Dieta vegana pode ajudar a salvar o planeta? Novo estudo diz que sim…
As graves questões do clima, a quantidade assombrosa de habitantes do planeta, próxima a 8 bilhões de pessoas, os usos e costumes de consumo insustentáveis da nossa geração, têm feito com que parte da população procure mudar de hábitos para diminuir sua pegada, ou impacto ambiental. Este site já abordou inúmeras destas questões. Mas nunca comentamos a novidade que tem crescido nos últimos anos, a mudança nos hábitos alimentares. O Mar Sem Fim fez uma varredura do assunto na internet. Descobrimos novos estudos, e muitas matérias da grande imprensa. A seguir, um arrazoado do que vimos. Comer uma dieta vegana pode ser a “maior maneira” de reduzir seu impacto ambiental na Terra, sugere um novo estudo. Pesquisadores da Universidade de Oxford descobriram que o corte de carne e produtos lácteos da sua dieta pode reduzir a pegada de carbono (em alimentação) de um indivíduo em até 73%.
Diferença entre vegetarianos e veganos
Antes de avançar, apenas um rápido comentário sobre as diferenças entre os vegetarianos, e os veganos. A principal diferença é que os últimos não consomem nada que tenha origem animal. Seja em sua alimentação ou outros produtos, como artigos para higiene, limpeza, vestuário ou remédios. Já os primeiros, não comem carne, peixe e aves. Mas consomem outros produtos de origem animal. Pesquisas apontam que há no Brasil 21 milhões de pessoas que adotaram estas dietas. Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), há 16 milhões de vegetarianos, e 5 milhões de veganos.
A dieta vegana e o uso global de terras agrícolas
Enquanto isso, se todos parassem de comer esses alimentos, a pesquisa descobriu que o uso global de terras agrícolas poderia ser reduzido em 75%, uma área equivalente ao tamanho dos EUA, China, Austrália e UE juntos. Isso não apenas resultaria em uma queda significativa nas emissões de gases de efeito estufa, mas também liberaria a terra perdida para a agricultura, uma das principais causas da extinção da vida selvagem. O novo estudo, publicado na revista Science, é uma das análises mais abrangentes até hoje sobre os efeitos prejudiciais que a agricultura pode ter sobre o meio ambiente e incluiu dados de quase 40.000 fazendas em 119 países.
A produção de carne e as emissões
As descobertas revelam que a produção de carne e laticínios é responsável por 60% das emissões de gases de efeito estufa da agricultura, enquanto os próprios produtos fornecem apenas 18% das calorias e 37% dos níveis de proteína em todo o mundo. Os pesquisadores examinaram um total de 40 produtos agrícolas, cobrindo 90% de todos os alimentos consumidos.
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Uma dieta vegana é provavelmente a maior maneira de reduzir seu impacto no planeta Terra, não apenas os gases de efeito estufa, mas a acidificação global, a eutrofização, o uso da terra e o uso da água. É muito maior do que reduzir seus voos ou comprar um carro elétrico.
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‘Produção sustentável’ é contestada
Poore também explicou que mesmo os métodos de produção considerados como sustentáveis, como a criação de peixes de água doce e a carne de animais criados em pasto, podem causar problemas ambientais.
Converter grama em [carne] é como converter carvão em energia. Ele vem com um imenso custo nas emissões
Apesar do novo estudo, nem todos concordam que uma dieta vegana possa ajudar o meio ambiente
Há sempre dois lados numa história. Acima, está a posição dos veganos, abaixo, a dos que não concordam. Um deles é o Dr. Jimmy Smith, diretor geral do International Livestock Research Institute. Ele escreveu artigo contestando os veganos no The Guardian. Alguns argumentam que, devido à sua baixa pegada ambiental, o veganismo é a melhor escolha para alimentar a crescente população mundial. Uma pesquisa publicada nos EUA comparou 10 padrões alimentares diferentes e concluiu que dietas que incorporam alguns alimentos de origem animal (especialmente leite e ovos) usam menos terra do que sua alternativa vegana.
