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Golfinhos gritam para compensar poluição sonora

Golfinhos ‘gritam’ para compensar poluição sonora

Já comentamos por aqui os danos que nos acostumamos a impor ao ambiente marinho. E não são poucos, entre eles, a pandemia de plástico, a acidificação das águas oceânicas, a poluição por esgotos não tratados, a pesca excessiva, etc. A lista é imensa e não para de crescer. Hoje, ao menos parte do público já reconhece estes problemas, o que é um avanço. Contudo, outros como a poluição sonora no ambiente marinho às vezes são considerados ‘coisas de ecochatos’. Agora, uma pesquisa confirma que golfinhos gritam para compensar a poluição que provocamos.

golfinhos
Imagem, pit.nit.pt.

‘Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá’

‘As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá’, diria Gonçalves Dias em seu poema Canção do Exílio. O que ele não ficou sabendo é que hoje os sabiás de São Paulo começam a gorjear às 4h da manhã, conforme li outro dia.

Era um trabalho de um ornitólogo mostrando que os sabiás de São Paulo passaram a cantar mais cedo em comparação com os da ‘roça’, em razão justamente da poluição sonora das grandes cidades.

O mesmo princípio se aplica a muitas espécies marinhas. Agora, um estudo publicado na Current Biology, prova mais este dano da espécie Homo sapiens.

Golfinhos gritam para compensar poluição sonora

A pesquisa, publicada em  janeiro de 2023, concluiu que os animais estão  “gritando” uns com os outros para conseguirem se comunicar ou completar atividades diárias. O motivo? A poluição sonora causada pela atividade humana.

De acordo com o site pit.nit.pt, que repercutiu a pesquisa, ‘O estudo acompanhou um casal de golfinhos, Delta e Reese, e observou o seu comportamento face a diferentes ruídos no ambiente onde estavam. “Num bar muito barulhento, aumentamos o volume da nossa voz. Os golfinhos respondem de maneira semelhante, tentando compensar, mas há algumas falhas de comunicação”, disse Pernille Sørensen, a principal autora da pesquisa da Universidade de Bristol, Inglaterra.’

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Um golfinho com aparelho de gravação, que foi usado para gravar som e movimento no estudo. Imagem, Dolphin Research Center.

O exercício feito por Delta e Reese com a ajuda de um treinador era simples: tinham de nadar em direções diferentes e chamar um ao outro debaixo de água, tendo a certeza de que estavam em boas posições para empurrarem ambos os narizes contra dois botões localizados em lados opostos das docas. A dupla já estava acostumada com a atividade. Entretanto, dessa vez, teve de repeti-la com ruídos em diferentes volumes debaixo da água.

Nas diversas tentativas, explica o site, os investigadores observaram que os animais compensavam os níveis crescentes de ruídos alterando o volume e a duração das suas “vozes”. No entanto, nem sempre conseguiam. Segundo a pesquisa, do volume mais baixo ao mais alto, a taxa de sucesso do exercício caiu de 85 por cento para 62,5 por cento.

Além de aumentarem a frequência da “voz”, foi observada uma mudança na linguagem corporal dos animais. Durante a realização do exercício com ruídos mais altos, Delta e Reese procuraram nadar mais próximos um do outro.

Propagação do som na água

Na água, o som viaja cerca de 4,5 vezes mais rápido do que no ar. Por causa disso, vários animais marinhos tiveram de aprender a confiar nos ruídos para conseguirem realizar atividades diárias como caça, navegação e evitar predadores.

Além disso, ouvem os sons em frequências diferentes. Enquanto os peixes ouvem em baixa frequência, os cetáceos (golfinhos e baleias) podem apanhar sons até 200kHz.

Já comentamos por aqui um dos motivos de encalhes de cetáceos em praias, cada vez mais frequentes. Um dos motivos é a poluição sonora. Com certeza, não será o único, mas creia, um deles é o barulho por nós promovido.

A pesquisa confirma: Nas últimas décadas, os ruídos nos oceanos multiplicaram-se. Entre os mais comuns estão os sons das embarcações, explorações sísmicas, perfurações de petróleo e parques eólicos. Como resultado, têm sido associados a encalhes, doenças e mudanças comportamentais nos animais aquáticos.

Ao mesmo tempo, outra matéria do site megacurioso confirma o que está acima descrito. A matéria mostra como a Guerra da Ucrânia está matando golfinhos. ‘Após a invasão pelos russos, os golfinhos começaram a aparecer mortos nas praias em números estranhamente altos.’

‘Segundo Ivan Rusev, chefe de pesquisa do Parque Natural de Tuzly, 2.500 golfinhos foram carregados até a costa em maio de 2022 ao longo de vários parques nacionais da Ucrânia. Esse número, porém, ainda é aproximado, visto que, como a maioria dos animais afunda no mar, é impossível detectar a extensão do dano.’

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‘Os pesquisadores estão convictos de que essa morte em massa é resultado do trauma acústico causado pelo aumento do uso de sonar pelas tropas russas na região…A pressão do sonar destrói totalmente o sistema acústico do golfinho que, incapaz de navegar e se alimentar sozinho, acaba afundando e morrendo.’

Impactos na reprodução dos animais

Mas tem mais. O New York Times que também repercutiu a pesquisa, entrevistou Mauricio Cantor, ecologista comportamental da Oregon State University. Para ele, ‘os impactos da poluição sonora podem vir a afetar a ingestão de alimentos e a capacidade de reprodução dos animais.’

Para saber mais assista ao vídeo

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