Estabilização de praias com soluções baseadas na natureza
As praias de areia ocupam cerca de um terço das costas sem gelo do planeta. Elas concentram alguns dos destinos turísticos mais emblemáticos do mundo. Mas esse patrimônio natural corre risco. A degradação do habitat avança. Os riscos climáticos aumentam. Comunidades costeiras já sentem os impactos diretos dessas mudanças. Segundo relatório do Banco Mundial, Nature-Based Solutions for Beach Stabilization: Opportunities for the Tourism Sector, o turismo costeiro e marinho responde por quase 50% do turismo global. O setor gera cerca de US$ 4,6 trilhões por ano. Esse valor equivale a 5,2% do PIB mundial. Contudo, a expansão urbana desordenada acelera a degradação e a má gestão costeira completa o cenário. Diante desse quadro, cresce no mundo uma nova tendência: A estabilização de praias com soluções baseadas na natureza.
Proteger a linha de costa sem destruir os ecossistemas
Essa estratégia busca proteger a linha de costa sem destruir os ecossistemas. Embora a maioria das pessoas pense em praias apenas como espaço de lazer, elas são ecossistemas importantes para a cadeia de vida marinha.
Infelizmente, o Brasil vem adotando as piores medidas possíveis para lidar com a erosão no litoral, que já se alastra por 60% da zona costeira. O mau exemplo vem de Santa Catarina onde litoral sofre com violenta especulação imobiliária.
Prefeitos inconsequentes preferem gastar milhões em recursos públicos em inúteis engordas de praias, apesar de alertas da academia, em especial, da Universidade Federal de Santa Catarina.
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Mar ignora a engorda de praia e avança em Ponta Negra, RNComeça o turismo de base comunitária em Castelhanos, IlhabelaPrefeitura do Rio decepa mangues por árvore de NatalSegundo a UFSC, ‘as perspectivas mais evidentes e definidoras da implementação dos aterros, ou engordas de praias, parecem ser decisões individualizadas por municípios, de estímulo econômico e aquecimento do mercado imobiliário, não uma solução que trate da mitigação e adaptação às mudanças em curso’.
E disseram mais: ‘A presente nota técnica trata de novas evidências indicando que os empreendimentos de aterro de praia realizados não cumprem com os seus objetivos e não cumprem os próprios projetos licenciados. Trazemos evidências inéditas de que após o aterro as praias apresentam piora na balneabilidade e aumento do risco de afogamentos’.
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Estruturas rígidas nem sempre resolvem
Outra das ‘modas’ atuais, e mais uma vez, abusadas no litoral catarinense, são a instalação de estruturas rígidas como molhes, quebra-mares ou até ‘colchões de concreto’ sob a areia da praia. Este é o caso de Porto Belo, por exemplo, onde empresários divulgaram um projeto para a construção de dois molhes nos rios Perequê e Perequezinho e também para a engorda da praia.
Para piorar o cenário, a decadente imprensa de Pindorama noticia com estardalhaço, e quase sem questionamentos, cada nova engorda num festival de desinformação sem paralelo.
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Pau-brasil ganha normas internacionais mais fortesMP breca ação da Prefeitura de Florianópolis em áreas protegidasIlhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Assim, a “moda” segue escangalhando litorais de outros Estados. Este foi o caso do Rio Grande do Norte, onde a mesma empresa — DAT Engenharia — acaba de destruir o cartão-postal de Natal, a praia Ponta Negra, cobrando inacreditáveis R$ 108 milhões de reais. Isso aconteceu depois da empresa mutilar a praia Central em Balneário Camboriú, faturando quase R$ 70 milhões pelo ‘feito’.
E tudo isso poderia ser evitado, com custos moderados, restabelecendo aquilo que nossa ocupação retirou: dunas, restingas, e manguezais, ou acrescentando recifes artificiais, e/ou, recifes de ostras.
Destaques do relatório sobre as soluções baseadas na natureza
Segundo o relatório, pesquisas aprofundaram a compreensão de como ecossistemas como dunas, pântanos, manguezais ou recifes ajudam a estabilizar as praias.
As soluções baseadas na natureza se alinham com a demanda dos viajantes por destinos intocados e com regulamentações ambientais mais rígidas. O relatório destaca cinco estudos de casos baseados nas soluções naturais um deles no nosso vizinho Uruguai.
O caso do Uruguai
A iniciativa combinou cercas de materiais naturais, sistemas de drenagem sustentáveis e o reflorestamento das dunas com plantas nativas para restaurar a sua função protetora, ao mesmo tempo que foram introduzidas medidas de zoneamento para reduzir a pressão humana e aumentar o valor recreativo da praia. Em conjunto, estas ações estão a ajudar a proteger tanto a indústria turística local como o setor agrícola, que dependem da estabilidade da costa.
Restauração natural na costa da Mauritânia
Na Mauritânia, o Banco Mundial está apoiando o governo na implementação do Projeto de Investimento em Resiliência das Áreas Costeiras da África Ocidental para estabilizar as dunas costeiras de Nouakchott. O projeto combina técnicas de plantio vegetal e estabilização de areia para restaurar a função protetora natural das dunas, ao mesmo tempo em que reabilita pântanos e manguezais próximos, reabastece praias e constrói quebra-mares e diques. Essa abordagem híbrida visa reduzir os riscos de erosão e inundações em aproximadamente 12.600 hectares de terras costeiras, protegendo 41.600 famílias, ao mesmo tempo em que aumenta a biodiversidade e promove o ecoturismo.
O Mar Sem Fim destaca apenas estes dois casos para não sermos repetitivos. E aproveitamos a oportunidade para mostrar que muitos destes planos têm apoio financeiro externo, nestes casos, do Banco Mundial. Também já mostramos que o replantio de manguezais é outra atividade que cresce mundo afora pelos mesmos motivos, e sempre com apoio financeiro externo.
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Em outras palavras, o Brasil não encara estas soluções por falta absoluta de interesse. Aqui as autoridades preferem torrar milhões de reais de nossos impostos jogando areia sobre praias que apresentam erosão severa por conta de uma ocupação desordenada que retirou a proteção natural das praias, proteção esta que só voltará se restituirmos aquilo que retiramos.
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