Evaristo de Miranda, guru ambiental de Bolsonaro, é acuado por grupo de cientistas
Ele é muito inteligente e bem preparado. Justo o oposto de quem ‘faz a cabeça’, um notório oportunista; tão pouco inteligente que mal consegue pronunciar uma frase sem pisar no vernáculo, e que passou 30 no Congresso Nacional sem fazer nada que o dignifique, ao contrário. Entre um esquema de rachadinha e outro, o ‘metido com milicianos do Rio de Janeiro’ elogiava notórios torturadores. Mas foi eleito presidente com 57 milhões de votos. E é isto o que mais me incomoda, a ‘dobradinha’ Evaristo de Miranda-Jair Bolsonaro. Conheci Miranda anos atrás por ser amigo de um irmão, marido de uma jornalista ambiental do Jornal da Tarde (já falecida) que colaborava com a Eldorado; na época eu respeitava Miranda, convivi com o casal em fins de semana no interior paulista, e até numa viagem à Amazônia. Depois perdi de vista. Até que surgiu das sombras, soprando no ouvido do inquilino do Esplanada. Neste mesmo período em que Miranda abanava as brasas até o fogo se alastrar, a Amazônia foi depauperada como há muito não se via, assim como o Pantanal, o Cerrado, e o bioma marinho, pelo menos. Post de opinião.
Guru ambiental de Bolsonaro é acuado
Depois que o outro guru do inquilino do Esplanada Olavo de Carvalho morreu de Covid-19, mas que, com a cara-de-pau dos mais cínicos, jurava não existir, restou o outro guru presidencial: Evaristo de Miranda.
De acordo com matéria da revista Piauí, assinada por Bernardo Esteves, ‘Doze cientistas brasileiros denunciaram o grupo de pesquisa do engenheiro agrônomo Evaristo de Miranda, da Embrapa, por fabricar falsas controvérsias com o intuito de afrouxar as leis e normas para proteção do meio ambiente no Brasil’.
Ainda bem que os cientistas tiveram coragem. Os ‘ambientalistas’, entre aspas para diferenciar uma parte da outra, estão com o rabo entre as pernas desde que o governo começou em 2019. Mas, por falta de coragem, preferem entrar na onda das redes sociais e culpar o agronegócio pela devastação. Mas eles sabem que o agronegócio cresce muito mais por mérito, aumentando a produtividade, investindo em tecnologia, mudando processos, etc.
Segundo a Piauí, ‘Num artigo publicado nesta terça-feira (25) na revista especializada Biological Conservation, os autores analisam o que eles descreveram como um “ataque às políticas ambientais estimulado por um esforço velado e sistemático de um pequeno grupo de negacionistas para desinformar os tomadores de decisão e a sociedade’.
‘Evaristo Eduardo de Miranda é o ideólogo da política ambiental de Jair Bolsonaro’ diz o texto de Bernardo Esteves. ‘Os dados gerados por ele e sua equipe na Embrapa Territorial são frequentemente citados pelo presidente e por seus ministros para defender que o Brasil é o campeão em conservação ambiental e que tem um excesso de áreas protegidas que prejudicam o crescimento do agronegócio nacional’.
Este site há muito mostrou quem é Evaristo de Miranda que cochicha no ouvido do presidente, e o induz a fazer ainda mais sandices na área ambiental, a ponto do Brasil ser hoje um país pária. ‘Mérito’ de Miranda.
Agora, quando é desmascarado por um veículo da grande imprensa, Evaristo faz como os ambientalistas, ‘põe o rabo entre as pernas’. Segundo Bernardo Esteves ‘Miranda não respondeu aos pedidos de entrevista feitos pela Piauí‘.
Ele não teria como responder.
As declarações fabricadas de Evaristo de Miranda
‘De acordo com o artigo da Biological Conservation, muitas das alegações de Miranda são fabricadas e não têm lastro na realidade. Ainda assim, elas são populares nas redes sociais e entre políticos, e com isso contribuem para o desmantelamento das políticas públicas de conservação ambiental’.
‘O grupo encabeçado por Raoni Rajão, professor de gestão ambiental na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), alega que as falsas controvérsias promovidas por Miranda levaram à diminuição drástica do número de multas ambientais e ao desmonte das políticas de controle do desmatamento e das queimadas na Amazônia pelo governo Bolsonaro’.