Áreas de pastagens também sequestram dióxido de carbono
Isso ocorre porque dietas mais inclusivas fazem o uso ideal de todas as terras existentes para alimentar as pessoas. Isso inclui terras agrícolas e pastagens onde grãos e feno podem ser cultivados para alimentar o gado. Uma grande quantidade de carne e leite que permaneceria improdutiva em um contexto vegano é produzida nessas áreas marginais. Por exemplo, 60% da África Subsaariana é coberta por terras secas onde a pecuária é a principal e muitas vezes a única opção de uso da terra disponível. Décadas de pesquisa demonstraram que os níveis médios de pastagem de gado, em vez de nenhum, são melhores para a saúde, produtividade e biodiversidade desses pastos. Quando bem administradas, essas áreas também sequestram grandes quantidades de carbono em seus solos.
As sobras alimentares
Pessoas em países de alta renda poderiam fazer muito para reduzir seu impacto na dieta do mundo. Eles poderiam moderar a ingestão de todos os alimentos e reduzir a quantidade que desperdiçam, por exemplo. Os resíduos alimentares representam até 50% da produção total a nível mundial e 7% do total de emissões de gases com efeito de estufa.
‘Pecuária essencial para os mais pobres’
Acima de tudo, a pecuária é essencial para muitas das pessoas mais pobres do mundo. Não pode simplesmente ser deixada de lado. Nas economias de baixa e média renda, onde a pecuária representa 40-60% do PIB agrícola, os animais de fazenda fornecem subsistência para quase 1 bilhão de pessoas, muitas das quais, mulheres. Para aqueles que de outra forma teriam que subsistir em grande parte em grãos e tubérculos baratos – arriscando a desnutrição e crianças raquíticas – o gado pode fornecer alimentos ricos em micronutrientes e ricos em energia. Alimentos de origem animal são especialmente importantes para mulheres grávidas, bebês em seus primeiros 1.000 dias de vida e crianças pequenas.
Desafios da pecuária
Como qualquer outro setor, a produção pecuária enfrenta desafios. É um grande usuário de água e outros recursos naturais, e suas emissões de gases de efeito estufa contribuem para as mudanças climáticas. Além disso, o consumo excessivo de alimentos de origem animal pode levar à obesidade e problemas de saúde; muitas doenças infecciosas humanas são originadas no gado e outros animais. Há também o uso excessivo de antibióticos em sistemas de produção intensiva de gado, e o bem-estar dos próprios animais, a considerar. Esses desafios, todos os quais estão sendo tratados hoje em iniciativas multi-institucionais, não devem nos persuadir a nos afastarmos da pecuária.
O contexto de excesso de comida
Muitas pessoas em países ricos que defendem o veganismo, ou mesmo qualquer outro tipo de dieta, fazem isso em um contexto de excesso de comida. Vamos lembrar das muitas outras pessoas que não são tão afortunadas. Seria uma tragédia se as boas intenções acabassem prejudicando algumas das pessoas mais vulneráveis do mundo.
‘Devemos superar a tentação de encontrar respostas simples’
Quaisquer que sejam nossas paixões e qualquer “lado” do debate vegano em que nos basearmos, devemos superar a tentação de encontrar respostas simples para os desafios de sustentabilidade. A pecuária demonizadora é uma dessas respostas simples equivocadas. Para alcançar um verdadeiro desenvolvimento sustentável, teremos que fazer bom uso da pecuária – e de todos os outros recursos naturais que temos à disposição.
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Dieta vegana e The Economist
The Economist é provavelmente um dos ícones da imprensa mundial. Eles produziram um vídeo com o mesmo título desta matéria. Muitos leitores não entenderam o sentido da matéria. São neófitos e, por não entenderem, agridem ou ridicularizam. Uma pena. Deveriam se informar mais para saber até onde vão os estudos recentes sobre os problemas de alimentação de um planeta cujos habitantes não param de crescer, e cuja agricultura e pecuária ainda tem muito a melhorar em seus sistemas. Assista, é mais uma chance de entender de que se fala.
E você, de que lado fica?
E então, observadas as duas posições, qual sua opinião? O veganismo seria a solução, ou não existem soluções fáceis? De que lado você está neste debate?
Fontes: https://www.independent.co.uk/life-style/health-and-families/veganism-environmental-impact-planet-reduced-plant-based-diet-humans-study-a8378631.html; https://www.theguardian.com/global-development/2016/aug/16/veganism-not-key-sustainable-development-natural-resources-jimmy-smith.
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