Dunas: suas funções como ecossistema, proteção da costa, e reposição de areia nas praias
Durante a primeira expedição do Mar Sem Fim, entre 2005 – 2007, estivemos no Ceará. Conversamos com o diretor do Instituto de Ciências do Mar, Labomar, Luis Parente Maia. A conversa girou em torno das dunas, tão freqüentes, e importantes, na paisagem de toda a zona costeira nordestina, mas não só dela. Só no Ceará são 295 quilômetros quadrados de dunas móveis, e 135 de dunas fixas.
Qual a importância das dunas?
Bem, por serem extremamente porosas, absorvem muita água, por isto são a principal fonte de água doce do litoral do Ceará. Elas são ainda uma importante proteção contra a força das marés, temporais, ressacas, e outros fenômenos climáticos.
Devem estar livres da interferência humana porque interagem com o ambiente. Suas areias circulam, caem no leito dos rios e são novamente trazidas para as águas do mar, de onde retornam às praias, num movimento constante e dinâmico.
A formação das dunas
“Os sedimentos arenosos são transportados ao longo do tempo geológico e por isso as dunas têm idades variadas. Assim sendo, a princípio as correntes marítimas carregam grande quantidade de areia, depositando-as nas praias. Quando estes sedimentos estão secos, tem-se o início do trabalho de transporte realizado pelo vento, que os modela e os fazem acumular nas partes mais elevadas das praias.”
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Mas este mesmo ecossistema é um dos mais ameaçados pela especulação, e a indústria do turismo. No litoral do Ceará empresas colocam cercas em áreas de dunas gigantescas, e afiam suas garras para, vencida a batalha pela posse da área, construir dezenas de hotéis de grande porte justamente em cima delas.
Na Praia da Baleia, litoral oeste do Ceará, dunas são cercadas
Na praia da Baleia, litoral oeste do Ceará, há uma cerca de quase cinco quilômetros de extensão com placas de projetos turísticos.
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Trata-se de uma área comprada há vinte anos, ao que parece, por um grupo italiano. Nela pretendem construir vinte e sete hotéis cinco estrelas! Quem nos falou sobre isto foi o professor Jeovah Meireles, da Universidade do Ceará (2006).
Segundo Meireles o Eia-Rima para este empreendimento omite que a área pertence a uma comunidade indígena, os Tremembés. Na região existem quatro cemitérios desta etnia. A cerca começa na praia da Baleia, e vai até as margens do rio Mundaú, uma das mais belas regiões de todo o litoral cearense.
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Vicente de Carvalho, primeiro a dizer não à privatização de praiasVila do Cabeço, SE, tragada pela Usina Xingó: vitória na JustiçaInvestimentos no litoral oeste do Ceará causam surto especulativoMas o problema não acontece apenas neste local, mas em quase todos onde existem dunas, com a praia do Batoque. Por não saberem a função principal das dunas, repositório de areia, casas acabam soterradas.
O mesmo aconteceu no Balneário Hermenegildo, no Rio Grande do Sul, ou nas dunas da praia do Campeche, em Santa Catarina, entre muitos outros.
Dunas são APPs, Áreas de Preservação Permanente, mesmo assim são ocupadas
Mas não é só. Mundaú é mais uma APP, Área de Preservação Permanente, por ser formada por dunas, e ter ainda lagoas, pequenos canais etc. Um ecossistema de biodiversidade exuberante, e de subsistência para as comunidades da região. Por serem APPs deveriam ser poupadas. Deveriam…
Mas em Mundaú querem erguer mais quatro hotéis de luxo. Precisa tanto? Não me parece. Temo pelo futuro do deslumbrante litoral oeste do Ceará. E percebo que no meio acadêmico há controvérsia.
Alguns acham que o processo de ocupação tem anomalias, mas está sob controle. Outros afirmam exatamente o contrário, e acusam os primeiros de estarem a serviço de grandes grupos, prestando serviços ou assessoria. E você, arrisca um palpite?
