Fontes hidrotermais marinhas e o teste da Covid-19
Primeiro a definição, e a melhor que encontramos veio da National Geographic: “As fontes hidrotermais marinhas são nascentes quentes que se localizam a grandes profundidades no leito dos oceanos. Elas formam estruturas únicas, assemelhando-se a chaminés. Estas fontes acolhem estranhas formas de vida.”
Para Enric Sala, ecologista e explorador residente da National Geographic, “Estes são exemplos raros de ecossistemas que se alimentam da energia libertada pelo centro da Terra e não dependem da luz solar”.
A localização das Fontes hidrotermais marinhas
Já sabemos que elas são um dos muitos ecossistemas marinhos. Mas, onde estão? Mais uma vez, recorremos ao NT: “As fontes hidrotermais situam-se em zonas de convergência de placas tectônicas. Elas formam cordilheiras montanhosas ou dorsais. Têm uma extensão de 64 373 quilômetros. E ziguezagueiam ora a subir, ora a descer pela região central do sistema global de bacias oceânicas, como um zíper gigante.”
“A Cadeia Dorsal Mesoatlântica, que integra esta espécie de fecho, estende-se por 16 000 quilômetros ao longo de um caminho sinuoso a partir do Oceano Ártico, que atravessa o arquipélago dos Açores e desce ao extremo sul do continente africano. A água do mar infiltra-se nas fraturas e fissuras que surgem nas zonas de convergência das placas tectônicas. Quando a água do mar contacta com o magma derretido da Terra, sobreaquece e sobe através dos orifícios ou fontes existentes no leito oceânico, transportando minerais libertados pela crosta terrestre situada na profundidade.”
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Aconteceu nos anos 70 do século passado. Mais precisamente, 1977. Stace Beaulieu, bióloga do Instituto Oceanográfico de Woods Hole, diz que “Poucas pessoas acreditavam que pudesse existir vida na escuridão total e sob toneladas de pressão no oceano profundo. Até à descoberta das primeiras fontes hidrotermais em 1977.”
Portanto, sabemos que este ecossistema das profundezas causou espanto ao ser descoberto. Antes, pensava-se que o assoalho marinho era um deserto de vida inanimada já que não recebe luz suficiente, além da extraordinária pressão. Mas, como diz a NT, “sabe-se hoje que as fontes hidrotermais são uma espécie de oásis para formas de vida completamente inesperadas, capazes de prosperar numa sopa química tóxica, onde as temperaturas podem atingir os 350o Celsius.”
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Mas como sobrevivem nesta ‘sopa química tóxica’? “As bactérias e as archaea (seres unicelulares morfologicamente semelhantes às bactérias) alimentam-se dos minerais que emergem borbulhantes destes orifícios na Terra. E que, por sua vez, vão servir de alimento a vermes, caranguejos e até mesmo peixes, que se adaptaram e não conseguem sobreviver noutro lugar.”
Bactérias, das profundezas do oceano, usadas para realizar testes para detectar presença de COVID-19
Agora, que já sabemos o que são as fontes hidrotermais marinhas, passamos para outra fonte de informação. Desta vez, o site da UNESCO, braço da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
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E explicou a pesquisadora: “O teste que está sendo usado para diagnosticar o novo coronavírus – e outras pandemias como AIDS e SARS – foi desenvolvido com a ajuda de uma enzima isolada de um micróbio encontrado em fontes hidrotermais marinhas e em fontes termais de água doce.”
Oceano é aliado no combate ao vírus
O mar sem fim já abordou esta questão inúmeras vezes. Mostramos mais este serviço do maior e mais importante ecossistema da Terra, sem o qual não haveria vida. Curiosamente, é o mais desconhecido, o menos prestigiado, e o mais depredado. Ainda assim, os fármacos marinhos são uma realidade.
Também mostramos nestas páginas que a pandemia que nos ataca é uma doença zoonótica. E esclarecemos: Segundo o dicionário, o adjetivo zoonótico significa ‘doença que pode ser transmitida ao ser humano por animais’. E sobre a Covid-19 os cientistas têm apenas uma certeza: de que o SARS-CoV-2, o novo vírus, se originou de animais.
