Finalmente Fernando de Noronha terá energia limpa
Fernando de Noronha é uma das ilhas mais belas do mundo, conhecida como a Esmeralda do Atlântico por suas águas cristalinas de cor verde-esmeralda. O arquipélago pertence ao Estado de Pernambuco, fica a 542 km de Recife e a 377 km de Natal. É um santuário ecológico de importância mundial, notável pela biodiversidade, tanto na fauna marinha quanto na avifauna. Por essas qualidades, tornou-se Parque Nacional Marinho em 1988, administrado pelo ICMBio. Em 2001, a UNESCO reconheceu o arquipélago de Noronha e o Atol das Rocas como Patrimônio Natural Mundial.

A ilha principal é um distrito de Pernambuco, com cerca de cinco mil habitantes, embora ninguém saiba ao certo, que recebeu 131 mil turistas em 2024.
Finalmente, energia limpa em 2027
Demorou para conquistar algo tão simples num parque nacional banhado de sol e vento o ano todo. Mas a hora chegou. Segundo o site da Neoenergia, parte do grupo espanhol Iberdrola, Fernando de Noronha vai ganhar cinco usinas solares fotovoltaicas. As instalações terão capacidade entre 50 kWp e 22 MW. A estimativa é reduzir em 200 mil litros por ano o consumo de óleo diesel e garantir energia limpa para abastecer apenas carros elétricos.
No fim de 2024, o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou uma portaria que autoriza a Neoenergia Pernambuco a ampliar a geração de energia renovável em Fernando de Noronha com o uso de painéis fotovoltaicos e baterias de armazenamento. O projeto Noronha Verde busca alcançar até 85% de descarbonização no arquipélago, que ainda depende majoritariamente do diesel. Quando atingir essa meta, Noronha se tornará a primeira ilha habitada da América Latina a chegar a esse nível de sustentabilidade.
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Um avanço, mas faltam outros
Não é simples administrar um pedaço do Estado à distância, como ocorre com a Vila dos Remédios e o governo de Pernambuco — a “parte civil” situada dentro de um Parque Nacional Marinho, uma Unidade de Proteção Integral gerida pelo ICMBio, autarquia federal. Essa dificuldade talvez explique o tempo que levou para a energia limpa finalmente chegar a um parque nacional.
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Mas é preciso saber que este é apenas o primeiro passo para que o Parque Nacional possa de fato cumprir sua missão que é a de conservação. A ilha principal coleciona absurdos, como já mostramos.
Aplaudimos e vibramos pela energia limpa que está a caminho, mas não se pode deixar de falar na falta de saneamento básico e os tropeços da coleta de lixo.
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A ilha que Darwin conheceu durante a viagem a bordo do Beagle, entre 1832 e 1836, era bem diferente da atual. Em suas memórias, o cientista escreveu: “Passei um dia delicioso, caminhando pelas florestas.” FitzRoy, o comandante do Beagle, completou: “A lenha catada na ilha pela tripulação estava cheia de centopeias e outros insetos nocivos.”
Hoje, a ilha está praticamente sem árvores. Ficou assim depois de tantas fases como presídio. Em 1833 virou colônia penal para presos comuns. No Estado Novo, em 1938, passou a abrigar presos políticos. Em 1964, voltou a essa função ao receber Miguel Arraes e manteve-se assim até 1967. Muitos diretores mandaram cortar as árvores para evitar que os detentos sonhassem com fugas em jangadas.
Desde a primeira vez que estive em Fernando de Noronha depois de tornar-se parque, o ICMBio promete um reflorestamento que jamais saiu de poucos canteiros. Aliás, o assunto é velho, ficamos sabendo por um relatório do governador em 1956, major Abelardo de Alvarenga Mafra, que já sugeria o ‘urgente’ reflorestamento.
Ainda seria de responsabilidade do ICMBio erradicar as espécies invasivas, ou ao menos tentar tal ação, mas isso também nunca aconteceu. Em 1956 o então governador recomendava uma desratização que nunca foi adiante. Há alguns milhões de ratos por lá.
Contudo, o site do ICMBio sobre Fernando de Noronha informa que há ‘monitoramento da flora nativa e exótica’. Da mesma forma, haveria um ‘projeto de manejo sobre o controle de gatos, teiús, e desratização’. Apenas esta informação, nada mais. Enquanto isso, o lagarto teiú que foi introduzido para dar cabo dos ratos proliferou mais que praga.
O analista ambiental Carlos Roberto Abrahão, em estudo de doutorado realizado na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (2019), estima a população entre 7 e 12 mil lagartos adultos na ilha principal! Agora, pasme, para o ICMBio o teiú é ‘espécie nativa e protegida’.
Superpopulação de falta de infraestrutura
Nas primeiras vezes em que estive em Fernando de Noronha nos anos 80, a população girava em torno de 2.500 pessoas. Hoje ninguém sabe ao certo. O último Censo (2022) indicava 3.167 habitantes, embora o Controle Migratório da ilha aponte 4.700 moradores.
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Contudo, estimativas extraoficiais citam ‘mais de 5.000 pessoas’. Já o g1 diz que ‘na alta estação, como em julho de 2016, a Compesa abasteceu 8.000 pessoas (incluindo visitantes). Enquanto ocorre este inchaço irresponsável por parte do Governo de Pernambuco, apenas 50% das moradias têm saneamento básico.
Em 2021 um mutirão de limpeza subaquática descobriu 400 kg de pneus retirados d’água, e mais de 700 kg de lixos variados. A esculhambação é tamanha que frequentemente aviões que levam turistas atolam no asfalto vagabundo que derrete com a insolação.
Enfim, temos uma boa notícia, a descarbonização, mas uma penca de outras más notícias que mostram que a conservação, ao menos a do bioma marinho, parece mais brincadeira de criança.