Adiando proibição de queima de palha de cana, e números artificialmente inflados para calcular proteção em torno dos rios
Segundo Bernardo Esteves, da Piauí, ‘Nas discussões sobre o novo Código Florestal, ele usou números artificialmente inflados para calcular a área de proteção em torno dos rios que não poderia ser usada para o agronegócio, conforme mostraram os pesquisadores. Seus números eram má ciência, mas tiveram peso no debate que levou à aprovação do código, em 2012, com a anistia de 58% de todo o desmatamento feito ilegalmente até 2008′.
Estimulando negacionismo
O Mar Sem Fim já explicou como a indústria do Tabaco, seguida pela do Petróleo, comprou cientistas para estimularem o negacionismo. Parece não ter sido diferente neste caso.
‘O estudo brasileiro repertoriou as estratégias usadas por Miranda e mapeou sua influência em Brasília. Os autores notaram similaridades entre o modus operandi do grupo da Embrapa e aquele usado por cientistas que estimulam o negacionismo climático e outras falsas controvérsias ambientais’.
‘Eles desconsideram, por exemplo, os consensos estabelecidos pelos especialistas e fazem uso indevido de suas credenciais científicas, valendo-se do prestígio da Embrapa para conferir autoridade a argumentos sem respaldo da ciência’.
Artigos ‘científicos’ de Evaristo de Miranda
‘O grupo de Rajão passou um pente-fino no currículo de Evaristo de Miranda e constatou que, dos 83 artigos de sua autoria que ele listava em fevereiro de 2021, apenas 17 – ou 20% do total – tinham sido publicados em periódicos com revisão por pares, processo que funciona como o controle de qualidade do conhecimento científico’.
‘Além disso, os autores constataram que nenhuma das alegações que embasam as falsas controvérsias alimentadas por Miranda foi submetida à avaliação de outros especialistas’.
‘Por isso mesmo, os cientistas brasileiros se empenharam em publicar seu artigo numa revista com revisão por pares. Rajão disse que o trabalho poderia ter sido divulgado muito antes na forma de relatório ou nota técnica. “Mas aí estaríamos sendo contraditórios com a nossa própria afirmação sobre a importância do processo cientifico”, afirmou o pesquisador’.
A íntegra do artigo sobre Evaristo de Miranda pode ser lida neste link.
Outra matéria da Piauí sobre Evaristo de Miranda
Esta não foi a única matéria da Piauí sobre Miranda. Em março de 2021, a revista publicou outro texto de Bernardo Esteves, com o título “O fabulador oculto”.
Esteves entrevistou o primeiro presidente do ICMBio, o veterinário e ambientalista Adalberto Eberhard, que este site saudou ao ser escolhido por Ricardo Salles, junto com outro titã do meio, José Truda Palazzo Jr. convidado a ser Secretário de Florestas. O post tinha como título Ministério do Meio Ambiente escolhe equipe dos sonhos! e foi publicado ao Salles anunciar sua primeira equipe, em dezembro de 2018.
Entrevista da Piauí com Adalberto Eberhard em março de 2021
Esteves diz que, ao ser convidado, ‘Eberhard conheceu o homem que estava conduzindo os trabalhos de transição e montando a equipe que se encarregaria da política ambiental de Bolsonaro: o agrônomo Evaristo de Miranda, pesquisador da Embrapa, a estatal de pesquisa agropecuária’.
‘No meio da tarde, depois de horas de reunião, chegou o advogado Ricardo Salles, escalado para comandar a pasta do Meio Ambiente. Eberhard foi apresentado ao futuro ministro nos seguintes termos: Esse aqui é o presidente do ICMBio.’
E Esteves conclui: ‘Salles aceitou a indicação na hora.’
Poucos meses depois, Eberhard pedia demissão. O Mar Sem Fim, à época, repercutiu o caso no post Estilo imperial do ministro Ricardo Salles derruba mais um, publicado em abril de 2019. Nele comentávamos a saída de Eberhard, e o fato de que Truda sequer assumiu o cargo para o qual havia sido convidado.
Má-fé do ex-ministro Ricardo Salles
Foi então que ficou clara a má-fé do ministro. Salles nos ligou, e convidou a mim para ser Secretário de Florestas explicando que ‘Truda não pode assumir devido a um problema legal’. Mentira. Truda não assumiu porque, provavelmente, Salles soube de sua seriedade e integridade.
Não é preciso dizer que não aceitei. Todos sabem que meu foco, e especialidade, é o bioma marinho. Como aceitar ser Secretário de Florestas? Salles, provavelmente, queria meu silêncio.
Voltamos agora ao texto da segunda matéria de Bernardo Esteves na revista Piauí.