Lembramos, ainda, que O Programa de Meio Ambiente da ONU, em seu site, alerta: “As doenças transmitidas de animais para humanos estão em ascensão, à medida que o mundo continua a ver uma destruição sem precedentes de habitats selvagens pela atividade humana. E todas as vezes que abordamos o assunto da pandemia, reforçamos que não custa aprender com as hecatombes que nos atacam. Se a pandemia servir para alguma coisa, além de produzir mortes aos milhares e derrubar a economia mundial, que seja também para aprender com os erros do passado já que isso faz parte do crescimento humano.
O meio ambiente protege e ajuda a humanidade
Francesca Santoro, oceanógrafa e pesquisadora da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO (COI-UNESCO) explicou que “As bactérias, encontradas nas profundezas do oceano, são usadas para realizar testes rápidos para detectar a presença de COVID-19. É apenas um dos muitos usos prodigiosos desses organismos, que foram descobertos por alguns microbiologistas americanos do Adriático em 1986.”
De acordo com o site da UNESCO, “Microbiologistas do Instituto Oceanográfico Woods Hole descobriram as bactérias que sublinham esse papel fundamental para o COVID-19. As bactérias foram identificadas anos atrás. Também são úteis para diagnosticar AIDS e SARS. A pesquisa, publicada no Journal of Applied & Environmental Microbiology, continua sendo de interesse hoje, já que o oceano é um aliado contra o vírus. O oceano está intimamente ligado à saúde humana.”
Ambiente marinho e os recursos para a vida dos seres humanos
Francesca Santoro destacou: “O ambiente marinho é muito rico do ponto de vista da biodiversidade e os recursos úteis para a vida cotidiana dos seres humanos ainda precisam ser descobertos. O oceano profundo já nos deu compostos para tratar câncer, inflamação e danos nos nervos. Os avanços também vieram das profundezas do oceano na forma de ferramentas de diagnóstico.”
O caminho para o desenvolvimento desse teste a partir de 1969
Agora passamos para uma terceira fonte de informações. O site do Woods Hole Oceanographic Institution tem a palavra: “O caminho para o desenvolvimento desse teste começou em 1969, quando os cientistas descobriram uma bactéria, Thermus aquaticus, vivendo nas temperaturas extremas de uma fonte termal no Parque Nacional de Yellowstone. Duas décadas depois, o biólogo da WHOI Carl Wirsen e seus colegas descobriram novas cepas de bactérias em uma abertura hidrotérmica na Itália que podiam suportar extremos ainda maiores.”
Meados da década de 1980
“Em meados da década de 1980, os micróbios haviam possibilitado um grande avanço no campo emergente da genética. Os cientistas descobriram que suas enzimas permaneceram estáveis, mesmo nas temperaturas necessárias para realizar um procedimento revolucionário conhecido como reação em cadeia da polimerase (PCR). Com as enzimas recuperadas dos micróbios, tornou-se possível fazer milhões de cópias de uma única sequência de DNA. Uma técnica usando essas enzimas, denominadas DNA polimerases, bem como enzimas isoladas de vírus, agora possibilita o teste rápido de vírus, incluindo coronavírus como SARS (gripe aviária) e COVID-19.”
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É por estas e outras razões que o Mar Sem Fim decidiu-se por difundir informação científica, e a exploração sustentável dos recursos marinhos, de forma lúdica e acessível. Pense sobre isso, e faça sua parte. Talvez estejam nas criaturas marinhas que ainda sequer conhecemos, a cura, e não só o teste para a Covid-19.
Enquanto isso, torça para que a mineração submarina prestes a ser regularizada, atrase tanto quanto possível. Ela pode ser a pá de cal que faltava.
Assista ao vídeo e saiba mais sobre as fontes hidrotermais marinhas
Imagem de abertura: Instituto Oceanográfico de Woods Hole
Fontes: https://www.natgeo.pt/viagem/2018/07/descobertas-fontes-hidrotermais-em-aguas-oceanicas-surpreendentemente-pouco; https://en.unesco.org/news/covid-19-ocean-ally-against-virus; https://www.whoi.edu/news-insights/content/finding-answers-in-the-ocean/.
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