Desastre ecológico no Ribeira de Iguape pressiona o Lagamar
O mais importante berçário do Atlântico Sul segue pressionado por desastres ecológicos e inação do governo do Estado e ICMBio/Ibama. Não bastasse a abertura do Canal do Valo Grande, um canal que deveria ter quatro metros de largura por dois de profundidade, para encurtar o caminho do arroz ao porto, mas que a erosão transformou num super canal com 300 metros de largura que há séculos inunda o Lagamar com água doce sem que quase ninguém dê bola. Agora novo problema aconteceu no Ribeira de Iguape. O mais importante rio da região, e que despeja suas águas matando parte do mangue de Iguape, sofreu um grave derrame de óleo tóxico em 27 de junho. Portanto, agora o manguezal sofrerá ainda mais e, além dele, o mesmo acontece com as populações tradicionais que tiram do rio e do mangue o seu sustento. Até quando esta absurda situação persistirá, ninguém sabe.

O único governador que atuou na região foi Paulo Egydio Martins entre 1975 e 1979. Foi o único que mandou fechar o Valo Grande ainda que por pouco tempo em razão duma cheia que derrubou a barragem. Os outros ou ignoraram solenemente os problemas, ou fizeram firulas. Em outras palavras, maquiagem, e nada mais.
Em 2023 ambientalistas alertaram sobre o que iria acontecer
Dois anos atrás ambientalistas alertaram que o desastre no Ribeira de Iguape estava para acontecer. Rigorosamente, nada foi feito. Então, o que preveniram de fato aconteceu.
“A Prefeitura de Eldorado informa à população sobre um acidente ambiental ocorrido em Adrianópolis-PR, que resultou no vazamento de óleo no Rio Ribeira de Iguape. As autoridades ambientais já foram acionadas e a situação está sendo monitorada de perto.”
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Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Garopaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperança“Pedimos à população que evite qualquer contato com a água do rio até novo aviso. Em caso de manchas ou alterações, comunique imediatamente a Defesa Civil ou a Secretaria de Meio Ambiente.” Este é o teor do canal da prefeitura no Instagram. Não foi diferente na página que mantém no Facebook.
Omissão do governo do Estado e de parte da decadente imprensa
Agora fica a questão: alguém leu ou ouviu sobre isso na chamada ‘grande imprensa’? Mais uma vez, houve poucas exceções. E do governo de São Paulo, alguma menção? Zero apesar da gravidade do acidente. Parte da decadente imprensa prefere abrir espaço para participantes do BBB, atrizes que contam segredos de cama de seus maridos, ou polêmicas estúpidas produzidas por influencers nas redes antissociais.
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Quanto ao governo de São Paulo, tudo o que não tiver relação com as próximas eleições simplesmente vai parar na lata de lixo. É assim que funciona Pindorama.
Contudo, a prefeitura de Iporanga também avisou seus habitantes: “A Prefeitura de Iporanga informa à população sobre um acidente ambiental ocorrido em Adrianópolis-PR, que resultou no vazamento de óleo no Rio Ribeira de Iguape.”
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Eles preveniram que se tratava de risco iminente, um possível vazamento nos rejeitos da empresa Plumbum do Brasil Ltda., em Adrianópolis, Paraná.
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Ribeira de Iguape confirmou: “O material oleoso, ainda não identificado, vazou de uma área pertencente à antiga unidade industrial da empresa Plumbum do Brasil Ltda., localizada em Adrianópolis, no Paraná. Segundo o CBH-RB, há indícios de que a substância já atingiu o leito do Rio Ribeira de Iguape.
Aliás, isso não é nenhuma novidade. Como prova matéria da Revista Fapesp, de maio de 2010. Michel Michaelovitch de Mahiques, diretor do IO-USP e coordenador dos estudos feitos em Iguape, explicou os problemas ‘da empresa de mineração Plumbum, que funcionou de 1945 a 1995 em Adrianópolis, no Paraná’.
