerca de 50 centímetros, quase o mesmo comprimento de um bebê recém-nascido. Então, desaparecem por anos até que estejam maduros. Para onde vão, contudo, é um mistério.’

Durante séculos, diz o hakaimagazine.comtubarões-anjo foram comuns ao longo da costa atlântica do norte da África e da Europa, bem como no Mediterrâneo. Os antigos gregos os pescavam; Plínio, o Velho, descreveu o uso de sua pele para polir madeira e marfim. Nas Ilhas Britânicas, eram chamados de tamboril. Com o advento da pesca industrial de arrasto de fundo no final de 1800, começou a matança, logo se tornaram  peixes comuns para alimentação.

Entretanto, na década de 1960, a pesca agressiva da espécie, juntamente com sua taxa reprodutiva extremamente baixa, levou a um declínio dramático em suas populações. Alvejá-los acabou tornando-se comercialmente inviável.

Mas os tubarões-anjos ainda eram capturados acessoriamente em outras pescarias e, no início dos anos 1970, quando os desenvolvedores levaram a areia do Saara para Tenerife, os peixes foram levados à beira da extinção na maior parte do Atlântico Norte e do Mediterrâneo.

Por que a espécie salvou-se nas Canárias?

Por pura sorte.hakaimagazine.com‘Michael Sealey, biólogo marinho do Angel Shark Project (ASP) em Tenerife, diz que a pesca de arrasto nunca foi tão viável nas Canárias como na maior parte da Europa e do Mediterrâneo. O fundo do mar é muito profundo, explica, a topografia subaquática misturada com montes submarinos irregulares e recifes onde os equipamentos de pesca podem ficar presos. Além disso, a Comissão Europeia suspendeu toda a pesca de arrasto nas Canárias desde 2005.’

Mas os biólogos, diz a hakaimagazine.com, só perceberam há cerca de uma década que as Canárias abrigam uma população de tubarões-anjo. Posteriormente, em 2014, a Universidad de Las Palmas de Gran Canaria, o Museu Koenig Bonn e a Zoological Society of London colaboraram para estabelecer a ASP. O objetivo do projeto: coletar dados sobre habitats críticos, padrões de movimento e biologia reprodutiva dos tubarões-anjo e trabalhar com as comunidades e autoridades locais para proteger os peixes.

Ciência cidadã ajuda o projeto

A grande dificuldade dos pesquisadores é encontrar o peixe furtivo, muito bem camuflado, além de baixas densidades populacionais espalhadas por uma área enorme. ‘A ajuda veio na forma de ciência cidadã: em todas as Ilhas Canárias, mergulhadores recreativos e pescadores são convidados a fazer relatórios online sobre quaisquer avistamentos ou capturas acidentais de tubarões-anjo. Por meio de uma iniciativa da ASP, as operadoras de mergulho realizam competições ​​para ver qual empresa consegue registrar mais avistamentos, aumentando assim a coleta de dados, principalmente de cientistas cidadãos.’

Imagem, Mike Sealey.

‘Pesquisas mostraram que outras praias nas Ilhas Canárias também são potenciais locais de berçário. Curiosamente, a maioria deles foi alterada, como Teresitas, para torná-los mais atraentes para as pessoas. Em Lanzarote, Playa Chica tem outra longa faixa de areia importada. É um imã para mergulhadores – bem como um local espetacular e de fácil acesso – então o número de avistamentos de tubarões-anjo maduros nesta costa é um dos mais altos em todo o arquipélago.’

Mergulho recreativo gera renda e empregos

Infelizmente isto acontece em escala muita baixa no Brasil. Além disso, não há qualquer ação do Ministério do Turismo, ou o do Meio Ambiente, para fomentar a modalidade. Assim, perdemos mais uma vez, ao contrário dos espanhóis.

‘Entre as comunidades internacionais de mergulho, fala-se sobre a chance de se ver tubarões-anjo maduros nas Canárias, e esta é uma parte crescente do setor de turismo. De fato, o mergulho com tubarões em todo o mundo é um benefício para as economias. Gera mais de US$ 24 milhões por ano nas Canárias.’

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Globalmente, diz a matéria, o turismo de mergulho com tubarões gera mais de US$ 300 milhões por ano, e as comunidades locais se beneficiam muito mais com o mergulho com tubarões do que com a pesca de tubarões. Em alguns casos, isso levou à criação de reservas marinhas, como em Fiji, que também ajudam outras espécies marinhas.

Pois é. No Brasil tentamos transformar Fernando de Noronha num santuário de tubarões exatamente por isso. Em vão. Contudo, neste País onde brinca-se de fazer conservação, restaurantes de Noronha servem até mesmo hambúrguer de tubarão. Por estas e outras, publicamos o post Fernando de Noronha é um monumento à burrice tupiniquim.

Assista e saiba mais

Angel Sharks on Gran Canaria, Canary Islands from Save Our Seas Foundation on Vimeo.

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