Fármacos, riqueza desconhecida da Amazônia Azul. Entrevista com a pesquisadora Letícia Lotufo
A pesquisadora Letícia Lotufo diz que ‘o uso das plantas medicinais caminha junto com a humanidade, mas a descoberta da aspirina, no começo do século passado, pode ser considerada o marco zero desta procura’. Foi com esta descoberta que surgiu a primeira empresa farmacêutica do mundo, a Bayer. No ambiente marinho a procura começou na década de 60, quando se inicia o desenvolvimento do mergulho autônomo graças a Jacques Cousteau.
Fármacos, riqueza desconhecida da Amazônia Azul
Trata-se de uma ciência ainda nova, que ‘engatinha’. Mesmo assim do início nos anos 60 até hoje, 13 medicamentos já nas farmácias mundiais foram alcançados devido à contribuição do espaço marinho. Destes, oito são para o câncer.
Da descoberta de um promissor organismo marinho, até que se torne um remédio na prateleira de farmácias, vai um longo tempo e um enorme investimento. Em média, são 15 anos e cerca de um bilhão de dólares em investimentos.
Os perigos da bioprospecção
A pesquisadora Letícia Lotufo conta alguns casos em que houve excessos. Ela explica que um dos remédios para câncer de mama foi originado a partir de uma esponja do Caribe.”Quando perceberam o efeito desta esponja, cerca de 600 toneladas foram coletadas, uma destruição horrível.”
E quem autoriza estas pesquisas no Brasil? Entre outros, o ICMBio. “Para fazer coleta quem autoriza é o ICMBio. Mas antes, para a pesquisa básica, é preciso autorização da SisGen, Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado.
A burocracia tupiniquim e os fármacos
A burocracia é fator inibidor? “É crítica. E o Brasil é talvez o país mais restritivo do mundo em acesso aos recursos naturais.” Nada de novo no front…A burocracia brasileira prejudica o crescimento da própria economia.
Basta saber que o prazo para se criar uma empresa no País de Macunaíma é de 107 dias de acordo com o Banco Mundial. Que economia resiste? Em relação à facilidade em abrir uma empresa, o Doing Business 2017 apontou que o País ocupa a 175ª posição em um ranking de 190 países.
Uma pincelada da conversa
Letícia comenta a falta de uma política de apoio à ciência; o AZT, contra a AIDS, e as esponjas marinhas; o apoio da Marinha do Brasil, que vê na bioprospecção um aliado da economia; a nossa biodiversidade, “estamos sentados em cima de um tesouro”; e ainda as substâncias do coral ‘baba-de-boi’ usadas por caiçaras no tratamento de queimaduras por águas-vivas.
E ainda o teste que detecta a covid-19, feito com uma bactéria marinha, e sobre a possível cura da doença.
Conheça Letícia Lotufo
Professora Titular e Chefe do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. Membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP). Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (1993) e doutorado em Ciências (Fisiologia Geral) pela Universidade de São Paulo (1998).
Realizou pós-doutorado na Universidade de São Paulo e no Scripps Institution of Oceanography da UCSD. Foi membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (2009-2014). Vice-presidente e diretora Executiva da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE, diretorias 2015-2017, 2012-2014). E membro do Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (2013-2017).
Foi professora do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da UFC de 2002 a 2014. E coordenadora do Programa de Pós-graduação em Farmacologia da UFC (conceito 6, CAPES) entre 2011-2013.
Imagem de abertura: https://blog.scienceopen.com/
Ouça o podcast Carlos Nobre e a terceira via, Amazônia 4.0, conheça