Na última viagem do Mar Sem Fim estivemos novamente em Mundaú. Não, os hotéis não foram construídos. Mas conseguiram detonar a beleza das dunas instalando em cima delas enormes torres eólicas. Precisava assim tão próximo do mar?
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No Espírito Santo o mesmo resultado: a vila de Itaúnas foi soterrada!
Chegamos em Riacho Doce no começo da tarde. Nossos últimos quilômetros foram feitos em chão batido já que o asfalto só chega até Barra da Conceição.
De lá pegamos uma estradinha que leva inicialmente até Itaúnas, pequena cidade que ainda guarda o traçado original dos jesuítas, em forma de Quadrado, com uma igreja numa ponta e as casas em volta.
Ali pudemos ver novamente a resposta da natureza ao mau uso da terra. A antiga vila de pescadores foi coberta por dunas de até 30 metros de altura e teve que mudar de lugar. De tanto cortarem a vegetação que as fixava, a areia acabou enterrando as casas, como nos explicou a professora Jacqueline Albino UFES.
O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses
A UC, com seus 150 mil hectares, tem o tamanho da cidade de São Paulo. O campo de dunas imenso, pode medir até 25 quilômetros de extensão, da praia para o interior. E algumas atingem 40 metros de altura. O conjunto é de arrepiar. Bonito, exótico, diferente.
O colorido é outro atrativo. Na melhor época para as visitas, de maio até outubro, é muito raro não ter um céu aberto, sem nuvens, de um azul espetacular. As lagoas, com água muito limpa, são formadas pelas chuvas (que ocorrem de dezembro até maio) e pelo afloramento do lençol freático.
O nome Lençóis vem do fato das dunas, com suas curvas sinuosas e alturas diferentes, lembrar um lençol estendido na cama. Sua formação, incomum pelo tamanho, deve-se à proximidade do Delta do Parnaíba, que fica ao lado.
No Litoral do Rio Grande do Sul a resposta foi a mesma: erosão
De Torres até o final da restinga que separa a Lagoa dos Patos do mar, a planície costeira gaúcha foi ‘premiada’ com reflorestamentos feitos em áreas de dunas.
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Para tanto os alagados, atrás das dunas, foram drenados! Esta ação desastrada trouxe duas sérias implicações. A vegetação que fixava as dunas frontais na costa do estado, morreu sem a água. Agora quando entra o ‘nordestão’ suas areias voam para o interior.
Ao mesmo tempo, um sem-número de animais, especialmente mamíferos, anfíbios e répteis que habitavam as áreas úmidas, diminuiu drasticamente. E a erosão come solta, vide Hermenegildo.
O Parque Nacional da Lagoa do Peixe, RS
A área do Parna da Lagoa do Peixe tem 34.400 hectares (algo como 70 mil campos de futebol). Ele é formado por dunas móveis, praias, banhados, falésias, mata de restinga, e uma lagoa. A paisagem é de tirar o fôlego. E além disso, é frequentado por milhares de aves num frenesi gastronômico bem na sua frente.
Algumas vêm do Alasca, como os maçaricos, por exemplo. Outras voam da Patagônia até o Parna, são os flamingos. Ali as aves se alimentam, para em seguida retornarem a seus locais de origem. Mas as lagoas do parque estão sendo assoreadas em razão do fim da vegetação que cobria as dunas.
Deslocamento de dunas no litoral brasileiro
“Há áreas bastante ameaçadas pelo avanço ou deslocamento das dunas, como por exemplo em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, Mangue Seco na divisa dos estados da Bahia e de Sergipe, e Itaúnas no Espirito Santo. Isso modifica e destrói todo o ecossistema adaptado a essas localidades, além de sujeitar os seres humanos a graves perigos.
Dunas, importante ecossistema
“São consideradas importantes ecossistemas por abrigarem uma diversidade biológica ímpar, composta por uma flora rica em espécies e uma fauna constituída por insetos, répteis, anfíbios, pequenos mamíferos e por algumas espécies de aves marinhas que utilizam as dunas para construírem seus ninhos.”