“Resíduos desse metal chegavam ao rio Ribeira de Iguape e eram transportados até a laguna, onde entravam pelo Valo Grande”, afirma Mahiques. ‘Com o fim da Plumbum, o teor de chumbo nos sedimentos caiu, mas ainda não retornou aos níveis de pré-atividade industrial: hoje é em média cinco vezes superior ao esperado para a região’.
O histórico irresponsável da Plumbum do Brasil Ltda.
Segundo a Fundação Fiocruz, “a Plumbum S.A. começou a explorar chumbo e prata em Adrianópolis e Cerro Azul a partir de 1954. Após cerca de 50 anos extraindo minério de chumbo e prata, a empresa encerrou suas atividades em 1995, deixando para trás um significativo passivo ambiental concretizado pela montanha de aproximadamente 350 mil toneladas de escória de minério de chumbo exposta a céu aberto, às margens do rio Ribeira do Iguape.”
Não foi a única denúncia. Em 2012 a Carta Capital alertou: “Os sintomas da intoxicação por chumbo e o descaso das autoridades sobre o problema são parte da rotina dos moradores de Santo Amaro da Purificação, região metropolitana de Salvador, na Bahia. E agora eles têm que conviver com o medo de ver a Companhia Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda, responsável pelo problema, retomar suas operações.”
“Há mais de 50 anos instalada em Santo Amaro da Purificação e destinando indevidamente lixo tóxico por 33 anos, a antiga Companhia Brasileira de Chumbo (Cobrac) deixou um legado de contaminação e abandono na cidade-natal de Caetano Veloso e Maria Bethânia.”
Para encerrar, em 2018 foi a vez do g1 noticiar: “A 11ª Vara Federal de Curitiba condenou a mineradora Plumbum a pagar R$ 40 milhões de indenização por danos ambientais e à saúde dos moradores de Adrianópolis, na Região Metropolitana de Curitiba.”
A posição da Sabesp
‘A Sabesp informa que não foram identificadas alterações nos monitoramentos realizados na água captada e distribuída aos municípios de Iporanga, Eldorado, Sete Barras, Registro, Ilha Comprida e Iguape. Todos os parâmetros de qualidade avaliados se encontram dentro dos limites permitidos pela legislação vigente’.
‘Sendo assim, não houve qualquer comprometimento no abastecimento de água potável’.
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Acontece que faz muito tempo que a Sabesp não está mais à altura do desafio que é cumprir sua missão . A esta altura, noite de quinta-feira, já se sabe que o vazamento é muito grave, ao contrário do que disse a empresa!
Ibama chega atrasado
Para piorar, ficamos sabendo que, segundo og1,mais uma vez, o Ibama chegou atrasado. Em texto publicado na tarde de 2 de julho, o g1 informa que ‘o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) determinou a adoção imediata de medidas emergenciais da empresa Plumbum do Brasil Ltda. para contenção do vazamento de material oleoso no Rio Ribeira de Iguape, que passa pelos estados do Paraná e de São Paulo. As prefeituras orientaram os moradores a evitarem contato com a água do rio’.
Por que o Ibama não agiu antes uma vez que a mesma matéria revela que no dia 26 de julho, vamos repetir, ‘no dia 26 de julho, a secretaria de Meio Ambiente de Adrianópolis (PR) informou que o vazamento partiu da antiga empresa Plumbum do Brasil Ltda. e representava risco de contaminação nas cidades sob influência direta das águas: Itaoca (SP), Iporanga (SP), Eldorado (SP) e Adrianópolis (PR). Na ocasião, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) chegou a instaurar um procedimento’.
É assim que funciona o País que, em novembro, vai sediar a COP30 e que se julga líder climático no conserto da nações. Sei…na verdade isso é uma esculhambação total! Há muito barulho no exterior, discursos e cobranças, enquanto aqui quase nada é feito. A fiscalização segue precária e as equipes do Ibama e ICMBio, mínimas e sem recursos para cumprir corretamente suas obrigações ambientais.
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Você sabia que cientistas fizeram uma viagem de canoa pelo Mar da China Oriental para provar que os povos paleolíticos, 30 mil anos atrás, também as fizeram?