“Um pouco mais tarde, quando estava em viagem pela Bahia, Eberhard foi informado por sua chefe de gabinete que o indicado (para cuidar da regularização fundiária) acabara de ser demitido. De volta a Brasília, ele reuniu-se com o ministro e quis saber o que tinha acontecido, já que a nomeação fora previamente aprovada. Salles apenas mostrou-lhe o celular com uma mensagem de Evaristo de Miranda pedindo a cabeça do funcionário. “O ministro o exonerou sem me ouvir ou sequer aguardar o meu retorno a Brasília”, afirmou.
E prossegue Esteves: “Estava claro que Miranda e Salles haviam cometido um erro de cálculo ao nomear Eberhard.”
Entrevista com Eberhard
“Em entrevista à Piauí, na qual contou pela primeira vez detalhes sobre sua nomeação e exoneração, Eberhard disse que teve liberdade para montar sua equipe, mas tinha receio de que seu nome preferido para cuidar da regularização fundiária nas unidades de conservação pudesse ser vetado.”
“É uma pessoa profundamente vinculada com a conservação da natureza, e era o melhor cara dentro da instituição para fazer o trabalho”, afirmou. Resolveu bancar a indicação junto ao já ministro. Mais uma vez, Salles aceitou a sugestão.”
“Dias depois”, diz Esteves, “alegando motivos pessoais, Eberhard se demitiu. “Chegou a um ponto em que ou eu passava a defender coisas que questionei durante toda a minha vida ou ia embora para casa. Resolvi ir embora”, afirmou.
Para Eberhard, “Havia uma tendência muito forte de subordinar a questão ambiental ao processo de ocupação do território, e não o contrário, que é o que seria de se esperar dentro do Ministério do Meio Ambiente.”
E concluiu o ambientalista: . “As posições dele (Miranda) comprometem profundamente uma perspectiva de sustentabilidade ambiental do Brasil.”
Opinião do Mar Sem Fim
Como dissemos no início ele é inteligente, estudado, e conhece o problema ambiental. Por isso o consideremos mal intencionado. Ou isso, ou é mais um que sofre de ‘desonestidade intelectual’.
Sobre o que Miranda afirmou a respeito de nossos biomas nesta gestão, sempre se amparando em dados que só ele tem, a mentira maior é insistir em negar o que os satélites do INPE, da NASA, ou do Serviço de Monitoramento Atmosférico da Copernicus, o programa de observação da Terra da União Europeia, registraram: brutal devastação na Amazônia, Cerrado, e Pantanal, a partir de 2019.
Sobre isso não há o que discutir. Não por outro motivo, o mais importante segmento da economia, o agronegócio, sofre ameaças de retaliações. Antes, parte do grupo foi implodido por Salles (ou Miranda?).
As ameaças de retaliações não se fazem em razão de suposta culpa do segmento pela devastação florestal, mas pelo fato de que muitos estrangeiros defensores de seu próprio agronegócio, agirem como certos ‘ambientalistas’, pusilânimes, os culpam por medo de perderem ainda mais mercado.
Ou a OCDE estaria errada em exigir o fim do desmatamento, entre outros, para aceitar o Brasil como sócio do clube?
O problema dos gurus é por demais conhecido, provado por declarações como o exemplo da Covid-19 que Olavo de Carvalho, morto por contrair a infecção segundo sua filha, teve a desfaçatez de declarar que ‘o Brasil não tinha nenhuma morte por Covid-19’.
Olavo, recebedor da honraria de um dia oficial de luto por decreto presidencial, ignorou a peste. Em março de 2020, negou mais uma vez sua existência. “O número de mortes dessa suposta epidemia [de covid] não aumentou em nem 1 único caso o número habitual de mortos por gripe no mundo.”
Ainda em 27 de janeiro, está na capa de todos os jornais, que ‘hospitais públicos e privados têm alta de internações de crianças com COVID. Somente no Albert Einstein, em SP, há dez pacientes com menos de 18 anos internados, oito deles na UTI’.
Não é só Olavo de Carvalho a demonstrar desvio de caráter, mentir, e semear a discórdia. Miranda, por insistir em negar as consequências de seus ‘conselhos’ apesar da fartura de provas, demonstra ser farinha do mesmo saco. Já o público, que assistiu atônito a imensa polêmica que dominou o cenário interno e externo, tem o direito de saber quem estava por trás.
Imagem de abertura: revista Piauí
Fonte: https://piaui.folha.uol.com.br/ideologo-de-bolsonaro-e-denunciado-por-cientistas/; https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-fabulador-oculto/.